Inseparáveis desde que há cerca de dois anos conseguiram vaga no lar de Nossa Senhora da Conceição, em Ponte de Lima — ou ficavam num quarto de casal ou desistiam da inscrição —, Casimiro Melo Dias e Rosa Dantas acabaram por morrer no mesmo dia, à mesma hora, depois de pela primeira vez em anos terem estado afastados durante mais do que meros minutos: ela deu entrada no hospital no passado dia 5 de novembro, com complicações relacionadas com a Covid-19, ele foi internado quatro dias depois.

“Marido e mulher, de 89 e 90 anos, morreram, na quinta-feira, à mesma hora, no hospital de Santa Luzia”, em Viana do Castelo, tinha anunciado esta sexta-feira à Lusa o diretor da instituição. “Já viviam juntos há muitos anos, é uma história de amor até ao fim”, disse entretanto Agostinho Freitas ao Observador.

Casados em segundas núpcias (ele tinha uma filha, ela um filho, que antes da pandemia os visitava frequentemente no lar), Casimiro e Rosa, naturais de Fornelos, dividiam, desde há algum tempo, um quarto no piso térreo do lar. “Já quando entraram na instituição uma das condições que puseram foi que não fossem separados. Inicialmente estavam num piso sem elevador, mas como ele era uma pessoa debilitada, que às vezes precisava de ir ao hospital, queríamos trazê-los para baixo. A Dona Rosa nunca permitiu, só quando houve vaga num quarto de casal é que aceitou que se mudassem”, conta ao Observador Glória Alves, a encarregada do lar de Nossa Senhora da Conceição. “Ela não o largava para lado nenhum, acho que aquilo era mesmo um amor muito forte que existia ali.”

Casimiro Melo Dias, de 89 anos, estava acamado. Ao longo do ano e meio que conviveu com o casal no lar, a encarregada nunca o ouviu pronunciar uma única palavra — não que isso alguma vez tenha demovido Rosa de conversar com o marido. “Estava sempre a perguntar-lhe se estava bem, se precisava de alguma coisa, eu nunca vi reação da parte dele, mas acredito que ele sentia a presença dela. E ela dizia isso também.”

De personalidade reservada, Rosa Dantas, de 90 anos, mantinha-se ativa e capaz de participar nas atividades do lar. Por não querer deixar o marido sozinho, só se punha a caminho do refeitório quando sabia que as refeições já estavam a ser servidas e assim que acabava voltava para o quarto. “Ela andava, fazia as coisas dela e movimentava-se bem, mas raramente ia à sala, participar nas atividades. Às vezes, quando insistíamos muito, ia à aula de fisioterapia, em que estavam sempre todos na brincadeira a fazer exercício, mas passado um bocado já estava no quarto. Fazia questão de o acompanhar”, recorda Glória Alves esta sexta-feira, dia do funeral do casal. “Juntos na vida e juntos na morte.”

Foi durante a semana passada que o lar de Nossa Senhora da Conceição registou a primeira morte associada ao surto de Covid-19. Ao todo, contando com Casimiro Melo Dias e Rosa Dantas, já morreram três utentes da instituição, onde, num universo de 63 utentes, só dois não estão infetados com o novo coronavírus. De entre os 40 funcionários do lar, 16 estão também infetados com o SARS-CoV-2.

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