A margem de erro era pouca e substanciava-se em números, à partida para o jogo dos dragões nos Açores este sábado: dois pontos de atraso face a Benfica e F.C. Porto e sobretudo seis pontos de atraso face ao líder Sporting. As derrotas com Paços de Ferreira (6ª jornada) e Marítimo (3ª jornada) ainda estavam na memória e o conjunto azul e branco sabia: era preciso transpor para o plano interno a competência demonstrada na Liga dos Campeões, onde o FCP tem evidenciado toda a sua força.

Ao longo dos últimos anos sob o comando de Sérgio Conceição, há uma lição que fica para os adversários do F.C. Porto: a equipa azul e branca tem sete vidas e consegue recuperar e reerguer-se quando já todos a dão como acabada. Mas não convém contar com recuperações como a da última época e Conceição tinha alertado para isso mesmo na antevisão: “Temos de olhar para este jogo como uma final, não temos espaço para perdermos mais tempo. Mais tempo, no sentido de perdermos pontos e colocarmos em risco aquilo que é o lugar que nos pertence e onde queremos estar, que é o primeiro”, dissera.

A entrada em jogo foi decidida e pareceu confirmar que o FC Porto estava determinado a impor o seu futebol desde cedo, se possível marcando na primeira parte para evitar o desgaste acumulado trazido da partida frente ao Marselha, a meio da semana (em que o FC Porto teve de jogar com menos um elemento durante largos minutos).

Os dragões apresentavam-se praticamente com a mesma equipa com que tinham defrontado os franceses. A única alteração era a estreia de Taremi a titular na Liga pelos azuis, em detrimento de Marega — fora isso a defesa mantinha-se, no meio-campo Grujic continuava a fazer dupla com Sérgio Oliveira e no apoio ao ponta-de-lança mantinha-se o tridente composto por Corona, Otávio e Luis Díaz. Já o Santa Clara apresentava-se sem Anderson Carvalho (lesionado) e Lincoln (suplente) e com a surpresa Júlio Romão (primeiro jogo a titular na época) no meio-campo, com três médios (além de Romão, Rashid e Costinha) e com dois extremos, Diogo Salomão à direita e Carlos Júnior à esquerda, no apoio ao goleador Thiago Santana.´

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Os primeiros cinco, seis minutos mostraram um FC Porto a querer impor-se em campo, determinado em reclamar a bola para a sua posse, tentando combinações rápidas quer no meio-campo quer no ataque para surpreender os açorianos. Mas foi fogo fátuo. Rapidamente o Santa Clara conseguiu equilibrar a partida, dividindo mais o jogo: mesmo tendo muito menos tempo a bola, mantinha-se organizado na defesa e saía rápido e com perigo para o contra-ataque.

A primeira parte correu sem grandes motivos de interesse. Com o relvado em mau estado e as condições meteorológicas ainda piores (forte vento e chuva com intensidade), o jogo decorria com muitos lances divididos mas sem oportunidades de golo. Tentando atacar sobretudo através do corredor direito, pelas subidas do lateral Rafael Ramos e pelos dribles do extremo Diogo Salomão (ex-Sporting), o Santa Clara ia tentando espreitar o contra-ataque. Era porém o FC Porto que se impunha, adiantando os laterais Manafá e Zaidu (regressado aos Açores) e tentando combinações entre os quarto jogadores mais adiantados.

Ao intervalo, as duas equipas juntas somavam apenas um remate enquadrado nas balizas — mas que remate! Já depois do FC Porto pedir um penalty após um lance entre Villanueva e Otávio, não concedido pelo árbitro, e depois de dois amarelos por entradas duras de Rashid (Santa Clara) e Grujic (FC Porto), os dragões adiantaram-se no marcador no último minuto na primeira parte. Fizeram-no com uma obra de arte de Luis Díaz.

