A polícia deteve esta terça-feira várias pessoas e disparou gás lacrimogéneo em Atenas enquanto centenas de manifestantes desafiavam a proibição de reuniões com mais de três pessoas para comemorar o aniversário do levantamento estudantil de 1973 contra a ditadura militar. Alexis Tsipras, que lidera o principal partido da oposição, Syriza, esteve presente na manifestação.
A data de 17 de novembro marca o dia em que a revolta estudantil contra a junta militar que governava a Grécia foi esmagada pelas autoridades. A efeméride é assinalada todos os anos com cerimónias de colocação de coroas no Politécnico de Atenas, em homenagem aos que ali morreram, seguido por marchas até à embaixada dos Estados Unidos, que apoiaram a ditadura que governou a Grécia entre 1967 e 1974.
Porém, o Governo proibiu as marchas este ano, citando preocupações de saúde pública, enquanto o país luta para conter a propagação da Covid-19.
Um confinamento nacional foi imposto até ao final do mês, mas as autoridades aumentaram as restrições durante o aniversário do levantamento do Politécnico, proibindo reuniões de mais de três pessoas entre 15 e 18 de novembro.
Milhares de polícias foram posicionados em Atenas e em Salónica, no norte do país, para evitar as marchas.
Os partidos da oposição, de esquerda, condenaram a proibição, mas um recurso tardio no mais alto tribunal administrativo da Grécia, o Conselho de Estado, para declarar a proibição inconstitucional não teve sucesso.
Um sindicato apoiado pelo Partido Comunista e alguns outros partidos de esquerda desafiaram essa proibição. Uma reunião inicial do sindicato realizou-se esta terça-feira de manhã em frente à embaixada dos EUA, onde cerca de 200 pessoas que usavam máscaras marcharam em formação, mantendo o distanciamento social e cantando slogans como: “O Politécnico vive, fora com os norte-americanos”.
Os manifestantes reuniram-se também ao início da tarde no centro de Atenas, novamente mantendo o distanciamento social. Porém, com o aumento da tensão, a polícia deteve várias pessoas e mais tarde usou gás lacrimogéneo e um canhão de água para interromper a manifestação.
Na cidade de Salónica, no norte, cerca de 250 pessoas realizaram também uma manifestação fora do Consulado dos EUA, sem que tenha sido relatada violência.
O ex-primeiro-ministro Alexis Tsipras, que lidera o principal partido da oposição, Syriza, publicou uma fotografia sua a participar numa manifestação enquanto mantinha a distância social.
Com responsabilidade e cumprindo as medidas de proteção sanitárias, este ano voltamos a homenagear os mortos e as lutas do nosso povo pela democracia, independência e justiça”, afirmou nessa publicação.
“Nós quebramos a proibição que não tem sentido. A memória democrática e histórica não pode ser colocada em quarentena”, acrescentou.
Outros grupos de esquerda e anarquistas também prometeram desafiar a proibição de reuniões ao final do dia.
As marchas anuais no Politécnico costumam tornar-se violentas, com manifestantes a entrarem em confrontos com a polícia de choque.
O primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis, depositou uma coroa de flores no Politécnico de Atenas esta terça-feira de manhã, acompanhado por um forte dispositivo de segurança.
“Cada aniversário importante ganha um novo significado com as condições em que é celebrado”, apontou Mitsotakis, acrescentando que as prioridades atuais são proteger a saúde pública e mostrar solidariedade com os jovens afetados pela crise financeira.
A Grécia está em confinamento até 30 de novembro, enquanto as autoridades lutam para conter o ressurgimento do novo coronavírus, que causou um aumento de infeções em todo o país. No domingo, a Grécia registou o maior número de mortes por Covid-19 num único dia com 71 óbitos confirmados.
A nação da União Europeia de 11 milhões de habitantes tem agora mais de 76.000 casos confirmados e mais de 1.100 mortes, enquanto as Unidades de Cuidados Intensivos estão com 78% de ocupação.
A pandemia de Covid-19 provocou pelo menos 1.328.048 mortos resultantes de mais de 55 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.