Havia John Terry, havia Frank Lampard, o treinador era Claudio Ranieri, algumas das maiores estrelas juntavam nomes como Desailly, Jimmy, Duff, Verón ou Hernán Crespo. Na primeira temporada após assumir o controlo das ações do Chelsea, Roman Abramovich viu a equipa terminar no segundo lugar da Premier League e atingir as meias da Champions mas não conquistou qualquer troféu. Em 2004, apostou em José Mourinho. O sonho de chegar ao triunfo na Liga milionária acabou por concretizar-se mais tarde, em 2012, e logo com um “interino” que substituiu a meio da época André Villas-Boas (Roberto Di Matteo), mas metade das seis vitórias dos blues no Campeonato foram com o Special One, que ganhou oito títulos nacionais nas duas passagens pelo Chelsea. Hoje, o português voltava a Stamford Bridge. E com um contexto que parecia improvável perante o que se passara.

Ponto de interesse 1: na sequência da maior série de vitórias seguidas desde que assumiu o comando do Tottenham e depois do empate cedido pelo Liverpool frente ao Brighton nos descontos, Mourinho podia regressar à liderança isolada da Premier League várias temporadas depois e por entre críticas que o colocavam como um treinador já ultrapassado no tempo. Ponto de interesse 2: Roman Abramovich cumpria este domingo o 1.000.º encontro desde que assumiu o controlo do capital social do Chelsea e mudou por completo um clube que estava há muito afastado da luta pelos títulos e que se transformou numa das maiores equipas europeias também à custa do investimento sem precedentes. Ponto de interesse 3: depois de um clima de tensão que marcou a partida na Taça da Liga, Frank Lampard voltava a reencontrar o antigo treinador com quem ganhou vários troféus pelos blues.

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“Deixei o Chelsea em 2014 e a minha vida tomou um rumo diferente. Quando és profissional estás tão consumido e ocupado com a tua vida que as relações acabam por mudar. Sempre fomos muito cordiais um com o outro, sempre que vi o José, ou falei sobre ele, ou se trocamos mensagens, houve uma boa relação. Nesta altura, quando somos treinadores de grandes clubes rivais, penso que a nossa relação é diferente mas não num mau sentido, não tenho qualquer problema com ele. Somos duas pessoas muito competitivas e ambos queremos fazer as coisas bem”, disse Lampard no lançamento do dérbi, antes de elogiar também Abramovich: “Estou-lhe muito agradecido por tudo o que ele fez pelo clube porque isso mudou a minha carreira como jogador. Lembro-me dos primeiros tempos da era Abramovich em que alguns adeptos estavam desconfiados mas ele chegou, gastou dinheiro e tivemos sucesso. É um proprietário com um grande coração e empatia. Sempre senti um forte apoio da direção”.

“Terão de perguntar ao Frank [Lampard] se tem medo de nós ou não mas não me parece que ‘medo’ seja a palavra certa. Nós não temos medo de ninguém. Respeito o potencial deles e penso que respeitam o nosso. Honestamente, não acredito que eles pensem que vamos ser um adversário fácil. Adoraria que se sentissem assim mas não me parece. O Frank é um homem com uma larga experiência no futebol e penso que eles sabem que somos uma equipa complicada, capaz de chegar lá e vencer”, salientou José Mourinho, que colocou toda a pressão no Chelsea e não no Tottenham depois do investimento que fizeram no último verão, bem maior do que o Tottenham.

Os visitados tentaram mesmo assumir o jogo desde início, com mais posse mas sem grandes oportunidades perante um conjunto dos spurs bem organizado sem bola e a explorar sempre que possível as transições para conseguir fazer a diferença tendo Son, Kane e Bergwijn mais na frente. Timo Werner ainda chegou a marcar mas o lance foi de imediato anulado por posição irregular, sendo que a melhor oportunidade até ao intervalo acabaria por ser de Aurier, com um remate de fora da área após combinação com toques curtos a obrigar Mendy a defesa apertada. Mount, Kane e Bergwijn ainda tentaram visar também as balizas mas com remates que saíram por cima.

No segundo tempo, e apesar de todas as notas que o português foi tirando na primeira parte, o Tottenham baixou em demasia as linhas, num jogo de expetativa que tirou Kane do jogo perante o exagero, mas o Chelsea também não tirou grandes benefícios desse aumento da percentagem de posse, com Joe Rodon, jovem central galês que foi contratado ao Swansea como último reforço da equipa e que mereceu pela primeira vez a titularidade, a ser um dos melhores ao lado de Eric Dier (apesar de um erro no final que ofereceu uma bola desnecessária a Giroud, quando fisicamente já começava a quebrar). Abraham, nas costas da defesa dos spurs após cruzamento da esquerda de Werner, teve a única chance até começar a dança das substituições mas o desvio saiu ao lado da baliza de Lloris, sendo que nem mesmo as alterações mexeram muito com as características de um jogo que teve uma grande defesa do francês a remate de Mason Mount (81′) e um desvio de Mendy após cruzamento (84′) como últimos momentos. O nulo acabou mesmo por não ser desfeito e o Tottenham voltou à liderança a par do Liverpool.