Quem sonha em comprar um superdesportivo de vários milhões de euros, tende a imaginar-se a explorar ao máximo o bólide. Mas a realidade é que quem adquire um automóvel deste calibre raramente anda no carro. Os números avançados pelo CEO da Lamborghini e da Bugatti, Stephan Winkelmann, em entrevista à Top Gear, revelam que entre o sonho e a realidade vai uma curta distância: de somente 1609 km/ano.

Em média, é essa a quilometragem anual de um Bugatti Chiron, o que significa que os proprietários do superdesportivo francês percorrem à volta de 4,4 km por dia… Ou seja, este tipo de modelos raramente sai à rua, defendeu Winkelmann, com isso sugerindo que, como o Chiron anda pouco, não polui quase nada. Isto apesar de montar um W16 com 8 litros de capacidade, soprado por quatro turbocompressores, que coloca no asfalto 1500 cv, potência passada às quatro rodas através de uma caixa de dupla embraiagem com sete velocidades.

O coupé é listado pela EPA como dos menos eficientes em matéria de “economia de combustível”, o que se percebe quando o consumo homologado é de 22,5 l/100km (ciclo misto, em cidade e auto-estrada, segundo o método NEDC) com as correspondentes emissões de CO2 de 516 g/km – cinco vezes acima do limite imposto por Bruxelas para 2020. Apesar do dióxido de carbono não ser um poluente, é um dos responsáveis pelo aquecimento global e, logo, pelas alterações climáticas, o que o coloca no topo das preocupações da União Europeia. Mas, seguindo o raciocínio de Winkelmann, para haver emissões é preciso que o carro circule, o que poucas vezes acontece.

A isso acresce que que, no caso concreto da Bugatti, estamos perante um fabricante de baixo volume, que produz menos de 100 carros/ano. Como tal, argumenta o CEO, “não se pode acusar este modelo de ter um severo impacto nas emissões”. Por isso, Winkelmann defende que vai manter o motor de combustão “o máximo tempo possível”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Fazendo umas contas rápidas, a Bugatti entrega anualmente cerca de 100 unidades do Chiron a clientes, que depois percorrem com eles uma média de 1609 km por ano, num modelo que emite 516g de CO2/km. Isto perfaz 83 toneladas de CO2 por ano para a totalidade das unidades vendidas. Comparativamente, o mais barato e menos potente dos VW Golf, equipado não com um W16 de 1500 cv, mas sim com um pequeno 1.0 TSI de 110 cv, emite 121g de CO2/km. Este tipo de veículos percorre em média 15.000 km/ano e como o Golf é o modelo mais vendido na Europa, superando as 780.000 unidades anualmente, gera no total mais de 1,4 milhões de toneladas de CO2. E daí que os Chiron emitam menos dióxido de carbono do que os acessíveis e populares Golf.

Não há que esperar um superdesportivo 100% eléctrico, seja com emblema da Lamborghini ou da Bugatti, antes de 2030, adianta o responsável máximo destas duas marcas. Segundo ele, a tecnologia ainda não evoluiu o suficiente, em termos de autonomia, recarga e performance – afirmação com que certamente discordará Mate Rimac, fundador da Rimac, pequeno fabricante croata de superdesportivos eléctricos que foi dado pela imprensa alemã como “comprador” da Bugatti.

Winkelmann alega ainda que a “aceitação” também tem de ser tida em conta. E não é evidente que clientes habituados à sonoridade de um V8, V10 e V12, na Lamborghini, ou W16, na Bugatti, sendo assumidos apreciadores da “melodia” de um motor a combustão, estejam preparados para “passar” para um superdesportivo 100% eléctrico.

No caso da Bugatti, o W16 continua em alta. Mesmo em “modo de sobrevivência”, por causa da pandemia, toda a produção da marca francesa prevista para 2020 foi vendida e “75% da produção para 2021 também já tem dono”.