Em outubro de 2018, há dois anos, Caroline Wozniacki anunciou que sofria de artrite reumatóide. Diagnosticada poucos meses antes, a então número 3 do ranking WTA, antiga líder dessa mesma classificação, garantia que ia passar o resto do ano a aprender a lidar a doença. E deixava a garantia de que não iria terminar a carreira devido ao problema de saúde. “Nada me vai fazer parar. Vou trabalhar com isto e as coisas são assim. Eu posso fazer qualquer coisa”, dizia, há dois anos, Wozniacki.

A teoria, pelo menos aparentemente, durou até ao início de 2020. A dinamarquesa terminou a carreira no passado mês de janeiro, depois de ser eliminada na terceira ronda do Open da Austrália, e deixou para trás um legado que inclui 67 semanas enquanto número 1 do mundo, uma vitória no Grand Slam australiano, outra nas WTA Finals e duas finais do US Open. Na altura, tal como agora, não associou o adeus aos courts aos problemas de saúde. Mas a verdade é que, ouvindo Wozniacki falar, é praticamente impossível distanciar os dois.

Caroline Wozniacki revela que sofre de artrite reumatóide

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“Era algo de que já tinha falado com a minha família e o meu marido. Um dia, sentámo-nos e decidi que era o momento de fazer algo diferente”, explica a dinamarquesa em entrevista ao jornal Marca, onde revela ainda que uma das grandes preocupações que teve durante este processo foi com o pai, Piotr, que a treinou desde o início da carreira. “O meu pai é o melhor. Estava um pouco nervosa por ele porque tinha de procurar outro emprego depois de tantos anos comigo. Mas entendeu-me e disse-me que tinha de fazer o que quisesse com a minha vida, que a decisão era minha”, recorda a antiga tenista.

Wozniacki conta então que nunca olhou para a artrite reumatóide como um “handicap“, que aprendeu a viver com a doença e que o mais importante era “ouvir o corpo” — descansar um dia se não se sentisse bem ao acordar e esperar que o dia seguinte fosse melhor. Ainda assim, e apesar do otimismo, não esconde que o diagnóstico mudou por completo a vida que levava até então. “Passei a ser uma nova Caroline. Um dia queres levantar-te da cama e não consegues sequer mexer-te. És uma das melhores tenistas do mundo, és reconhecida pela tua capacidade atlética e não te mexes. Foi um choque não conseguir sequer mexer os braços. Mas encontrei um bom reumatologista e agora vivo uma vida normal — dentro do possível. Às vezes a doença toma conta de mim mas noutras alturas sou eu a vencer”, confessa a dinamarquesa, que agora se dedica à divulgação de informação sobre a doença em conjunto com associações e instituições.

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Apesar de “nunca dizer nunca” a um eventual regresso ao ténis, Wozkiacki garante que “não acredita” que possa voltar e que nesta fase só quer “viver de forma relaxada”. Prefere então falar sobre quem ainda lá está, sobre quem ainda compete — e aí, o primeiro nome que lhe salta à vista é o de Serena Williams, uma das melhores amigas que está a um Grand Slam de igualar o recorde astronómico de Margaret Court, que conquistou 24. “Toda a gente espera que ela, no mínimo, ganhe mais um. É óbvio que tem o jogo suficiente para o conseguir mas não vai ser fácil porque há muitas miúdas que jogam bem. Mesmo que não ganhe, já demonstrou que é a melhor tenista da história. Podemos sentir-nos sortudos porque a vimos jogar no nosso tempo”, diz a antiga atleta, que ressalva que é também “sortuda” por ter feito amigas num mundo tão competitivo.

“Tenho bastantes e mantenho contacto com muitas delas. Creio que é algo bonito, construir boas amizades quando viajas tanto e jogas tantos torneios. Mantenho contacto com as irmãs Aga e Ursula Radwanska, com a [Angelique] Kerber, a [Donna] Vekic e a Karolina Pliskova, que vejo muitas vezes quando está no Mónaco. A última com quem falei foi a Carla Suárez, por causa da doença [foi recentemente diagnosticada com linfoma de Hodgkin]. É uma grande pessoa e queria ter a certeza de que estava bem. Somos uma pequena família e estamos sempre disponíveis se alguém precisa de nós”, acrescenta.

Casada com David Lee, campeão da NBA pelos Golden State Warriors em 2015, Caroline Wozniacki vive agora entre o Mónaco, onde tem residência permanente, e os Estados Unidos, onde está a família do marido. Tem aproveitado para “fazer tudo o que não fazia quando jogava”. Pelo meio, é uma de vários atletas que nos últimos anos abandonaram as respetivas modalidades por problemas de saúde e complicações associadas ao esforço físico contínuo, a par de Andy Murray e Lindsey Vonn.