Primeiro a derrota em Old Trafford com o Arsenal, depois o descalabro na Turquia com o estreante Basaksehir para a Liga dos Campeões frente a uma equipa que nunca tinha sequer marcado um golo na Champions na sua história. O cargo de Ole Gunnar Solskjaer nunca esteve propriamente seguro mas esses dois encontros consecutivos tiveram o condão de deixar ainda mais o norueguês no limite. Seguiram-se, antes e depois da paragem para as seleções, duas vitórias diante do Everton e do WBA que, mesmo não sendo convincentes, acalmaram por momentos todo o burburinho criado em torno da questão técnica do Manchester United. Na génese de ambas esteve o suspeito do costume, Bruno Fernandes. Que quase todos elogiam mas que também nem sempre tem uma opinião unânime.

A falência de Bruno e companhia valeu a primeira vitória à equipa de Erdogan: Basaksehir faz história na Champions frente ao United

“Foi uma vitória horrível mas espero que dê alguma confiança à equipa. Imaginem onde estaria o Manchester United sem o Bruno Fernandes… Antes de chegar, a equipa não conseguia sequer criar uma oportunidade de golo”, comentou Paul Scholes, o antigo dono da camisola 18 dos red devils, na BT Sports. “Todo o jogo da equipa passa por ele. É um jogador que consegue assumir essa responsabilidade e cria jogo”, acrescentou o central e também antigo capitão, Rio Ferdinand. “Sim, pode estar bem mas a forma como marca os penáltis devia ser proibida”, disse o antigo avançado do Arsenal Ian Wright, na BBC. “É muito difícil para os guarda-redes e depois temos os jogadores a dar saltos, a fazer uma série de coisas quando não podem sair da linha. Deviam impedir esses saltos. Apenas correr para a bola e mais nada. Se eles se podem mexer e os guarda-redes não, é injusto”.

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Antes, no encontro em Liverpool com o Everton, Solskjaer tinha mostrado a felicidade por contar com o português mas deixou também um reparo à forma como se entrega ao jogo. “Bruno Fernandes assinou uma grande exibição ao liderar os rapazes com o seu desejo e determinação. Ele estava em todo o lado no campo mas às vezes fico frustrado com isso porque surgem passes para onde ele deveria estar e não está. Agora, quando tens alguém que guia a equipa como ele faz, então fico muito feliz”, assumiu o técnico norueguês.

Este jogo foi complicado. O WBA jogou bem e foi muito forte na defesa mas acho que podemos melhorar muito no último terço. Podemos desperdiçar menos passes e temos que ser mais certeiros a rematar. Acho que todos jogadores estão de acordo em relação a isto. A exibição foi boa mas acho que podemos fazer algo muito melhor”, assumiu o médio português após o triunfo da última jornada.

Seguia-se a receção ao Basaksehir, com esse aviso depois do que tinha acontecido na Turquia. Pelas contas de Solskjaer, bastavam dez a 12 pontos para a qualificação para os oitavos da Champions, sendo que um triunfo frente ao conjunto de Istambul seria um passo de gigante rumo a esse objetivo. Olhando para um denso calendário ao Natal com encontros complicados na Premier League frente a Southampton, West Ham, Manchester City, Sheffield United e Leeds, além dos quartos da Taça da Liga frente ao Everton, o norueguês admitia fazer alguma gestão na equipa mas entrou a todo o gás, com Fred e Van de Beek no meio com Bruno Fernandes. Valeu a pena: em pouco mais de meia hora, o encontro estava resolvido. E com o português mais uma vez a ser o grande destaque.

Logo aos sete minutos, na sequência de um canto de Alex Telles, Bruno Fernandes aproveitou um corte para fora da área para encher o pé e fazer um dos melhores golos da noite na Champions, sem hipóteses para Günok, que pouco depois ficaria mal na fotografia ao falhar a interceção a um cruzamento e deixar a bola a jeito do médio português que só teve de encostar para o 2-0 (19′). O Basaksehir tentava sobretudo em lances de estratégia chegar à baliza de David de Gea mas bastava abrir um pouco mais para sofrer quase de imediato: Rashford sofreu falta na grande área, Bruno Fernandes preparava-se para marcar o hat-trick mas acabou por ceder a bola ao avançado inglês, que marcou mesmo o 3-0 e foi dedicar esse golo ao internacional português.

Aos 58′, com o encontro sem grande história, o português foi substituído. Greenwood ainda ameaçou a goleada, Denis Türüç conseguiu reduzir de livre direto (75′) mas o triunfo quase decisivo do Manchester United estava mais do que decidido (embora Visca tenha ainda acertado na trave de De Gea) e foi confirmado já em período de descontos por Daniel James, que entrara para o lugar do número 18 (90+2′). Ainda assim, só se falou de Bruno Fernandes. Por estar em 34 golos nos 35 jogos feitos pelos red devils até ao momento (21 golos, 13 assistências), por ter decidido pela terceira vez consecutiva a vitória da equipa, por ser o melhor marcador de Solskjaer. Mais do que isso, por ter abdicado de uma grande penalidade que daria um inédito hat-trick na Champions, já depois de ter dado o 3-1 a Cavani frente ao Everton quando podia ter marcado. E é assim que se conquista uma equipa.

“Está sempre na cabeça de qualquer jogador fazer um hat-trick mas o Rashford é o nosso melhor marcador na prova, por isso o golo era importante para ele. Depois do último jogo na Premier League disse-lhe que o próximo penálti seria para ele, é um dos nossos marcadores. Ele ou eu, qualquer um pode bater. Cada vitória é importante e este jogo tínhamos de ganhar. Ficámos um passo mais perto do apuramento. É sempre bom jogar assim. Criámos ocasiões como noutros jogos mas hoje marcámos. A equipa está bem e temos de fazer as coisas como hoje”, comentou no final do encontro o internacional português, em declarações à Eleven Sports.