O secretário-geral das Nações Unidas anunciou esta quinta-feira que o objetivo central da organização para 2021 é criar uma “Coligação para a Neutralidade Carbónica” para contrariar a “guerra” que a humanidade está a travar contra a natureza.

António Guterres considerou esta quarta-feira, num discurso na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, que a humanidade está a cometer “suicídio” ao “declarar guerra à natureza” e que o mundo está perto de uma “catástrofe climática” segundo relatórios da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e Programa Ambiental das Nações Unidas.

Para o dirigente da ONU, três imperativos para responder à crise climática são atingir neutralidade carbónica dentro de 30 anos, “alinhar as finanças globais para o Acordo de Paris” e evoluir com avanços “na adaptação para proteger o mundo e especialmente as pessoas e países mais vulneráveis dos impactos climáticos”.

O secretário-geral mostrou estar animado pelos compromissos adotados por mais de 110 países em atingir neutralidade carbónica até 2050 e pela União Europeia de ser o primeiro continente neutro em emissões poluentes.

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As iniciativas têm de ser transformadas “num movimento”, pediu o secretário-geral, com o objetivo central das Nações Unidas criar uma “Coligação para a Neutralidade Carbónica” em 2021.

A ONU espera que todos os países, cidades, instituições financeiras e companhias adotem planos para atingir emissões zero até 2050. Isso significa que até 2030 devem cortar-se 45% de emissões, comparados com os níveis de 2010.

Os consumidores, produtores e investidores, “todos têm de fazer a sua parte”, acrescentou Guterres.

O quinto aniversário do Acordo de Paris vai ser celebrado a 12 de dezembro, na Cimeira da Ambição Climática, um evento virtual, e a cimeira climática COP26, em Glasgow irá realizar-se no próximo ano.

“A prioridade para todos, em todo o lado” deve ser “fazer as pazes com a Natureza” e pensar nas gerações futuras.

António Guterres considerou que o planeta “está quebrado”, já que devido à degradação ambiental, que afeta os mais vulneráveis, a paz entre comunidades fica mais distante, os conflitos e desalojamentos são mais frequentes.

Todos estes são obstáculos nos esforços para eliminar a pobreza e para assegurar segurança alimentar e todos os problemas são causados por atividades humanas.

“Não é por acaso que 70% dos países mais vulneráveis ao clima também estão entre os mais frágeis política e economicamente”, considerou o secretário-geral.

Entre os 15 países mais suscetíveis aos riscos climáticas, oito recebem atualmente missões de paz da ONU.

“Como sempre”, lamentou António Guterres, sofrem mais aqueles que não têm culpa: “Aqueles que menos fizeram para causar o problema são os que mais sofrem”.

Os desastres ambientais custaram, só no ano passado, 150 mil milhões de dólares (mais de 124 mil milhões de euros), declarou Guterres.

A desertificação, a desflorestação, a diminuição da biodiversidade (um milhão de espécies estão em riscos de extinção), poluição, aquecimento dos oceanos, descoloração dos corais, o degelo e “inundações e incêndios apocalípticos” foram mencionados pelo secretário-geral.

O secretário-geral da ONU alertou também que os gastos para dar respostas às dificuldades criadas pela pandemia de Covid-19 vão ficar como dívidas “de biliões de dólares” para as futuras gerações.

“Não podemos usar esses recursos para criar políticas que sobrecarregam [as futuras gerações] com uma montanha de dívidas num planeta destruído”, considerou António Guterres.