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Como se grava um set no topo do Campo Pequeno? Branko explica

Este artigo tem mais de 3 anos

O músico subiu à cúpula da sala onde atua no dia 20 porque continua "à procura de outros ângulos". Mostramos-lhe o vídeo e contamos-lhe como tudo aconteceu.

Branko quer "continuar a celebrar a cultura no meio de toda esta confusão que está a acontecer”, diz-nos
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Branko quer "continuar a celebrar a cultura no meio de toda esta confusão que está a acontecer”, diz-nos

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Branko quer "continuar a celebrar a cultura no meio de toda esta confusão que está a acontecer”, diz-nos

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

É de manhã. Uma quinta-feira normal no Campo Pequeno, em Lisboa. Pessoas a caminho do trabalho, desportistas a esticar as pernas, miúdos a usar máscara a contragosto. A vida corre como é suposto que aconteça quando seguimos o calendário de uma pandemia e quando a roda precisa de continuar a girar. Lá bem no alto, na cúpula de um recinto habituado a concertos e touradas, está Branko, one man show, de auscultadores e kit técnico com mesa e tablet, concentrado, a sentir o beat e de olhos postos numa cidade que não tem tempo para parar, a não ser que lhe roubem o tempo. Um silêncio na terra, uma explosão de sons no céu, ainda que o mensageiro seja, naquele momento, o único que a consegue ouvir.

A escassos metros daquele set está um drone, que tem sido um dos grandes companheiros do produtor musical, compositor, DJ e explorador de uma música portuguesa-africana-latina contemporânea. Neste novo anormal, nas várias viagens (e experiências audiovisuais) que João Barbosa tem feito ao lado de outros artistas (Pedro Mafama ou Rita Vian são alguns dos melhores exemplos), a paisagem e a música têm alimentado a mania de se misturarem. Agora, quase cinco meses depois da última vez que pisou um palco, Branko está finalmente de regresso às atuações ao vivo. Mas antes, como faz tudo sozinho — ainda que tenha uma equipa para o ajudar, nem que seja para controlar o dito drone — tem de terminar este set.

[veja aqui o set de Branko no topo do Campo Pequeno:]

Entre assobios de baixo para cima, sinais de mãos, algum calor e suor, aqueles dez minutos ficaram gravados. Missão cumprida, a partir de uma ideia que surgiu do próprio, uma espécie de “e se fizesse um set ali em cima?”. Depois da epifania, foi preciso pouco mais de uma semana para a concretizar. E o resultado final é uma espécie de cartão de visita para o concerto da próxima sexta-feira, no mesmo recinto, integrado no projeto “2020 Cultura Para Todos — Santa Casa Portugal Ao Vivo”.

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Cá em baixo, com os pés na calçada, tudo igual: a rotina lisboeta tem horários para cumprir, dos idosos a ler o jornal aos empregados que ultimam os preparos para abrir os restaurantes.

“Nem separei muito as vagas, foi sempre a mesma mudança do carro. Não chegou a ir a ponto morto, nem tivemos direito a um intervalo. Acho que o estado de espírito das pessoas neste concerto vai ser relativamente parecido ao de julho, o que muda é a música ser nova, ter um set um bocadinho mais pensado e diferente. Mas vai continuar a ser uma celebração da cultura no meio de toda esta confusão que está a acontecer”.

Entre arrumar o material, tirar a fita cola que evitava quedas graves e descer a escada em caracol da cúpula, é assim que Branko olha para este regresso, em conversa com o Observador, que foi espreitar os bastidores deste set.

Dessas viagens que fez pelo país — e que começaram na fase mais forte do confinamento, com um live a partir de casa, transformando a sua sala numa cabine de DJ —, o produtor musical aproveitou para construir uma outra narrativa “rodeado de portugalidade”, prestando mais atenção aos ritmos da música tradicional portuguesa como fez no início do ano com “Vinte Vinte” (colaboração com Ana Moura e Conan Osiris), num trabalho orgânico que “ganhou vida própria”.

Branko, que “não tem vertigens”, parece que veio só para mais um dia de trabalho num escritório bem alto ao ar livre

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

“Foi a forma que arranjei para falar de música e dar-lhe contexto. Sinto que tenho uma relação mais aprofundada com Portugal. Tem sido um passo em frente, que começou em casa, depois com um set num telhado em Lisboa e por aí fora. Procurar outros ângulos, outras formas de olhar. Vou continuar nessa busca”, diz.

Com esta ligação forte às redes sociais, Branko aproveita para dar conhecer novos artistas e desmembrar a sua música — chegando até à Serra da Estrela —, que tanto pode ir parar a uma playlist do Spotify, como a um vídeo (que já lhe foi enviado) de alguém numa loja a ouvir um edit de vários dos seus sets. “Não consigo pensar se a música se adequa mais ou menos a algum sítio. Quero tocar versões diferentes, quer tenhas o telemóvel ligado à aparelhagem em casa, ou se estiveres a trabalhar”, afirma. Ou quer se esteja numa cúpula de um edifício do século XIX a ouvir música eletrónica, pois claro.

Porque ainda que a música esteja à procura de uma ideia de normalidade, Branko sabe que a pandemia pode beliscar um percurso trilhado pelos agentes que a fazem e dela vive, em particular pela sua editora, a Enchufada.

“Se calhar perdemos, nos últimos três meses, o grande projeto de música portuguesa dos próximos dois anos. Ninguém sabe”, conta. A internet permite dar a volta, apresentar novos projetos, usar o Youtube para atrair publicidade e monitorizar artistas, chegar a outros públicos sem lhes sentir realmente o pulso. Mas “tanto um concerto de fado no Royal Albert Hall como um do DJ Marfox no Fabrik, sendo diferentes, vivem do momento e da energia do espaço”, diz.

Mesmo assim, a Enchufada, que já mantinha um grande foco no digital, conseguiu continuar dentro do mercado, com o lançamento do Volume II da Enchufada na Zona ou do disco de estreia de PEDRO (“Da Linha”) em março, quando o cenário de pandemia se começava a compor. “Existe essa vontade das pessoas, mesmo não estando a ir a concertos. A música é um vício”.

“Tanto um concerto de fado no Royal Albert Hall como um do DJ Marfox no Fabrik, sendo diferentes, vivem do momento e da energia do espaço”

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Branko, que “não tem vertigens”, parece que veio só para mais um dia de trabalho num escritório bem alto ao ar livre. Se estava ansioso por estar prestes a voltar aos palcos, não se notou. Ao contrário de quem está lá em baixo, em piloto automático, quase frenético, na cúpula, quando o set termina, ainda há tempo para o saborear. O artista sabe que as regras do jogo mudaram, especialmente as de saúde, mas isso não o impede de acreditar que é possível consumir música ao vivo com a máxima segurança. Isso e manter as colaborações com outros artistas, em salas separadas, de máscara — “tudo é possível”.

Falta só um set debaixo de água, pensará, já que é um grande adepto de mergulho com botija. “Vai ser complicado, mas estou aberto a tudo. Uma das coisas de que mais gosto quando estou debaixo de água é a ausência de som. Quando estou cá fora, estou sempre a juntar sons e ritmos, às vezes até a andar, com as calças a roçar, fico ali a pensar, é meio constante e cansativo. Debaixo de água, não acontece”. Afinal, Branko também tem tiques nervosos de pessoa normal, como as que nem pararam para ver o espetáculo silencioso por cima das suas cabeças. Não é por tocar perto do céu que deixou de ser humano e que deixou de ter vontade que tudo isto volte ao que era. Se calhar tem mais. Se calhar temos todos.

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