Rui Rio está apostado em enfrentar António Costa. E confiante que, desta vez, vai ganhar. O líder social-democrata acha que os socialistas não vão chegar até ao fim da legislatura e que está cada vez mais próximo de chegar a primeiro-ministro.

Em entrevista à TVI, Rio arriscou o prognóstico. “Não me parece fácil que a legislatura chegue até ao fim”, disse. Desafiado a dizer se sente que está mais perto de chegar a primeiro-ministro, o líder social-democrata foi perentório: “Sim”.

Sem nunca concretizar o calendário que tem na cabeça, e lembrando que não podem existir eleições antecipadas até meados do próximo ano, Rui Rio recusou qualquer ónus numa eventual crise política que venha a surgir. E até admitiu que, a médio prazo,  um orçamento de duodécimos seria melhor do que o Orçamento do Estado desenhado pelo Governo. “António Costa está totalmente nas mãos do PCP“, criticou o social-democrata

Sugerindo que o primeiro-ministro não tem revelado “estatura e frieza para nos governar”, limitando-se a distribuir dividendos aos parceiros de ‘geringonça’, aumentado despesa estrutural para lá do que o país aguenta, Rio atirou-se à jugular de António Costa: “O PS não aprendeu nada com José Sócrates“, disse.

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“O Chega é uma federação de descontentes”

O acordo entre PSD/Açores e o Chega/Açores dominou, naturalmente, uma parte da entrevista. Rui Rio negou várias vezes qualquer tipo de entendimento nacional com o partido de André Ventura e voltou defender as quatro condições negociadas entre os dois não ferem a matriz social-democrata.

Rui Rio acabou por confirmar outra notícia avançada pelo Observador: os sociais-democratas queriam que Vasco Cordeiro levasse o programa de governo a votos nos Açores e enfrentasse o chumbo parlamentar. Era, na ideia do PSD, o teste de algodão perfeito, a prova provada de que o PS não tinha condições para governar e que não existia uma maioria parlamentar alternativa à liderada pelo PSD. Com uma cereja no topo do bolo para os sociais-democratas: caso Vasco Cordeiro fosse indigitado presidente do Governo regional dos Açores, levasse o programa a votos e acabasse chumbado, contaria como um terceiro mandato (que significaria atingir a limitação de mandatos). O socialista ficaria, assim, impedido de se recandidatar mesmo que o seu terceiro governo só tivesse alguns dias.

Acabou por ser Pedro Catarino, representante da República e extensão de Marcelo Rebelo de Sousa nos Açores, a precipitar o processo e a exigir o acordo escrito. Sobre o papel de Marcelo, aliás, poucas palavras de Rio. “Têm de perguntar ao dr. Pedro Catarino. Aquilo que eu sei é que ele exigiu, preto no branco, o suporte parlamentar.”

Marcelo precipitou governo de direita nos Açores

Rui Rio também confirmou aquilo que o Observador escreveu a 12 de novembro: o PSD obrigou Ventura a clarificar referências a acordos nacionais. Ventura entrou em contacto com Adão Silva, líder da bancada parlamentar do PSD, para transmitir uma primeira versão do comunicado que o Chega ia enviar para as redações a anunciar o acordo alcançado nos Açores. A primeira versão desse documento foi enviada para trás por Adão Silva para que Ventura deixasse claro que não existia um entendimento nacional com o PSD. E assim foi.

“O SMS [de 6 de novembro, antes do anúncio do acordo] foi mandado para mim e eu entreguei ao líder parlamentar para tratar ele disso”, explicou Rui Rio, negando, mais uma vez, qualquer tipo de outra negociação da direção do PSD com a direção do Chega.

PSD obrigou Ventura a clarificar referências a acordos nacionais

Quanto ao resto, o líder do PSD voltou a admitir, no abstrato, dialogar com o Chega no futuro. Rui Rio, aliás, culpou António Costa por ter traçado uma “linha vermelha” ao centro, em 2015, quando definiu que o caminho do PS é com a esquerda e que o caminho do PSD é com a direita. Ora, nesse cenário, Rio disse por diversas vezes que o PSD não seria inteligente se recusasse o apoio e o voto do Chega em matérias onde os dois partidos são convergentes.

“Não podemos ser hipócritas. Se nos pedirem alguma coisa que não vá ferir o nosso programa porque havemos que dizer que não? Se qualquer um dos partidos, para votar a favor do programa, pedir aquilo que está perfeitamente coincidente com o nosso programa, acha que um partido minimamente inteligente diria ‘por favor não votes deste lado’?”, desafiou Rio.

Apesar da experiência açoriana, Rio mostrou pessimismo em relação à capacidade de moderação do Chega a curto prazo. “Vai estar tentado a pedir coisas que são inaceitáveis para o PSD”, reconheceu. No futuro, pode haver uma evolução. “O Chega é uma federação dos descontentes, o lugar geométrico onde se encontram os descontentes. É uma coligação pela negativa. O tempo vai obrigar o Chega a ser um partido pela positiva.”

Congresso comunista? “PCP é prepotente e arrogante”

Rio não poupou adjetivos sobre a organização ou não do congresso do PCP, agendado para 27, 28 e 29 de novembro. O social-democrata diz que “não consegue conceber” como é que o Governo autoriza um evento desta natureza e entende que é um “tiro no pé de todo o tamanho“. “Há o risco de os portugueses perderem todo o respeito pelo Governo”, aponta.

Quanto à posição dos comunistas, que recusam adiar o congresso em qualquer cenário, Rio acusou o PCP de ser “prepotente e arrogante“. “É o que sabemos”, criticou o líder social-democrata.

Mesmo apontando críticas à resposta que o Governo tem dado à pandemia, Rui Rio preferiu não apontar a porta de saída a Marta Temido. Mas também não a defendeu. “Quem sabe se a ministra tem condições é o primeiro-ministro. Faz o que muito bem entender”, sugeriu. E deixou um recado: apesar de fazer uma “avaliação negativa” do papel da Direção-Geral da Saúde (DGS) nesta crise sanitária, o social-democrata alertou para a possível tentação de António Costa para desculpar as próprias falhas.