“Todos os partidos têm o mesmo direito de viabilizar governos.” Foi a primeira vez que o Presidente da República se pronunciou sobre a solução governativa para os Açores, que deu posse ao líder da segunda força mais votada nas eleições, sem que a mais votada tivesse antes tido essa possibilidade. “Respeitou a Constituição”, garantiu Marcelo Rebelo de Sousa, já que apesar de não o ser o mais votado, foi dada posse ao Executivo com “maioria parlamentar”. Marcelo falava aos jornalistas esta sexta-feira antes de reunir-se com empresários do turismo da zona Centro. Apesar disso, o Presidente sublinhou que esta não é a solução ideal e lembrou qual a sua posição sobre partidos anti-sistémicos.

“Uma coisa é ‘ter de’ outra é ‘gostar de’. E no ‘ter de’ esta era a única solução constitucional. ‘Gostar de’ é uma coisa diferente e nem o representante da República nem o Presidente da República têm de gostar ou não”, detalhou Marcelo.

O PS foi o partido mais votado nas eleições dos Açores, mas perdeu a maioria no parlamento regional. José Manuel Bolieiro (PSD) acabou indigitado presidente do Governo Regional dos Açores, graças a um entendimento à direita: uma coligação governamental PSD-CDS-PPM, com acordos parlamentares com Chega e Iniciativa Liberal. A presença do Chega no entendimento tem sido criticada, tanto à direita como à esquerda, e o primeiro-ministro acusou mesmo o PSD de ter “ultrapassado linhas vermelhas” ao fechar um acordo com um partido de “extrema direita xenófoba”.

Marcelo precipitou governo de direita nos Açores

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Sem nunca se referir ao partido em questão, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que todos conhecem a sua posição, dada no discurso de 25 de Abril de 2018 na Assembleia da Republica, “que é uma posição antiga, sobre partidos anti-sistémicos”. O Presidente, que há dois anos explicou o que estes partidos “significam e que consequências trazem”, resumiu a sua posição em três ideias: “Há que prevenir o seu aparecimento evitando as causas de insatisfação que os justificam; é de evitar a proibição na secretária; e há que combater as ideias.”

Marcelo disse ainda que gostou da transição pacífica, civilizada e rápida encontrada no arquipélago. De resto, sublinhando “não ser a solução ideal”, garante que não encontrou nada nos acordos que fosse contra a Constituição. “É uma opção dos partidos, tem vantagens e há preços”, concluiu, lembrando que provavelmente Cavaco Silva também não gostou da solução de 2015.

Nesse ano, o então Presidente da República deu posse a um governo de Pedro Passos Coelho que acabaria por cair no Parlamento, dando lugar ao primeiro Governo de António Costa, depois de o PS assegurar acordos parlamentares com PCP e BE.