Para alguns era o final de um ciclo a ganhar na Europa, para outros o início de um novo ciclo para tentar ganhar na Europa. As visões dividiam-se após aquela frase bombástica de Cristiano Ronaldo ainda no relvado abrindo a porta a uma possível saída de Madrid mas todos percebiam que algo estava prestes a mudar no Real, apenas uns minutos depois da conquista da terceira Champions seguida em Kiev. O português saiu mesmo para a Juventus por 100 milhões de euros, Zinedine Zidane deixou também o comando técnico. Voltou, corrigindo dois erros de casting que nunca conseguiram agarrar verdadeiramente na equipa, Julen Lopetegui e Santiago Solari, mas não mais teve o conjunto que lhe permitisse continuar a sonhar com triunfos europeus. Até hoje, acrescente-se.

Nas duas últimas temporadas, e depois da vitória no Mundial de Clubes de 2018, o Real Madrid ganhou a primeira Supertaça disputada num formato de Final Four e voltou a conquistar o Campeonato, aproveitando uma quebra do rival Barcelona nos jogos pós-pandemia e segurando uma série de sucessos consecutivos em versão resultadista para fazer a festa. Não demorou muito. Aliás, foi até mais curto do que é normal tendo em conta a data de regresso da competição. Hoje, quase dois meses e meio depois, Zidane já foi colocado em causa e a construção do plantel criticada. Pelo meio houve vários casos positivos de Covid-19, tantas ou mais lesões musculares e muitos resultados surpresa como as derrotas em casa na Liga com Cádiz, Alavés ou, na Champions, com o Shakhtar.

“Capacidade para ganhar outra vez? Nos últimos anos temos feito estes resultados, no ano passado não perdemos nenhum jogo fora. Empatámos com o City, ganhámos à Atalanta, empatámos em Zagreb. A nossa besta negra neste grupo foi o B. Mönchengladbach mas acreditamos que temos capacidade para voltar a ganhar ao Real Madrid. As grandes equipas têm apresentado grande instabilidade, um dia fazem grandes jogos e exibições e no outro o nível não está tão bom. Por aí, é difícil perceber que Real vamos encontrar. Este grupo da Champions é muito forte. Era claro que o Shakhtar ia ser a equipa com mais dificuldades tendo no grupo Real Madrid, Inter e B. Mönchengladbach mas não deixamos de ter esperança de ganhar para lutar pela qualificação”, comentava Luís Castro, treinador português do Shakhtar, numa entrevista à Marca antes do encontro em Kiev.

Acreditou e conseguiu, para gáudio do presidente Rynat Akhmetov. O homem mais rico da Ucrânia, que tomou o controlo do Shakhtar em 1996 e que a partir daí viu o conjunto de Donetsk ganhar 34 dos 39 títulos, foi destaque também esta terça-feira na Marca, que faz o perfil de um líder dono de um império com mais de 100 empresas e que aproveitou como outros magnatas as privatizações na Ucrânia para investir nas indústrias do aço, das minas e das termoelétricas, a que se juntam interesses em farmacêuticas, meios de comunicação e tecnologia. Rodeado de mistério, alvo de algumas investigações judiciais que nunca resultaram em acusações, próximo do líder Viktor Yanukovych até ser apontado como apoiante da Rússia, proibido de ter visto para entrar nos EUA mas figura importante na Cimeira da Paz de 2015, Akhmetov teve um papel importante no combate à pandemia no país, dando nove milhões de euros aos hospitais públicos para ajudar a lidar com um problema para o qual ninguém estava preparado. Agora, num 2020 atípico a todos os níveis, está perto de ver a equipa dos mineiros somar às meias da Liga Europa de 2019/20 uma possível passagem aos oitavos da Champions.

Logo a abrir, Asensio criou perigo junto da baliza dos ucranianos com uma bola no poste que deixou o primeiro aviso ao conjunto de Shakhtar, privado logo na primeira metade de Júnior Moraes por lesão. Cedo se percebeu que o encontro da primeira volta seria um filme sem repetição, pela forma como os espanhóis iam impedindo a equipa da casa de sair em transições rápidas que explorassem a velocidade das unidades mais ofensivas, mas apesar de mais uma boa oportunidade de Asensio, neste caso bem travada para canto por Trubin, o Real Madrid não teve também grandes oportunidades para inaugurar o marcador. O intervalo chegou sem golos, sem grandes motivos de interesse e sem que a chuva desse tréguas (e o frio, o que fez com que Zidane estivesse sempre de gorro).

No segundo tempo, ambas as equipas apareceram melhor com o Shakhtar a ter outra capacidade nas transições ofensivas com Marlos como principal protagonista e o Real Madrid a colocar outro tipo de dificuldades em ataque organizado à defesa dos ucranianos, com Benzema a ter um remate perigoso para defesa de Trubin. No entanto, e mais uma vez, a defesa dos merengues (sem o capitão Sergio Ramos) voltou a falhar e pelo seu elemento mais experiente, Varane: Kovalenko tentou um primeiro remate, a bola foi cortada por Mendy, o central francês desviou-se como que esperando que a mesma fosse aliviada e Dentinho aproveitou para fazer o 1-0 sozinho aos 57′. Zidane trocou todas as unidades ofensivas sem mexer na estrutura (abdicando até de Benzema, o principal ponto de perigo na frente), subiu linhas mas acabou por ser de novo apanhado numa transição, com Solomón a levar a bola dezenas de metros e a rematar forte de fora da área sem hipóteses para Courtois (82′). Contas feita, e para a última jornada, o Shakhtar depende apenas de si para chegar aos oitavos, precisando de ganhar ao Inter em Milão. Já o Real Madrid, caso o B. Mönchengladbach vença esta noite os italianos, deixará de depender de si…

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