Foi o assunto do dia — de dois dias, aliás. Quando o PSG-Basaksehir desta terça-feira, que entretanto passou a ser o PSG-Basaksehir desta quarta-feira, foi interrompido, o relógio ainda nem sequer tinha concluído o quarto de hora inicial. Os protagonistas do que parece ter sido um novo caso de racismo no futebol foram rapidamente identificados. A novidade? Desta vez, a origem do problema estava num elemento da equipa de arbitragem e não num treinador, num jogador ou num adepto.

Árbitro do PSG-Basaksehir não lê jornais mas explicou-se à família: “Quem me conhece sabe que não sou racista. Pelo menos, assim espero”

Sebastian Coltescu, romeno que atuava esta terça-feira como quatro árbitro, ter-se-á então dirigido a Pierre Webó, adjunto dos turcos, com a expressão “expulsa o negro”, indicando ao árbitro principal que teria de mostrar cartão vermelho ao elemento técnico do Basaksehir. O banco de suplentes do clube turco saltou, em claro desagrado com as palavras escolhidas por Coltescu, e a conversa entre o avançado Demba Ba e o próprio quarto árbitro, em que o primeiro confrontava o segundo, tornou-se viral.

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A hipótese de retomar a partida ainda esta terça-feira sem a presença de Sebastian Coltescu chegou a estar em cima da mesa mas, no fim, ambas as equipas acordaram em recuperar a partida a partir do minuto 14, altura em que foi interrompida, no dia seguinte. A noite trouxe reações de toda a parte, desde jogadores do PSG, como Mbappé e Neymar, o próprio presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, e a UEFA, que suspendeu o cartão vermelho a Pierre Webó e garantiu que vai investigar a situação. Pelo meio, saltou à vista a declaração simples do site Bleacher Report: “Apoiar. Falar. Ajoelhar. Protestar. Parar o jogo. O que for preciso. Não ao racismo”.

Esta quarta-feira, com uma nova equipa de arbitragem, PSG e Basaksehir voltaram a entrar no Parque dos Príncipes. Nas bancadas, era visível o apoio dos franceses ao clube adversário através de uma tarja onde se lia “apoio a Webó…orgulho nos jogadores…contra o racismo”. No aquecimento, todos usaram camisolas onde se lia “Não ao racismo”. No relvado, enquanto se ouvia o arrepiante hino da Liga dos Campeões, os jogadores e os árbitros ajoelharam-se em conjunto, no centro do terreno, num ato exemplar de união contra um problema que no último ano se tornou impossível de ignorar.

A verdade é que, apesar de menos de 24 horas separarem os dois apitos iniciais, as contas eram esta quarta-feira diferentes daquilo que eram esta terça-feira. Sem jogar, o PSG acabou por garantir matematicamente o apuramento para os oitavos de final da Liga dos Campeões, graças à derrota do Manchester United contra o RB Leipzig e consequente eliminação dos ingleses, e entrava agora em campo com a certeza de que irá prosseguir na competição.

Os primeiros instantes da partida, com o português Danilo Pereira a titular do lado francês, acabaram por ser bastante diferentes daqueles a que o Parque dos Príncipes tinha assistido no dia anterior. O Basaksehir, já fora da Europa e sem nada a perder, procurou surpreender o PSG e chegou a ficar perto de abrir o marcador em duas ocasiões. Essa ambição, porém, durou menos de cinco minutos. A equipa de Thomas Tuchel assumiu o controlo do jogo de forma natural logo em seguida e Neymar marcou o primeiro golo ainda antes de estar cumprida a primeira meia-hora, através de um remate em jeito de fora de área (21′). O brasileiro aumentou a conta pessoal e a do PSG pouco depois, ao converter um lance letal de transição ofensiva dos franceses (38′), e ainda sofreu a grande penalidade que Mbappé marcou antes de o árbitro apitar para o intervalo (42′).

Na segunda parte, Tuchel lançou desde logo Di María para tirar Rafinha. O primeiro susto que o PSG desenhou junto da baliza de Gunok foi por intermédio de Bakker, que acertou no poste (48′), mas o quarto golo e a confirmação da goleada apareceram logo depois. Com outro remate impressionante de fora de área, Neymar carimbou o hat-trick e acabou com as já parcas esperanças turcas (50′). O Basaksehir ainda respondeu, com um golo de honra assinado por Topal (57′), mas os franceses responderam logo depois com o bis de Mbappé e garantiram que ainda estavam ligados à partida (62′).

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A partir daí, Tuchel dedicou-se à gestão do jogo, do resultado e da equipa. Tirou Marquinhos, Florenzi, Verratti e Kimpembe, deu minutos a elementos menos utilizados como Kehrer, Pembele, Gueye e Diallo e começou desde logo a pensar na receção ao Lyon, já no domingo, e nos escassos dois pontos que separam as duas equipas no topo da liga francesa. No fim e já sem grandes acontecimentos até ao apito final, o PSG goleou o Basaksehir em casa (5-1), garantiu a liderança do grupo e encerrou com chave de ouro a fase de grupos da Liga dos Campeões. Mas apesar dos seis golos, apesar do hat-trick de Neymar, a verdade é que este era um encontro entre duas equipas que já tinham o destino decidido. E o resultado foi o menos importante de tudo o que aconteceu.