Pelo menos 11 casos de violência doméstica por dia foram registados em Angola nos primeiros dez meses de 2020, período em que o país registou 3.303 incidentes, anunciou esta quarta-feira a secretária de Estado para a Família angolana.

Elsa Bárber, que falava esta manhã na abertura oficial da campanha dos 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher, deu conta que entre os casos de violência registados, entre janeiro e outubro deste ano, 2.568 denúncias foram feitas por homens e as restantes por mulheres.

Assinala-se esta quarta-feira o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra a Mulher e Rapariga. Angola celebra a data sob o lema “Violência Zero, Denuncie”.

Segundo a governante, os centros de aconselhamento familiar do Ministério da Ação Social, Família e Promoção da Mulher (Masfamu) registaram em 2019 um total de 3.769 casos de violência doméstica, mais 466 casos face aos primeiros dez meses de 2020.

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“O executivo angolano nota que os casos de violência contra a mulher tendem a atingir proporções alarmantes, causando desestabilização no seio de muitas famílias, impedindo a realização de sonhos e a concretização de aspirações”, disse.

Para “alterar este quadro, inibir a ação do agressor e apoiar a vítima de violência em tempo de pandemia, foram criadas as linhas telefónica 145 e 146 de denúncias de casos de violência doméstica, com características de confidencialidade, anónima e gratuita”.

O ministério reconhece que a violência doméstica “é uma pandemia em todas as sociedades” e constitui um “grave obstáculo” para o desenvolvimento inclusivo, equitativo e sustentável e tem atingido gravemente jovens, crianças e adolescentes.

De acordo com Elsa Bárber, o executivo angolano “continua engajado” na promoção e proteção das crianças, em particular da mulher jovem, recordando que recentemente foi lançada a linha SOS Criança 15015.

Em menos de seis meses, a linha SOS Criança, sob gestão do Instituto Nacional da Criança (INAC) e do Centro Integrado de Segurança Pública (CISP) angolano, registou 103.140 casos de violência, com a fuga à paternidade a liderar, com mais de 38.000 notificações.

“A proteção da criança deve ser uma tarefa de todos nós, Estado, sociedade civil e parceiros”, sublinhou.

Na sua intervenção, a secretária de Estado para a Família e Promoção da Mulher angolana manifestou-se também preocupada com o “aumento de casos de fuga à maternidade”.

“Mães a abandonar os próprios filhos, na rua, com fome, debaixo da chuva, na lixeira, é muito triste e repugnante”, lamentou.

Por seu lado, a coordenadora residente do sistema das Nações Unidas em Angola, Zahira Virani, considerou que o país deu passos fundamentais nos últimos anos com a aprovação da lei contra a violência doméstica e o seu respetivo regulamento.

“Apesar destes avanços, é premente regulamentar estes instrumentos para garantir a sua aplicação, bem como a produção de outros instrumentos legais como a necessidade da atualização da Política Nacional para a Igualdade de Género”, notou.

Contribuir para a harmonia, estabilidade e coesão das famílias é um dos objetivos da campanha dos 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher.

A modelo internacional angolana Maria Borges foi apresentada nesta cerimónia como a embaixadora de Angola na luta contra a violência doméstica.