As Forças Armadas têm neste momento detetados 240 casos de covid-19 no conjunto dos três ramos militares, revelou, em entrevista à agência Lusa, o diretor de saúde militar, João Jácome de Castro.

Sem indicar o número de testes realizados na instituição militar, o oficial garantiu que as Forças Armadas dispõem de “uma capacidade dinâmica” de testagem.

“Vamos fazendo os testes de acordo com as necessidades”, disse, acrescentando que o Hospital das Forças Armadas tem uma unidade de epidemiologia e de intervenção preventiva, que foi “pioneira na primeira onda” do surto de SARS-CoV-2.

“Penso que criámos aqui no Hospital das Forças Armadas a primeira linha ´drive through´, em que os doentes vêm, fazem o teste e depois seguem para casa sem saírem do carro”, exemplificou.

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O processo desenvolve-se através de uma estrutura de acompanhamento telefónico. “Os doentes ficam referenciados e depois vão sendo acompanhados telefonicamente”, explicou Jácome de Castro.

“Este centro de epidemiologia e intervenção preventiva tem equipas móveis, que se projetam quando há uma suspeita, quando há um surto. As equipas vão, fazem os testes, definem os critérios epidemiológicos, tudo isto em estreita articulação com a Direção-Geral da Saúde”, referiu o médico que dirige a saúde militar.

De acordo com o general, que aconselha o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas para as questões de saúde, foi criado pela cúpula militar um núcleo de planeamento, de apoio à decisão projetado para a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), no sentido de “ajudar a gerir a informação nos hospitais”.

O trabalho passa por saber quantas camas há disponíveis, quantas se prevê que sejam necessárias, quantas estão a chegar ao limite e como deve ser determinado o fluxo de transferência dos doentes: “Isso foi uma mais-valia extraordinária que a equipa de planeamento do Estado-Maior-General das Forças Armadas levou à Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo”.

Só na segunda fase da pandemia, passaram pelo Hospital das Forças Armadas cerca de 150 doentes com covid-19 enviados pelo SNS, no Porto, e 50 em Lisboa.

“Temos alocado um conjunto de camas – 20 em Lisboa e 50 no Porto — às administrações regionais de saúde para apoio. Isso resulta do repensar a estrutura interna do hospital de acordo com as necessidades do país”, sublinhou o responsável.

Desde o início da epidemia em Portugal, em março, foram encaminhados pelo SNS e pelo Ministério da Solidariedade e Segurança Social entre 250 a 300 doentes para o Hospital das Forças Armadas, um hospital central com instalações em Lisboa e no Porto, com valência universitária e onde a par do acompanhamento da crise sanitária se preparam trabalhos para o Congresso de Endocrinologia, em janeiro.

A mais-valia das Forças Armadas numa crise sanitária como a atual é, para o médico e militar, a preparação para atuar “num ambiente de risco e incerteza”.

As forças portuguesas estão também envolvidas no apoio às equipas de rastreio, para as quais destinaram cerca de 250 militares, com capacidade para duplicar o número de elementos nestas ações, o que só ainda não aconteceu porque as ARS “ainda não tiveram capacidade de dar formação a estas equipas”, justificou.

Divididos por 15 equipas, os militares estão a apoiar as ARS de Lisboa e do Norte no rastreio e seguimento dos doentes diagnosticados com covid-19.

Para Jácome de Castro, todos os dias têm sido complexos, desde que Portugal começou “a sentir que havia pressão sobre a população, que havia risco de vida, que havia pressão sobre o sistema de saúde”.

Acredita que as coisas vão melhorar, mas até lá há uma outra preocupação nas Forças Armadas; os cavalos e os cães que fazem parte do efetivo e que estão neste momento a mobilizar a atenção dos veterinários.

“Os veterinários claro que estão em cima dos cavalos e dos cães. Tem sido feito um acompanhamento aliás em termos internacionais e nas estruturas NATO muito de braço dado uns com os outros para que as coisas corram todas pelo melhor e que haja um grande sistema de monitorização”, afirmou.

