O ministro dos Negócios Estrangeiros saudou esta sexta-feira o seu colega Eduardo Cabrita pela “clareza” com que reagiu à morte de um cidadão ucraniano em instalações do SEF e revelou que ambos pediram desculpa à embaixadora da Ucrânia.

“Nunca vi um ministro da Administração Interna reagir com esta clareza face a um crime cometido por forças e serviços de segurança sob sua tutela como o ministro Eduardo Cabrita. Portanto, acho que se ele merece alguma coisa aqui, é cumprimentos por isso”, assinalou Augusto Santos Silva em entrevista ao programa Geometria Variável, da Antena1.

O número três da hierarquia do executivo, após António Costa e Siza Vieira, afirmou que o ministro da Administração Interna e ele próprio, mal tiveram conhecimentos dos factos, pediram desculpa à embaixadora da Ucrânia em Lisboa e garantiram-lhe que as responsabilidades iriam ser apuradas.

O sr. ministro da Administração Interna, mal teve conhecimento deste facto, reuniu presencialmente com a senhora embaixadora da Ucrânia em Portugal. E eu, mal tive conhecimento deste facto, telefonei à senhora embaixadora da Ucrânia em Portugal, e ambos dissemos a mesma coisa: desde logo pedimos desculpa pelo que tinha acontecido e garantimos que as responsabilidades iam ser apuradas”.

Santos Silva admitiu que “é uma questão legítima” que se questione se deveriam ter pedido diretamente desculpa à família do cidadão ucraniano, embora notando que “esta é uma prática habitual” nestes casos.

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Na entrevista, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros reconhece também que a diretora do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) não se demitiu imediatamente, quando se tornou público que Ihor Homenyuk tinha sido torturado até à morte nas instalações daquele serviço no aeroporto de Lisboa.

Mas “para que a avaliação seja justa convém não esquecer parte dos factos” e o ministro lembrou que “todos os responsáveis diretos e indiretos pelo funcionamento do centro de detenção de Lisboa onde essa tortura e espancamento até à morte ocorreram foram demitidos e os procedimentos foram alterados”.

Augusto Santos Silva considerou ainda que, logo em março, quando a morte do cidadão ucraniano foi tornada pública, Eduardo Cabrita usou “a expressão que melhor caracteriza a reação do Governo: ‘levei um murro no estômago como nunca tinha levado na minha vida pública”.

“Sentimo-nos todos assim” no Governo, concluiu o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.

Na quinta-feira, o Conselho de Ministros tornou público que o Estado português vai pagar uma indemnização à família do cidadão ucraniano que foi morto em 12 de março em instalações do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) no aeroporto de Lisboa.

A morte de Ihor Homenyuk nas instalações do SEF levou à acusação de três inspetores daquele serviço por homicídio qualificado, cujo julgamento vai começar no próximo ano.