António Costa devia fazer um apelo ao PCP para adiar o congresso, afirmou este domingo Luís Marques Mendes no seu habitual espaço de comentário político na SIC, defendendo que o congresso não pode ser proibido, mas sim “adiado por iniciativa própria”. O congresso acontece de sexta a domingo em Loures, um dos concelhos em risco muito elevado e que tem de respeitar as regras aplicadas a estes concelhos, como o recolher obrigatório a partir das 13h.

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“A questão do congresso existir ou não existir, ser ou não adiado, não é uma questão legal, mas sim política”, assegurou, afirmando que a lei não permite proibir a sua realização. Para Marques Mendes, esta não é uma polémica entre esquerda e direita, mas sim “entre o consenso e a falta dele”.

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Tudo se resolveria, diz, “com o primeiro-ministro a fazer um apelo ao PCP para adiar o seu congresso”, tal como fez na conferência de ontem quando “fez um apelo aos patrões, aos empresários, para que não haja laboração nas suas empresas nas vésperas dos próximos feriados”.

Marques Mendes defendeu a necessidade de um apelo por parte do primeiro-ministro, ou em privado ou em público, e que o que está em causa é a perceção: se o PCP mantiver o congresso passa “a perceção de que há filhos e enteados”. “É um erro político.”

“Não tomar medidas a tempo e horas tem sempre um preço”

Sobre as medidas anunciadas no sábado por António Costa a propósito do quinto estado de emergência, Marques Mendes afirmou que aquele “não pareceu o momento mais feliz do primeiro-ministro em conferências de imprensa”. “Pareceu-me algo cansado”, acrescentou.

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O comentador interrogou-se sobre se as medidas apresentadas serão suficientes, sobretudo nos 47 concelhos mais críticos, e defendeu que várias delas são tardias — Portugal é, neste momento, o sexto pior país da União Europeia considerando o número de casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias (ocupa a 12.ª posição face a todo o continente europeu). “Não tomar medidas a tempo e horas tem sempre um preço.”

Ainda assim, considerou que a proibição de circular entre concelhos nos dois feriados no princípio de dezembro corresponde a uma “medida necessária” e elogiou a criação de quatro escalões, consoante o risco de contágio nos concelhos, embora a sua aplicação prática não seja “justa”.

O Governo criou quatro escalões, mas na prática apresentou medidas para três escalões. Não é a mesma coisa um concelho que tem 500 ou 600 infeções por dia, em função de 100 mil habitantes, contra o que tem 1.500, 2.000 ou 3.000 infeções por dia por 100 mil habitantes.”

Marcelo Rebelo de Sousa: discurso “exigente e claro”

Luís Marques Mendes elogiou o mais recente discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, na passada sexta-feira, altura em que renovou o estado de emergência, considerando-o “exigente e claro”. Foi ainda um “recado oportuno” ao PCP, a propósito do já referido congresso, ao elogiar a Igreja Católica por aceitar cancelar as celebrações do Natal. Para Marques Mendes, o que Marcelo quis dizer foi: “Vocês podiam também alterar o vosso congresso”.

O discurso foi ainda uma chamada de atenção aos partidos políticos, no sentido de ser necessário manter a “unidade nacional”. Marques Mendes não deixou de criticar o facto de Marcelo Rebelo de Sousa ter referido uma eventual terceira pandemia em janeiro e fevereiro. Ainda assim, admitiu que fez sentido fazer esta antecipação pela necessidade de falar “verdade”.

O Presidente limitou-se, portanto, a reproduzir aquilo que é a opinião dos técnicos, a falar a verdade às pessoas como quem diz ‘atenção, temos aí um risco no horizonte e temos de ter muito cuidado’. Numa palavra, pareceu-me um discurso muito adequado.”

Referindo-se depois ao facto de os portugueses ainda não saberem como vão passar a quadra natalícia, Marques Mendes afirmou que o Governo parece estar “aflito, preocupado e com receio” de tomar medidas em relação ao Natal, as quais deverão ser “anunciadas o mais rápido possível”.