Um superdesportivo é baixo e leve, um SUV alto e pesado. Agora imagine-se uma marca cuja reputação foi construída com os primeiros a ter de fazer os segundos: as regras do jogo mudam por completo, na certeza de que os clientes vão querer continuar a ter um veículo ágil, de elevadas performances. Só que isso também não se resolve (só) com um V8 ou um V12, pois as regras antipoluição apertam e os próprios consumidores procuram soluções tecnicamente mais sofisticadas, por via da electrificação. É nesta encruzilhada que a Ferrari se encontra, tendo ali ao lado, na Lamborghini, o exemplo flagrante de como fazer disparar as vendas.

Eternas rivais, a Lamborghini foi a primeira a chegar à corrida e “resolveu o assunto” com o que diz ser (e é) um “super SUV”. Acontece que o Urus mais que duplicou as vendas do fabricante de Sant’Agatha Bolognese, ainda sem qualquer tipo de apoio eléctrico, mas a Ferrari não pode dar-se a esse luxo, pois vai lançar o seu Purosangue cinco anos depois do Lambo, em 2022. E superar essa prova está a ser um verdadeiro desafio para a marca do Cavallino Rampante, conforme confessou o responsável técnico (chief technical officer, CTO) da Ferrari à Top Gear.

SF90 Spider. Ferrari perde a cabeça e o tejadilho

Michael Leiters, que foi em tempos responsável pelo programa de SUV da Porsche, admitiu à referida publicação que foi difícil conceber o recém-apresentado SF90, desportivo que o próprio descreve nesta entrevista como, “provavelmente, o carro mais complexo da história da Ferrari”. Porém, quando se fala no tão aguardado SUV, entra-se num território que levanta “outro nível de complicações”, num fabricante sem qualquer tipo de experiência nesta área. Há lacunas em termos de “cultura e procedimentos de testes”, aponta Leiters. Falhas essas que a própria Ferrari procurará sanar com a experiência que Leiters levou na bagagem, nomeadamente com o Cayenne e o Macan. Daí que o CTO se diga confiante de que, “quando chegar a hora”, a Ferrari vai conseguir provar que SUV e Ferrari não têm de ser uma “contradição”.

Resta aguardar (bastante), pois na estratégia da marca revelada em 2018, a apresentação do Purosangue estava programada para o final de 2022 e os modelos que têm sido vistos em testes sugerem que o estádio de desenvolvimento encontra-se muito em “bruto”, pois a carroçaria ainda é a do GT4Lusso. Do projecto pouco se sabe, excepto que o primeiro Ferrari com quatro portas será construído sobre uma nova plataforma com motor em posição central dianteira, atrás das rodas da frente, enquanto a transmissão de dupla embraiagem fica atrás para melhorar a distribuição de peso. Haverá pelo menos três opções de motorização, incluindo um conjunto híbrido. Além de um V6 e de um V8, espera-se que o topo de gama assente num V12 com mais de 800 cv. O facto de ser mais pequeno que o Urus pode jogar a favor da Ferrari.

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