O número de vítimas imigrantes de violência doméstica que procuraram apoio na associação Mulher Século XXI, em Leiria, duplicou face a 2020, passando de 15 para 34, anunciou à Lusa esta segunda-feira a presidente daquela organização. Susana Ramos Pereira mostrou-se surpreendida com a procura por parte de imigrantes, vítimas, sobretudo, dos seus companheiros.
Observámos um aumento de 34 vítimas, comparativamente com as 15 vítimas no mesmo período de 2019. Será que se deve exclusivamente ao aumento de imigrantes na região? Será resultado do crescimento do desemprego? São pessoas que estão cá há um ou dois anos. É um aumento grande demais, que deve ser estudado pelos parceiros da rede”, disse à Lusa a presidente da Mulher Século XXI — Associação de Desenvolvimento e Apoio às Mulheres.
Até 31 de outubro, o Centro de Atendimento às Vitimas de Violência Doméstica do Distrito de Leiria atendeu 147 casos novos, sendo 137 mulheres e dez homens. Destes casos, 16 relacionam-se com idosos, refere uma nota de imprensa da associação. Comparando com o período homólogo de 2019, que registou 161 novos casos, nota-se uma ligeira diminuição.
Em 2020, o número de acompanhamentos foi de 1.003 (o atendimento telefónico aumentou muito), número mais elevado do que o verificado em 2019 (863).
Não houve menos violência doméstica, mas o confinamento obrigou ao silêncio. As vítimas estavam mais controladas e com maior dificuldade em pedir ajuda. Muitas procuram agora, também auxílio para o processo de separação, já que a casa de família deixou de ser um porto de abrigo e passou a ser uma prisão”, sublinhou Susana Ramos Pereira.
Os pedidos de ajuda, revelou, estão a começar a chegar agora. “Temos tido mais procura nos atendimentos, com vítimas a mostrarem muito medo. Têm pedido apoio à nossa jurista e ao nível psicológico. Têm a autoestima destruída. A pandemia escondeu as situações, que vão surgir agora”, adiantou.
A presidente da Mulher Século XXI acrescentou que tem havido muito apoio psicológico da associação através de videoconferência junto das vítimas. A pandemia diminuiu ainda a capacidade de resposta desta organização não governamental ao nível do acolhimento de emergência.
Em 2020, a associação acolheu 48 vítimas das quais 17 eram crianças (descendentes diretas), quando em 2019 o número foi de 88 vítimas (35 crianças).
A nossa estrutura tem uma lotação para oito vítimas. São três quartos, mas com o cumprimento das normas impostas pela Direção-Geral da Saúde, que obrigam a um período de isolamento de 14 dias em cada entrada na resposta de acolhimento, faz com que o número real de vagas existentes diminua para um terço da sua capacidade”, constatou.
Para assinalar o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra a Mulheres, que se comemora no dia 25 de novembro, a Mulher Século XXI irá lançar uma campanha digital, tendo em conta as questões de confinamento que o país está a atravessar, anunciou ainda.
O Observatório das Mulheres Assassinadas (OMA) contabilizou 30 mulheres mortas entre 1 de janeiro e o dia 15 de novembro, 16 das quais em contexto de relações de intimidade, um valor abaixo das 21 registadas em 2019.
De acordo com os dados do OMA, da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), até ao dia 15 de novembro tinham sido assassinadas 30 mulheres, 16 em contexto de relações de intimidade, sejam atuais, passadas ou apenas pretendidas pelo agressor, 12 em contexto familiar e as outras duas noutros contextos.