A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que os profissionais de saúde e do setor social, adultos acima dos 65 anos e residentes e trabalhadores de lares tenham acesso prioritário à vacina contra a Covid-19, tendo em conta o “contexto de fornecimento limitado”, disse Hans Kluge, diretor regional da OMS/Europa, em conferência de imprensa esta quinta-feira. Se um ou mais grupos terão acesso à vacina numa fase inicial vai depender da quantidade de vacinas disponível, da situação da pandemia e do tamanho de cada grupo, em cada um dos países, acrescenta.

O diretor regional da OMS/Europa e Siddhartha Datta, conselheiro regional da OMS para as doenças que podem ser prevenidas por vacinação e imunização, deixaram claro que embora haja muita esperança nas vacinas contra a Covid-19 e elas sejam realmente importantes, não vão acabar com a pandemia, pelo menos numa fase inicial. “A chegada da vacina, não marca o fim da pandemia”, diz Hans Kluge.

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Para o diretor regional, “a preparação é chave” e a única forma de se conseguirem o máximo de resultados, no controlo da pandemia, com o mínimo dos recursos — um fornecimento muito limitado de vacinas numa primeira fase. Para isso é preciso, por um lado, definir quem serão as primeiras pessoas a serem vacinadas, mas também “preparar as cadeiras de frio, os sistemas de monitorização da segurança das vacinas, a comunicação e o envolvimento da comunidade”.

“A aceitação da comunidade é fundamental para o sucesso de qualquer plano de vacinação”, diz Hans Kluge, lembrando que em alguns países quase metade das pessoas mostram apreensão em relação às vacinas contra a Covid-19. O diretor regional diz que a incerteza é normal, especialmente num contexto em que há muita coisa que não se sabe ainda, mas pede às pessoas que procurem a melhor informação disponível.

“Insto-vos a procurar informação fidedigna de fontes confiáveis. Não sejam parte de uma ‘infodemia’ de desinformação. A vacinação salva vidas, o medo coloca-as em perigo”, diz o diretor regional da OMS/Europa.

O vírus ainda tem o potencial para fazer muitos estragos, a não ser que façamos tudo ao nosso alcance para travar a transmissão”, alerta Hans Kluge, que vê a vacinação como parte da solução, desde que implementada da forma correta. A reconstrução da economia, diz, “só é possível se não deixarmos ninguém para trás”.

É também por isso que o diretor regional insta os países que agora estão a assistir a um decréscimo no número de novos casos, como os países da Europa ocidental (por oposição à Europa central e do sul), para “usarem tempo de forma ajuizada, considerarem aumentar a infraestrutura dos cuidados de saúde pública e prepararem-se para a próxima vaga”.

“A promessa da vacinação é grande, mas o seu potencial total não será alcançado sem uma forte preparação e a aceitação da comunidade”, alerta Hans Kluge. Por um lado, entende que é preciso garantir às pessoas que “toda a informação e dados dos ensaios clínicos serão minuciosamente verificados para a qualidade, segurança e eficácia pelas autoridades reguladoras nacionais antes de uma vacina ser autorizada para uso”.

Por outro, o diretor regional lembra que é imperativo continuar a praticar medidas de proteção básicas, como o uso de máscara, lavagem das mãos ou ficar em casa se tiverem qualquer sintomas, porque a vacina não estará imediatamente disponível para todos. “Temos de continuar vigilantes, de proteger-nos, de proteger os nossos entes queridos e proteger os profissionais de saúde.”

“A vacina sozinha, pelo menos a curto prazo, não vai acabar com a epidemia. O que vai acabar com esta epidemia são as vacinas em conjunto com outras medidas de saúde pública comprovadas que a OMS já destacou e que os países mostraram que trazem valor”, reforça Siddhartha Datta, conselheiro regional da OMS para as doenças que podem ser prevenidas por vacinação e imunização.

Medidas de confinamento e encerramento de escolas

Entre as medidas que podem ser implementadas pelos governos, Hans Kluge lembra que tudo depende da forma como é feito. Para o diretor regional, onde os governos implementaram medidas firmes, foi possível controlar a pandemia, mas onde houve menos firmeza, não. Isso não quer dizer que a OMS defenda o confinamento total, pelo contrário, diz Hans Kluge, mas dependendo da severidade da transmissão na comunidade implementar medidas gradualmente mais restritivas. Além disso, é preciso estar atento aos efeitos colaterais das medidas, como na saúde mental, violência doméstica, desemprego ou educação.

A educação e a escolas são, para a OMS, um tema importante e a recomendação continua a ser que as escolas se mantenham abertas se isso for possível. “Manter as escolas é possível se diminuirmos os níveis de transmissão a níveis apropriados”, defende Catherine Smallwood, membro do programa de Emergência em Saúde da OMS. Para a especialista, a forma de diminuir a transmissão nas escolas é diminuindo a transmissão na comunidade.

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Hans Kluge reforça que a transmissão nas escolas, incluindo no ensino secundário e superior onde se veem mais casos, depende da transmissão comunitária e do contacto social, quer nos momentos fora da escola ou nos transportes públicos. O diretor regional disse que a OMS está a reunir informação científica sobre o assunto e que na próxima semana vai reunir com os ministros da Saúde e Educação para avaliar a situação.

“Se as escolas tiverem de fechar, temos de prestar uma atenção especial às crianças com necessidades educativas especiais, que foram deixadas sozinhas na primeira vaga”, defende Hans Kluge.

OMS confiante com a aprovação da vacina pelo regulador britânico

Os representantes da OMS foram questionados sobre a rapidez de aprovação da vacina da Pfizer/BioNTech. Siddhartha Datta, conselheiro regional da OMS para as doenças que podem ser prevenidas por vacinação e imunização, considera que a agência do medicamento britânica (MHRA) tem uma experiência de várias décadas neste tipo de avaliação de fármacos antes da aprovação para o uso pela população pelo que está confiante na decisão.

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O conselheiro acrescentou que tanto a OMS como a Agência Europeia do Medicamento (EMA) estão em contacto com o regulador britânico para terem acesso à avaliação feita e destacou a importância de se ter optado por uma avaliação continua dos dados das vacinas que permite começar a analisar a informação sobre qualidade, segurança e eficácia antes dos ensaios clínicos estarem completos. Ou seja, quando os dados finais chegarem às agências reguladoras, parte do dossier que diz respeito a determinada vacina já vai estar analisado, o que reduz o tempo para se obter a autorização.

Acelerar os processos de revisão e avaliação, porque se iniciam mais cedo, não significa saltar passos, destaca Siddhartha Datta.

Correção: Europa ocidental e não Europa de leste como inicialmente escrito.
Atualizado às 14h20