A Ordem dos Enfermeiros manifestou-se esta quinta-feira “seriamente preocupada” com o aumento de casos de Covid-19 nos Açores, apontando “fragilidades” ao Sistema Regional de Saúde, agora “muito mais agravadas” com “a intensidade” do combate à pandemia.

“Sem dúvida que estamos seriamente preocupados e também porque já percebemos que há contágios em profissionais de saúde e nos Açores os recursos são muito limitados. Essa é uma das nossas grandes preocupações”, afirmou à agência Lusa o presidente do conselho diretivo regional da Ordem dos Enfermeiros dos Açores, Pedro Soares.

Os Açores têm atualmente 226 casos positivos ativos e 16 cadeias de transmissão ativas.

“Com o aumento que tem acontecido, principalmente nos últimos dias de contágio na população, aumenta também, e de forma considerável, a preocupação ao nível da Ordem dos Enfermeiros”, sublinhou Pedro Soares, que considera necessária “uma reação rápida” no sentido de mitigar o impacto desta segunda vaga de novas infeções, tendo como foco os utentes Covid-19, assim como os “não-Covid”.

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A Secção Regional dos Açores da Ordem dos Enfermeiros divulgou esta quinta-feira um documento com a sua visão para “uma atuação imediata, com vista a um controlo e gestão da saúde nos Açores” no contexto da pandemia, propostas que ao longo dos próximos dias irá fazer chegar ao novo Governo Regional e parceiros políticos.

Para o presidente da Ordem dos Enfermeiros dos Açores, “é fundamental responder à emergência da pandemia Covid-19 no imediato, garantir o acesso à saúde às pessoas com outras doenças e preparar o inverno e a primavera de 2021”, o que “não foi preparado em tempo útil”.

Na região, em termos de enfermagem, estamos nos mínimos e um enfermeiro contagiado é um enfermeiro a menos neste combate que tem de ser feito”, alerta Pedro Soares, reiterando “a urgência de uma operacionalização estratégica e assertiva no imediato, tendo em conta que as medidas implementadas atualmente revelam necessidade de reprogramação” para que a região “deixe de enfrentar um dos piores períodos de saúde pública da sua história”.

“Aquilo que nos chega por parte dos colegas no terreno é que a situação nos Açores está complicada e urge que toda a nossa população perceba que grande parte deste combate também está nas mãos da nossa população”, alertou.

O documento esta quinta-feira publicado pela Ordem dos Enfermeiros nos Açores apresenta propostas estruturadas em três pilares fundamentais: a gestão de recursos humanos, a responsabilização social e a coordenação efetiva.

No que diz respeito à gestão de recursos humanos, o plano foca-se “no objetivo de garantir que a atividade assistencial ao doente Covid é garantida, ao mesmo tempo que os circuitos não-covid são minimamente mantidos”.

Na vertente de responsabilização social, são defendidas “estratégias de comunicação que promovam a adesão voluntária da população à implementação de várias medidas, nomeadamente distanciamento físico, uso de máscaras, entre outras”.

Quanto à coordenação efetiva, pretende-se “garantir um posicionamento ativo e estratégico no terreno, promovendo a coordenação e partilha interpares, com ênfase no tempo de decisão e atuação”.

O documento defende um “reforço a nível dos centros de testagem”, tendo em conta “o desgaste muito grande” das equipas que atualmente estão naquelas estruturas, referiu Pedro Soares.

Há também uma necessidade de “aumentar a capacidade da Linha de Saúde Açores” e “garantir o acompanhamento aos lares dos idosos”, segundo o mesmo documento, que propõe a criação de um gabinete regional de crise.

Pedro Soares adiantou ainda que “oficialmente a Ordem nunca” recebeu informações das autoridades de saúde regionais sobre o número de enfermeiros infetados, mas segundo dados “que chegam do terreno existem dois enfermeiros para já infetados e pelo menos sete” daqueles profissionais de saúde estão “em isolamento” na região.