O ex-cônsul da Ucrânia em Portugal, Volodymyr Kamarchuk, garantiu que transmitiu as condolências do Governo português à família de Ihor Homeniuk, o cidadão ucraniano alegadamente morto por três agentes do SEF, no aeroporto de Lisboa. Em entrevista à RTP, o diplomata adiantou que o fez por telefone duas vezes: uma em nome do ministro dos Negócios Estrangeiros e outro em nome do ministro da Administração Interna.

Não importa se foi escrito ou falado. O que importa é que foi feito”, afirmou Volodymyr Kamarchuk que saiu de Portugal em setembro, uma vez que a sua missão já tinha terminado em dezembro no ano passado.

O diplomata defendeu no entanto que a viúva de Ihor Homeniuk pode ter desvalorizado a mensagem. “Ela percebeu [que vinha do Governo português], mas para ser honesto não foi muito importante para ela naquele momento. Porque foi uma grande tensão para ela ter esta informação de como o marido morreu”, detalhou à RTP.

Já o advogado da família mantém que a Oksana Homeniuk “não se apercebeu de qualquer pedido de condolências”. E deixa perguntas no ar: “Será que os serviços consulares em Kiev funcionavam? Será que não podiam ter ido à procura desta senhora?“.

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Embaixadora da Ucrânia abandona entrevista sobre caso Ihor quando confrontada com condolências enviadas em abril

A embaixadora da Ucrânia em Portugal tinha dito que tivera um encontro em abril com o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, em que ele enviou as condolências. Quando questionada sobre se, depois, se transmitiu a mensagem à viúva, a diplomata InnaOhnivets respondeu que o fez “através do cônsul”. No entanto, a embaixadora acabou por levantar-se e deixar a entrevista a meio, deixando dúvidas sobre se essas condolências chegaram à família — uma hipótese agora afastada por Volodymyr Kamarchuk, que garante tê-lo feito por duas vezes.

Ihor Homenyuk morreu a 12 de março no Centro de Instalação Temporária do aeroporto de Lisboa, dois dias depois de ter desembarcado, com um visto de turista, vindo da Turquia. De acordo com a investigação, o SEF terá impedido a entrada do cidadão ucraniano e decidido que teria de regressar ao seu país no voo seguinte. As autoridades terão tentado por duas vezes colocar o homem de 40 anos no avião, mas este terá reagido mal: foi levado às urgências do Hospital de Santa Maria e, antes da meia-noite do dia 11, terá sido levado pelo SEF para uma sala de assistência médica nas instalações do aeroporto, isolado dos restantes passageiros, onde terá sido amarrado e agredido violentamente, acabando por morrer.

“Isto aqui é para ninguém ver”. As 56 horas que levaram à morte de um ucraniano no aeroporto de Lisboa

Apesar de no relatório o SEF ter descrito o óbito como natural, o médico legista que autopsiou o corpo não teve dúvidas de que tinha havido um crime, alertando imediatamente a PJ, que acabaria também por receber uma denúncia anónima que referia que Ihor Homenyuk tinha ficado “todo amassado na cara e com escoriações nos braços”.

Os inspetores do SEF foram detidos no final de março e encontram-se em prisão domiciliária por causa da pandemia de Covid-19. Nunca prestaram declarações nem contaram alguma vez a sua versão da história.