O secretário-geral do PCP louvou esta quinta-feira o exemplo de intelectual antifascista do dramaturgo Bernardo Santareno, no centenário do seu nascimento e 40 anos após a sua morte, em sessão pública no centro de trabalho Vitória, Lisboa.

Mesmo amordaçada e perseguida, a cultura e a intervenção crítica desenvolvem-se graças à tenacidade e coragem de um punhado de intelectuais antifascistas os quais, opondo-se aos desígnios retrógrados e antipopulares da camarilha salazarista, conseguiram, com a sua intervenção e luta, criar uma obra ímpar”, disse Jerónimo de Sousa.

Apontando Santareno, “entre esses intelectuais”, o líder comunista destacou que o autor “manteve sempre intervenção cívica, nomeadamente nas páginas da Seara Nova, identificando-se com as linhas programáticas da revista”.

“Queremos constituir na Seara Nova um núcleo de homens de boa consciência e vontade enérgica, dispostos a assumir perante a espoliação, a rapina, o egoísmo e a mentira nacionais uma violenta e sistemática atitude de protesto”, citou.

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Santareno escreveu ainda: “possam os homens de boas intenções de todas as pátrias erguer um dia, sobre um mundo que ainda hoje se debate em miseráveis disputas nacionalistas, o arco-de-aliança duma humanidade justa e livre, realizando na paz vitoriosa as conquistas da inteligência e da vontade desinteressada”.

Terá, igualmente, papel de relevo como um dos fundadores do Movimento Unitário dos Trabalhadores Intelectuais. Desempenhando a sua função criadora, os intelectuais democratas opõem-se à ditadura fascista dado que as suas posições ideológicas e o seu humanismo os mobilizam para a defesa dos ideais supremos da liberdade, do progresso e da paz”, elogiou o secretário-geral do PCP.

Jerónimo de Sousa lembrou que Santareno, “desde muito cedo desenvolveu a sua ligação ao PCP, trabalhando com muitos intelectuais comunistas, nomeadamente aqueles que mais diretamente estavam envolvidos nas artes do teatro e da literatura, como Fernanda Lapa, Rogério Paulo, António Rama, Mário Pereira, Urbano Tavares Rodrigues, Carlos Paredes”.

“Santareno foi vítima, como grande números de outros intelectuais seus contemporâneos, da feroz repressão da ditadura sobre a produção intelectual, mas nunca se amedrontou, nem a sua voz deixou de se manifestar contra o poder arbitrário do fascismo, defendendo sempre o  amor que sentia pelo povo, que sentia e pensava”, afirmou o líder comunista.

Bernardo Santareno, pseudónimo literário de António Martinho do Rosário foi médico de profissão, na área da psicologia e assumidamente homossexual.

Entre as suas obras, contam-se “O Crime da Aldeia Velha”, “António Marinheiro ou o Édipo de Alfama”, “O Pecado de João Agonia, “O Judeu”, “A Traição do Padre Martinho” ou “Os Marginais e a Revolução”, entre outras.