O colombiano tinha sido, durante toda a primeira parte, o jogador mais irrequieto do FC Porto. Era o jogador com mais perdas de bola, mas era-o porque estava a tentar encarar os adversários de frente, procurando dribles e lances de um contra um. Aos 46’, Luis Diaz viu Manafá subir pelo corredor direito. O lateral portista viu várias camisolas azuis na área e cruzou para Díaz, que num remate acrobático — algures entre o remate à meia volta e o pontapé de bicicleta — inaugurou o marcador. O melhor é mesmo ver o lance.

Uma segunda parte que só animou (e pouco) perto do fim

A segunda parte começou com a mesma toada de boa parte da primeira: o jogo relativamente equilibrado, dividido e afastado das duas balizas defendidas por Marco Pereira e Marchesín. Desta vez, porém, era o Santa Clara que jogava contra o vento. Em desvantagem,, o conjunto açoriano assumia mais protagonismo na circulação e posse de bola, com o FC Porto um pouco mais expectante e recuado no terreno. A circulação de bola ‘vermelha’, porém, era quase toda feita em zonas recuadas.

Após os dois amarelos a Rashid e Grujic, o cartão seguinte seria para Sérgio Conceição, aos 56 minutos, depois do treinador portista pedir um cartão para Villanueva, que travou um contra-ataque dos dragões agarrando Otávio.

A bola continuava longe, sempre longe, das balizas de Marco Pereira e Marchesín. Daniel Ramos e Conceição começavam a pensar em agitar a partida a partir dos bancos: o técnico açoriano chamava Lincoln e Jean Patric, o treinador dos dragões pedia a Uribe e Marega para acelerarem o aquecimento. E aos 63 minutos, os quatro suplentes — dois de cada lado — estavam alinhados na linha lateral, à espera de entrar.

Conceição fazia duas trocas posicionais: saíam Grujic e Taremi, entravam os habituais titulares Uribe e Marega. Já Daniel Ramos, em desvantagem, retirava Costinha (amarelado) e trocava-o por Lincoln, tirando também do campo Salomão, um dos mais mexidos, e fazendo entrar Patric.

O jogo, porém, mantinha-se sem grandes alterações: o FC Porto procurando espreitar o contra-ataque para ferir o CD Santa Clara, sem sucesso, e os açorianos a tentarem empurrar os dragões para a defesa, não criando grande perigo. À pouca nota artística do jogo, é justo dizer, muito contribuíram as más condições meteorológicas e o estado do terreno.

Uma iniciativa individual de Carlos Júnior pela direita, em diagonal para dentro e que resultou num remate intercetado que não chegou sequer à baliza, foi um lance paradigmático da produção ofensiva dos dois conjutnos na partida. Apesar dos açorianos se acercarem da área, faziam-no sem incomodar o guarda-redes Marchesín. Aos 74’, uma série de combinações isolava Lincoln pela direita, que cruzava mas com demasiada força e sem encontrar ninguém na área. Poucos minutos depois, Thiago Santana ensaiava o remate mas voltava a ser intercetado. E aos 84’ o avançado brasileiro fugia pela esquerda e tentava cruzar, mas sem encontrar nenhum colega.

Só nos últimos minutos surgiram vislumbres de lances de perigo. Na sequência de um lançamento lateral, o recém-entrado Ukra rematou para Marchesín agarrar. Foi o lance mais perigoso do Santa Clara, o que também explica o frio que o guarda-redes do FC Porto deve ter sentido durante o jogo.

Já o FC Porto, com João Mário e Fábio Vieira em campo (entradas para os lugares de Corona e Otávio), criava algum perigo através de Otávio, com um belo remate aos 87’, e através de Sérgio Oliveira, com um remate que, embatendo num adversário, quase traía Marco aos 88’. Lincoln ainda bateu um livre no primeiro de três minutos de compensação e encontrou Villanueva, mas este — de costas — cabeceou frouxo na área e à figura de Marchesín.

Foi pouco para 90 minutos e pouco para os intervenientes que estavam de um lado e outro. Mas foi o suficiente para o FC Porto, sem entusiasmar mas mostrando uma frieza impiedosa, vencer um jogo que tinha mesmo de ganhar. O campeonato, vivo, segue dentro de momentos. E o FC Porto, já se sabe, nunca pode ser dado como morto.