Mais dados, melhores dados, e mais precisos. É isto que pretende a Ordem dos Médicos, já que só assim será possível combater a pandemia de acordo com a sua evolução em cada concelho. Por outro lado, defende que apenas com informação clara se consegue a adesão das comunidades às medidas de prevenção.

Assim, a Ordem dos Médicos quer que o Governo forneça mais dados por concelho da evolução da pandemia e que os portugueses tenham acesso aos números que já são enviados para o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC). Em concreto, quer que seja divulgada a incidência a 14 dias dos novos casos por 100 mil habitantes e dos mapas de risco para todos os concelhos do país. O objetivo é que seja possível implementar medidas mais precisas para cada uma das zonas afetadas e facilitar a sua monitorização.

A proposta resulta de uma reunião extraordinária entre o bastonário, Miguel Guimarães, e o Gabinete de Crise para a Covid-19 da Ordem dos Médicos, coordenado por Filipe Froes. “Deveria e deverá haver informação para todos os concelhos. Informação atualizada, coerente e uniforme para justificar a adesão das comunidades locais e permitir monitorizar a evolução”, diz o pneumologista ao Observador. No comunicado final, saído da reunião de quarta-feira à noite, a Ordem pede também que sejam avaliados confinamentos seletivos. 

“Realço a importância da informação. Hoje passámos de 121 para 191 concelhos e em 70 concelhos passou-se da zona branca, da ausência de informação, para a zona vermelha”, sublinha Filipe Froes.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O pedido de mais dados não deve, no entanto, ser visto como um dedo acusador apontado ao Governo. “Não é uma crítica no sentido negativo. É uma crítica construtiva e sobretudo uma necessidade para percebermos as diferentes realidades e podermos atuar com coerência e uniformidade”, explica Filipe Froes que diz ser “curioso” que as autoridades de saúde enviem estes dados regularmente para o ECDC e não os disponibilizem aos portugueses.

A nível local, acrescenta o coordenador do gabinete de crise, “é fundamental conhecermos o Rt, o número de testes, a taxa de positividade dos teste, o número de novos casos e a sua caracterização demográfica, a demora no diagnóstico, o número de contactos e o intervalo de tempo para o seu rastreio, a percentagem de internamentos em enfermaria e unidades de cuidados intensivos e a duração entre o início de sintomas e o internamento, a taxa de letalidade, etc”.

Atualmente, e como refere o comunicado da Ordem dos Médicos, os atuais concelhos em estado de emergência apresentam uma grande variação dos indicadores epidemiológicos, e dados detalhados permitiriam intervir localmente de forma antecipada.

“As áreas a vermelho refletem várias realidades. Por exemplo, entre os 240 e os 480 novos casos por 100.000 habitantes nos últimos 14 dias, entre 480 e 720, mais de 720 e mais de 960. São realidades muito diferentes que estão a ser abordadas com as mesmas medidas. É necessário uma maior precisão de intervenção, sempre com o imperioso apoio do poder local, que nas regiões com nível de atividade superior a 480 deve antecipar confinamentos seletivos”, defende Filipe Froes.

Focando-se ainda na atuação local, e mais precisa, os médicos pedem ao Governo que avalie confinamentos seletivos. Assim, deveria ser possível “antever a necessidade de confinamentos seletivos por NUTS (Nomenclatura das Unidades Territoriais) a nível regional durante, no mínimo, 2 a 3 semanas”, lê-se no comunicado. Nestes casos, a Ordem defende que se privilegie a manutenção da atividade de alguns sectores, como do comércio de bens essenciais, das creches e do ensino pré-escolar e primário, mas sempre ajustado ao nível de risco.

“Toda esta intervenção dever ser atualizada, monitorizada e explicada com coerência e uniformidade. Nenhuma região e nenhuma pessoa devem ser privados da informação relativa ao nível de risco e de atividade pandémica local. Só assim se podem precaver e fazer parte da solução”, conclui o pneumologista.

A mensagem da Ordem dos Médicos é divulgada no mesmo dia em que o Conselho de Ministros se reuniu para reavaliar a lista dos municípios de risco que passou de 121 para 191.

Leia aqui o comunicado da Ordem dos Médicos na íntegra

“Antecipar para Vencer”

O Bastonário e o Gabinete de Crise para a Covid-19 da Ordem dos Médicos, reunidos extraordinariamente para avaliar o crescimento exponencial da atividade na 2.ª onda pandémica e as graves repercussões no SNS e na vida social e económica do país, vêm realçar o seguinte:

  1. Reforçar que as estratégias de intervenção e de combate à pandemia necessitam de informação atualizada de qualidade, transparente, coerente e uniforme, indispensável à mobilização e envolvimento da população;
  2. Solicitar, à semelhança do que é enviado para a agência europeia European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC), a divulgação da incidência a 14 dias dos novos casos por 100.000 habitantes e dos respetivos mapas de risco para todos os concelhos nacionais, fundamental para a implementação de medidas mais precisas, a sua monitorização e a intervenção determinante do poder local e autárquico;
  3. Alertar para que os atuais concelhos em estado de emergência apresentam uma grande variação dos indicadores epidemiológicos (por exemplo, entre os 240 e os 960 novos casos) e que a disponibilização destes indicadores é crítica para uma intervenção local e regional baseada na antecipação, no conhecimento, na transparência e em articulação com os outros países europeus;
  4. Antever a necessidade de confinamentos seletivos por NUTS (Nomenclatura das Unidades Territoriais) a nível regional durante, no mínimo, 2 a 3 semanas, privilegiando a manutenção da atividade, ajustada ao nível de risco, dos sectores primários e  secundários, do comércio de bens essenciais, das creches e do ensino pré-escolar e primário;
  5. Garantir os meios necessários à implementação das medidas de prevenção e controlo, nomeadamente nos transportes públicos, bem como, fiscalizar o seu correto cumprimento;
  6. Esclarecer com urgência a discrepância de valores da capacidade total do SNS, nomeadamente a nível de internamento em enfermaria e em cuidados intensivos;

Terminamos reiterando a mensagem de serenidade e de responsabilidade essencial à adesão e cumprimento das medidas de proteção individual e coletiva. Só, assim, é possível achatar a 2.ª onda e minimizar o impacto desta avassaladora crise sanitária.