Os Caretos de Podence festejam, no sábado, o primeiro aniversário da elevação a Património Imaterial da Humanidade e querem, como prenda, que o Presidente da República mantenha a promessa feita à aldeia transmontana dos coloridos dos mascarados.

Ainda a pandemia não tinha chegado a Portugal, quando a 23 de fevereiro o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, se juntou a cerca de 50 mil pessoas na pequena aldeia de Macedo de Cavaleiros, em Trás-os-Montes, para participar no primeiro Entrudo Chocalheiro depois da decisão da Organização das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultura (UNESCO), a 12 de dezembro de 2019, em Bogotá, na Colômbia.

O Presidente da República prometeu tentar fazer o possível para conseguir convencer o primeiro-ministro e o Governo a satisfazer o sonho de levar para a aldeia o pavilhão de Portugal da próxima Exposição Universal (Expo) do Dubai, adiada para 2021, depois de desmontado.

Caretos de Podence já são Património Imaterial da Humanidade

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A localidade já tem um projeto para o espaço, o Museu Europeu da Máscara e do Chocalho, mas desde o compromisso do Presidente da República não chegaram mais notícias desta pretensão, como contou à Lusa o presidente da Associação dos Caretos de Podence, António Carneiro, que vai lembrar o assunto nas comemorações programadas para sábado.

Atendendo ao contexto da pandemia, os Caretos não vão ter a festa que gostariam neste primeiro aniversário, mas “um cerimónia simbólica”, com novidades que foram sendo desenvolvidas nos últimos meses.

As deslocações para atuação dos Caretos em várias partes do mundo foram todas canceladas, mas os mascarados tornaram-se motivos para criativos de jogos e marcas como a Castelbel, uma empresa portuguesa de fragrâncias presente em vários países.

A marca lançou um Sabonete dos Caretos de Podence, que era apresentado no sábado, dia em que será descerrada a placa comemorativa da elevação a Património da Humanidade com 12 máscaras ao ar livre alusivas à data.

Os cerca de 200 habitantes de Podence, assim como quem a visita, encontram agora novos murais alusivos aos Caretos e ao Entrudo pintados por artistas locais, uma aposta da associação que quer que “seja a aldeia mais colorida de Portugal” e oferecer motivos para visitar o berço dos caretos durante todo o ano.

António Carneiro tem sido o rosto do percurso dos Caretos de Podence e alerta que não podem “ficar confinados ao selo da UNESCO”.

“Não nos deu dinheiro, nem troféus, deu-nos responsabilidade para manter esta matriz”, vincou, concretizando que agora é necessário continuar a trabalhar na salvaguarda desta tradição.

A aldeia é pequena e precisa de infraestruturas, só possíveis de concretizar, como afirmou, com ajuda do município, para receber os milhares de visitantes que anualmente, já antes da distinção da UNESCO, lotavam os alojamentos de Macedo de Cavaleiros e dos concelhos vizinhos.

Com as limitações do espaço ou da pandemia, António Carneiro deixa uma certeza: “Os Caretos vão sair a rua” no próximo Carnaval”, até porque levam vantagem.

“Os Caretos já têm máscara”, brincou.

“Desde que há Carnaval, os Caretos de Podence saíram sempre à rua. Sabemos que há limitações, mas temos de pensar num plano B”, afirmou.

Se a situação da pandemia não deixar, a festa será vedada ao público ou com as restrições de acordo com as normas sanitárias, que orientarão também as comemorações de sábado, como realçou o responsável.

Os Caretos de Podence marcam a folia de Carnaval no Nordeste Transmontano com coloridos e farfalhudos fatos, máscaras de ferro ou lata, chocalhos à cintura e um pau para amparar as tropelias.

É apontado como “o mais genuíno carnaval português”, sem samba, ao ritmo da tradição.

Em toda a região de Trás-os-Montes há Caretos, todavia os de Podence distinguem-se dos restantes pelo chocalho, daí o nome da festa ser “Entrudo Chocalheiro”.

Os mais emblemáticos mascarados das tradições transmontanas têm representado Portugal em eventos internacionais com presença em dez países.