Mesmo com uma vacina conta a Covid-19 o regresso à normalidade não será imediato, até porque quem for vacinado não vai ficar automaticamente protegido contra o novo coronavírus. O alerta é feito por Joaquim Ferreira, professor de Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, em entrevista à Rádio Observador.

“Ninguém esteja convencido que depois de vacinado pode tirar a máscara”

Apesar de a vacinação começar em janeiro — isto contando com a aprovação das agências internacionais do medicamento —, todo o processo será demorado, pelo que o uso de máscaras ou o distanciamento social irá manter-se durante os meses seguintes.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

É um processo lento e no melhor dos cenários, que é as pessoas começarem a ficar protegidas à medida que vão sendo vacinadas, isto é algo que vai durar pelo menos seis meses do próximo ano. Como comunidade, ninguém esteja convencido de que um dia depois de as pessoas serem vacinadas podem tirar a máscara, podem deixar de lavar as mãos e manter a separação física que seguramente será regra ainda durante muitos meses”, afirmou o docente.

Para Joaquim Ferreira seria algo de “notável” se o país começar a voltar “a alguma da normalidade anterior” em setembro ou outubro de 2021, mas alertou que, tendo em conta os grupos prioritários definidos pelo Governo no plano de vacinação contra a Covid-19, apenas cerca de um milhão de pessoas será imunizada, ou seja, “um décimo da população”, o que é “ainda muito pouco”.

“Os dados que temos das vacinas é que a proteção parece já existir eu diria um mês depois da primeira administração. (…) eu esperaria um mês e meio a dois meses até que o efeito protetor da vacina seja algo em que já possamos confiar“, disse o docente, acrescentando que, confirmando-se a eficácia da vacinas, apesar de os dados serem “muito bons” nem toda a gente ficará imune. “A maioria das pessoas fica protegida, mas alguns não vão ficar e não sabemos quem são esses alguns. Mesmo nesses cenários teremos de continuar a ser prudentes.”

Sobre o plano de vacinação, que foi apresentado publicamente esta quinta-feira, diz-se “seguro” relativamente ao documento, sublinhando que o plano tem em conta não só os dados científicos já conhecidos sobre as vacinas, mas também as prioridades em termos de Saúde Pública a nível mundial, como evitar óbitos e doença aguda nas populações mais frágeis e evitar que os seus cuidadores se infetem.

“Num país em que habitualmente somos reativos e tendemos a não planear, já não é mau que um mês antes das vacinas começarem a estar disponíveis haja publicamente dados“, considerou Joaquim Ferreira, indicando que nas próximas semanas serão conhecidos mais detalhes sobre o plano de vacinação.

Grupos prioritários, locais de vacinação, prazos. Conheça o plano do Governo ponto por ponto