A Confederação Empresarial de Portugal (CIP) avançou esta segunda-feira que a pandemia de Covid-19 já provocou cerca de 110 mil despedimentos, defendendo que é importante garantir que as novas medidas lançadas pelo executivo surtem o efeito necessário.
“Sabemos hoje que já se perderam qualquer coisa como 110 mil postos de trabalho”, adiantou António Saraiva, na apresentação online de um inquérito desenvolvido com o Marketing FutureCast Lab do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa. O também empresário notou que, se o Governo tivesse adotado as medidas apresentadas pela CIP no início da pandemia, teria sido possível evitar “algumas das falências e salvaguardar alguns desses postos de trabalho”.
Assim, a confederação exigiu que seja assegurado que as medidas, avançadas pelo Governo para mitigar o impacto da pandemia, vão cumprir o seu objetivo. Para isso, defendeu ser necessário que estas não tenham “difíceis processos de candidatura e complexos formulários”.
Mais de 80% das empresas consideram que apoio do Estado está aquém
Cerca de 83% das empresas consideram que os programas de apoio do Estado, para mitigar o impacto da pandemia, estão aquém do necessário, segundo um estudo da CIP.
Na semana de 4 de dezembro, 83% das empresas considera que os programas de apoio estão aquém (ou muito aquém) do que necessitam”, lê-se na análise.
A opinião dos empresários face aos apoios do executivo manteve-se “estável”, após o agravamento registado no mês anterior. Entre novembro e dezembro, o número de empresas que pediu financiamento bancário subiu de 44% para 46%, enquanto o número de empresas que ainda não receberam esse financiamento avançou de 8% para 11%.
Por sua vez, no que se refere aos prazos de pagamento, 73% das empresas afirmaram que estes se mantiveram, em novembro face ao período homólogo, enquanto 18% aumentaram, sendo que a média do aumento se fixa em 40 dias.
No período em causa, 64% das empresas efetuaram vendas só a clientes habituais, enquanto 36% realizaram a novos clientes. Os prazos de recebimento mantiveram-se para 61% das empresas, diminuíram para 10% e aumentaram para 29%.
De forma geral as encomendas em carteira estão a diminuir em muito mais empresas do que aquelas que estão a aumentar (44% versus 12%). Face a 01 de novembro este indicador teve uma ligeira melhoria em número de empresas (passou de 46% para 44% o número de empresas em que diminuiu), assim como no valor da diminuição (passou de 40% para 37%)”, indicou.
O estudo considerou um universo de 150 mil empresas, com uma amostra de 431 empresas para um erro máximo de 4,7% para um índice de confiança de 95%.
Por setor, destacam-se as empresas de indústria e energia, que representam metade da amostra, seguida pelos outros serviços (24%) e o comércio (10%). Já no que se refere à dimensão, a amostra é maioritariamente (71%) constituída por micro e pequenas empresas, representando as de dimensão média 22% e as grandes 7%.
Governo tem que agilizar resposta e não ficar à espera de Bruxelas
O presidente da CIP defendeu que o Governo tem que agilizar a resposta às empresas impactadas pela pandemia de Covid-19, e não ficar à espera dos fundos europeus.
O Governo tem que agilizar a resposta e não pode ficar, como tudo indica, à espera dos fundos comunitários […]. Temos que agilizar algumas soluções e medidas de apoio. O Governo tem estado com muita cautela à espera dos fundos comunitários”, afirmou António Saraiva.
Para este responsável, o executivo tem que ser “mais ousado” e comparar-se com outros Estados europeus, que têm “acudido de forma mais célere” a sua economia. Apesar de ressalvar que as contas públicas exigem alguma sensatez, o presidente da CIP vincou que “a economia tem regras que não se compadecem com esta necessidade”.