Mário Centeno voltou esta sexta-feira a salientar o que foi feito nos últimos anos para reforçar o setor bancário, precisamente a mesma linha de raciocínio semelhante à que sempre defendia quando era chamado, enquanto ministro das Finanças, para participar em conferências financeiras. Agora como governador do Banco de Portugal, Centeno continua a ajustar contas com esse passado que situa “no final de 2015”, quando “o sistema financeiro português estava subcapitalizado, com estruturas acionista instáveis, em incumprimento de planos de negócios e obrigações assumidas perante as autoridades”. “Hoje, ninguém reconhece estes problemas no sistema bancário português”, atira.
“A existência de um sistema financeiro saudável, robusto e dinâmico é fundamental para apoiar a economia, as empresas e as famílias e garantir o desenvolvimento económico e social do país”, começou por dizer Mário Centeno na conferência organizada esta sexta-feira pelo Dinheiro Vivo/TSF. E “Portugal tardou demasiado tempo em atuar nessa frente. Fê-lo depois da generalidade dos países europeus, no contexto das crises financeira e soberana, e isso teve consequências no apoio à economia, às empresas e às famílias na saída da crise” anterior, defende Mário Centeno.
A primeira vida de Centeno no Banco de Portugal (e o caminho sinuoso que o levou ao topo)
Depois, surgiu a inesperada crise pandémica, que coincidiu com a saída de Mário Centeno do Governo para, algumas semanas depois, passar para a liderança do Banco de Portugal. Mas “no período anterior à crise pandémica, acumulámos um capital de confiança, de redução do risco e até de partilha de risco que não podemos desbaratar”, afirma Centeno, referindo a Portugal e à perceção de risco nos mercados.
Centeno acrescentou que “a importância deste enquadramento foi evidente na reação ao surto pandémico, não apenas na dimensão do apoio, mas também na sua rapidez e abrangência. Esta resposta permitiu, até este momento, minimizar as implicações e a transmissão à estabilidade financeira”. Isto embora ainda esta semana documentos da Comissão indicarem que as medidas orçamentais de Portugal para responder à pandemia em 2020 foram das mais baixas (em percentagem do PIB) na zona euro.
Num discurso que está disponível, na íntegra, no site do Banco de Portugal, Mário Centeno comentou que, nesta crise, os bancos estão a “fazer parte da solução, não foram parte do problema”. “Mas o sistema financeiro enfrenta ainda enormes desafios”, sublinhou. “Temos que estar conscientes de que a médio prazo, o sobre-endividamento pode levar à redução do investimento, enfraquecendo a competitividade e o crescimento económico”, afirmou.
Mas “não chegámos à crise pandémica sem o trabalho de casa feito”, sublinhou o responsável, acrescentando que “podemos continuar a negar o país que temos, mas isso só ajuda os demais, não os portugueses”.
Numa segunda fase, o levantamento gradual das restrições à atividade económica levou a uma recuperação imediata e mais rápida e intensa do que o previsto. Apesar desta evolução positiva, e mesmo que não tivéssemos uma segunda vaga, podíamos dizer que a crise ainda não tinha acabado. Em qualquer caso, já é seguro dizer que criou legados para a estabilidade financeira a médio prazo.”
Porém, “o compromisso das autoridades orçamentais e monetárias europeias é o de se manterem atentas à evolução da economia e das suas vulnerabilidades. Estou certo que assim permanecerão”, salientou.