A Taurus, maior fabricante de armas brasileira, criticou esta quarta-feira a medida do Governo de Jair Bolsonaro que reduz a zero os impostos para importação de pistolas e revólveres no país, garantindo que dará prioridade aos investimentos no exterior.

“Infelizmente, essa medida vai acelerar o processo de priorização de investimentos nas nossas fábricas nos Estados Unidos e na Índia, em detrimento de investimentos que gerariam empregos e riqueza no Brasil”, indicou a fabricante, num comunicado enviado à Bolsa de Valores de São Paulo, onde as suas ações estão cotadas.

A Taurus, com fábricas no Brasil e nos Estados Unidos e com um projeto de construção de uma fábrica na Índia, exporta os seus produtos para cerca de 70 países e é uma das principais fornecedoras de armas importadas de curto alcance para o mercado norte-americano.

A empresa esclareceu que a decisão do Governo brasileiro de reduzir o custo da importação de pistolas e revólveres no Brasil não tem efeito significativo nas suas operações porque o mercado brasileiro representa apenas 15% das suas vendas e que a margem de lucro no país é inferior à gerada pelas exportações.

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“Além disso, somos uma multinacional com fábrica nos Estados Unidos e com futura operação na Índia, pelo que a resolução nos dá as mesmas vantagens”, acrescentou a empresa, dando a entender que poderá sair mais barato para os brasileiros adquirirem uma arma Taurus importada do que comprada no país.

Segundo a Taurus, a empresa passou por uma forte reestruturação nos últimos três anos visando reduzir os seus custos operacionais, o que lhe permite, mesmo com a isenção tributária para armas importadas, oferecer no mercado brasileiro preços mais atrativos do que os seus concorrentes.

A empresa frisou que os seus esforços atuais são para atender os 1,1 milhões de encomendas de armas que recebeu dos Estados Unidos e que equivalem a oito meses de vendas.

A medida que reduz os impostos de importação de pistolas e revólveres dos atuais 20% para zero foi anunciada esta quarta-feira pelo chefe de Estado, Jair Bolsonaro, defensor de longa data da flexibilização das normas para posse e porte de armas no Brasil.

O Presidente de extrema-direita comemorou, numa mensagem nas suas redes sociais, a decisão aprovada no dia anterior pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) do Governo e publicada esta quarta-feira em Diário Oficial da União.

“A Camex publicou uma resolução que reduz a zero a alíquota do Imposto de Importação de Armas (revólveres e pistolas). A medida entra em vigor em 01 de janeiro de 2021″, disse o capitão da reserva do Exército Brasileiro, na sua mensagem, publicando ainda uma fotografia sua com uma arma na mão.

Desde o início do mandato, em janeiro de 2019, Bolsonaro adotou diversas medidas para flexibilizar a posse e o porte de armas no Brasil, o que foi uma das suas principais promessas de campanha.

A flexibilidade começou a surtir efeito em junho de 2019, quando entraram em vigor vários decretos e uma lei que facilitam o acesso a armas e anulam vários pontos do Estatuto do Desarmamento, que o Brasil aprovou em 2003.

Segundo dados oficiais, nos primeiros oito meses deste ano, os brasileiros registaram 105 mil novas armas na Polícia Federal, número 59% superior ao do mesmo período de 2019.