“Há planos específicos de acompanhamento das doenças dos animais, nomeadamente de doenças relacionadas com aquela que nos preocupa”, acrescentou o oficial durante a entrevista realizada no Hospital das Forças Armadas, em Lisboa, durante a qual traçou um balanço da intervenção militar na atual crise pandémica .

Forças Armadas realizaram 1.500 ações em lares e formaram 20.000 funcionários

As Forças Armadas criaram um plano de apoio para 2.770 lares, ao abrigo do qual realizaram já 1.500 ações e deram formação a 20.000 funcionários sobre normas de atuação no âmbito da pandemia de covid-19.

“Identificámos os problemas que houve nos lares e desenvolvemos e desenhámos no Estado-Maior-General das Forças Armadas todo um plano de apoio aos lares para a segunda fase” da pandemia, disse em entrevista à agência Lusa o diretor de saúde militar, João Jácome de Castro, ao fazer um balanço da intervenção dos militares na crise pandémica provocada pelo novo coronavírus.

Além das ações de desinfeção nos lares, foi ministrada formação aos funcionários sobre os procedimentos a observar na forma de manusear os equipamentos, os circuitos que devem ser instalados dentro das instituições, os cuidados a ter no contacto com os idosos e com as visitas.

“Isso foi uma ação muito enriquecedora do ponto de vista do país e para nós, médicos militares que estivemos envolvidos no desenho”, assumiu.

O trabalho é apoiado pelos diferentes ramos das Forças Armadas – a Marinha, o Exército e a Força Aérea -, sob a coordenação do Estado-Maior-General. Envolve médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outros técnicos, com capacidade para atuar de forma estruturada “nas situações mais adversas”.

O apoio aos lares de idosos no Norte passou, desde logo, pela transferência de 100 doentes destas instituições para o Hospital das Forças no Porto, frisou o general.

“Na maior parte dos países, naquilo a que chamamos as emergências de saúde pública, as Forças Armadas têm um papel determinante, por causa do planeamento, da organização, da forma disciplinada de atuar”, defendeu.

Nos hospitais, prosseguiu, é “extremamente importante” a forma de atuar: “Como médico noto imenso, o comando e o controlo, saber que há uma pessoa que manda, que há uma cadeia hierárquica. E não basta mandar, é preciso que as coisas depois de serem decididas sejam executadas. E depois é preciso fazer a supervisão”.

“Estes aspetos, que parecem elementares, nas Forças Armadas são cultivados”, referiu.

As forças portuguesas mantêm contactos com as congéneres de outros países europeus, mas também no plano da NATO, sobre a atual situação pandémica, revelou quando questionado sobre a troca de informação e partilha de experiências ou procedimentos nas instâncias de cooperação.

“Sim. claro que sim. Ainda ontem [quarta-feira] estive a tarde inteira numa videoconferência com camaradas e colegas da União Europeia e tenho hoje à tarde [quinta] uma reunião, conferência também, com as estruturas médicas da NATO. Há de facto uma articulação entre estruturas de saúde militares nos países da NATO e nos países da União Europeia”, indicou o responsável pela saúde militar em Portugal

“As Forças Armadas são, de facto, um pilar importante na resposta a este tipo de situação”, frisou.

Além da carreira hospitalar, desenvolvida nas várias áreas da medicina, os médicos militares têm uma formação específica na área da saúde militar que os habilita a intervir em situações de crise.

Há também os exercícios militares realizados anualmente e que simulam “situações complexas”, como terramotos, inundações, contextos de crise de emergência de saúde pública.

“Ser médico ou enfermeiro militar torna-nos um pouco diferentes”, admitiu durante a entrevista realizada no Hospital das Forças Armadas, em Lisboa, que definiu como “um hospital igual aos melhores”.