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John Coltrane. Há 60 anos passou por aqui um gigante

Este artigo tem mais de 3 anos

O 60.º aniversário da edição de "Giant Steps", de John Coltrane, é assinalado com uma reedição que inclui um disco-bónus com as gravações que ficaram fora do disco original.

John Coltrane Recording
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John Coltrane, um dos mais importantes e influentes saxofonistas da história do jazz

Michael Ochs Archives

John Coltrane, um dos mais importantes e influentes saxofonistas da história do jazz

Michael Ochs Archives

“Juntamente com Sonny Rollins, John Coltrane tornou-se no mais influente e controverso saxofonista tenor do jazz moderno. Ele está a tornar-se, de facto, mais controverso e, possivelmente, mais influente do que Rollins”.

Era com estas considerações, assinadas pelo crítico Nat Hentoff, que abriam, em 1960, as notas de capa de Giant Steps. Os anos seguintes dariam razão a Hentoff: por um lado, Rollins, que em 1956-58 lançara, na qualidade de líder, 14 (catorze!) LPs, muitos deles de importância capital, passou por uma fase de questionamento existencial e artístico que se traduziu em mais de dois anos de silêncio. Quando regressou aos palcos, em Novembro de 1961, e aos discos, com The Bridge, em 1962, a sua técnica estava ainda mais apurada, mas parecia ter perdido o foco e levou o resto da década a andar em círculos (aos 90 anos, continua activo e a andar em círculos). Pelo seu lado, Coltrane, após quatro discos de relevo na Atlantic, mudar-se-ia em 1961 para a Impulse!, onde cometeria feitos mais ousados e controversos do que Hentoff poderia imaginar em 1960, antes de sucumbir, em 1967, aos 40 anos, a um cancro no fígado.

O título de “mais influente e controverso saxofonista tenor do jazz moderno” que Hentoff lhe atribui tinha começado a ser conquistado em 1955-57 no quinteto de Miles Davis, ganhara consistência no período em que foi sideman de Thelonious Monk em 1957, fora cimentado por três discos como líder para a Prestige e um para a Blue Note, em 1957-58, e pelo 2.º período com Miles Davis, em 1958-60.

Jazz Duet

Miles Davis e John Coltrane, c.1958

Getty Images

Entretanto, em 1959, findo o contrato com a Prestige, editora empenhada na divulgação da vanguarda jazzística mas com meios modestos, Coltrane assinou contrato com a Atlantic, editora de dimensão média cujo sucesso na área da pop e R&B a levara a alargar as operações ao jazz. A primeira sessão de Coltrane na nova casa teve lugar a 19 de Janeiro de 1959 sob a liderança de Milton “Bags” Jackson, vibrafonista do Modern Jazz Quartet, grupo que fora, em 1958, uma das primeiras contratações de vulto da Atlantic na área do jazz. O álbum que daí resultou só seria lançado em Julho de 1961, com um título que, por razões comerciais, colocava Coltrane ao nível de Jackson – Bags & Trane –, mas não deixa de ser um álbum de Jackson, pois este assina todas as composições e Coltrane tem uma intervenção bem mais convencional e contido do que nos seus próprios discos.

A razão para a Atlantic tentar realçar o protagonismo de Coltrane em Bags & Trane está na excitação gerada no meio jazzístico por Giant Steps, surgido em Janeiro de 1960, e por Coltrane jazz e My favorite things, surgidos em Fevereiro e Março de 1961, respectivamente.

Em 1959, quando Coltrane começou a preparar o que viria a ser o seu primeiro disco na Atlantic, o saxofonista não formara ainda uma banda sua, pelo que procedeu de forma exploratória, ensaiando diversas formações. Da primeira sessão, a 26 de Março de 1959, com Cedar Walton (piano), Paul Chambers (contrabaixo) e Lex Humphries, nenhuma faixa seria aproveitada. Das sessões de 4 e 5 de Maio, com Tommy Flanagan (piano), Chambers e Art Taylor (bateria) seriam retidas seis faixas, a que se somaria uma faixa da sessão de 2 de Dezembro, com o pianista Wynton Kelly, Chambers e o baterista Jimmy Cobb (músicos do quinteto de Miles, com quem Coltrane gravara, poucos meses antes, o lendário Kind of Blue). Giant Steps é, portanto, uma “manta de retalhos”, o que não impede de ser um disco coeso, que dá a ouvir um Coltrane bem mais audacioso e heterodoxo do que nos registos que fizera, como líder, para a Prestige.

[“Giant steps”, de Giant Steps (edição remasterizada de 2020):]

O tema “Countdown” desafiava as convenções da época, não tanto pela velocidade vertiginosa, mas pela intensidade e por confiar a sua primeira metade apenas a saxofone e bateria, e o desafiante “Giant steps”, a terna balada “Naima” dedicada à esposa do saxofonista) e o impetuoso “Mr. PC” (uma homenagem ao contrabaixista Paul Chambers) entrariam no repertório dos músicos de jazz e continuam hoje a ser objecto de estudo, treino e reinterpretação.

[“Countdown”, de Giant Steps (edição remasterizada de 2020):]

Os músicos das sessões que deram origem a Giant Steps estavam entre os melhores e mais requisitados do seu tempo, mas estavam enraizados nas rotinas do bebop e não se sentiam à vontade com as inovadoras composições de Coltrane. Este não estava interessado em fazer música segundo fórmulas nem a repetir o que já tinha feito e ficaria incomodado por, a partir de 1961, a Prestige, tirando partido do renome adquirido pelo saxofonista, ter começado a editar sessões inéditas gravadas em 1957-58. Assim sendo, continuou a experimentar novas vias e novos parceiros, até que em 1960 encontrou o pianista McCoy Tyner e o baterista Elvin Jones, que, com o contrabaixista Jimmy Garrison, recrutado em 1962, formariam o “quarteto clássico” dos seus primeiros anos na Impulse!.

[“Naima”, de Giant steps (edição remasterizada de 2020):]

A reedição comemorativa dos 60 anos de Giant Steps alarga-se por um segundo disco, mas não revela inéditos: as oito outtakes das sessões de 1959 aqui incluídas já tinham surgido na caixa de sete CDs The heavyweight champion: The complete Atlantic recordings, surgida em 1995 – a vantagem é que, enquanto The heavyweight champion rearruma as faixas por ordem cronológica das sessões (desmantelando os álbuns originais), esta reedição de Giant Steps atribui o CD1 ao álbum original e remete a as outtakes para o CD2, o que é muito mais conveniente. A remasterização trouxe melhorias ao som, embora pouco possa fazer pelo piano tíbio e “encaixotado”, que era regra na época (seriam precisos mais alguns anos até os discos de jazz ganharem um som de piano aceitável). O livrete não só reproduz as notas de capa originais como acrescenta um instrutivo ensaio de 15 páginas por Ashley Khan (um eminente “coltranólogo”), que providencia contexto para o disco e entrevista alguns saxofonistas hoje no activo sobre o legado de Coltrane e de Giant Steps.

[“Mr. PC”, de Giant steps (edição remasterizada de 2020):]

Em resumo: quem já possua a caixa The heavyweight champion está bem servido, quem possua a edição “corrente” de Giant Steps poderá sentir-se tentado pelo som levemente superior e pelo disco com extras, quem não possua Giant Steps não deve hesitar em adquirir esta edição (Atlantic/Warner).

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