Uma equipa de investigadores desenvolveu uma solução para possibilitar a auscultação convencional em pacientes Covid-19, anunciou esta terça-feira a Universidade de Coimbra (UC), referindo a impossibilidade de utilização do estetoscópio na prática médica por risco de contágio.

A solução agora criada permite a ligação entre um estetoscópio colocado no doente infetado pelo novo coronavírus e o médico, através de um telemóvel android, um estetoscópio eletrónico comercial e uns auriculares.

O estetoscópio é um instrumento essencial na prática da medicina”, mas, face à pandemia de covid-19, “os médicos, especialmente os pneumologistas e internistas, foram obrigados a abandonar este meio de diagnóstico, devido às medidas de proteção individual exigidas aos profissionais de saúde e à imposição de uma distância segura dos pacientes infetados, para evitar o risco de contágio”.

A impossibilidade do uso do estetoscópio, destaca a nota, gera “dificuldades no diagnóstico e na avaliação adequada dos pacientes com Covid-19 e obriga a recorrer a outros meios de diagnóstico mais dispendiosos, como o raio X ou ecografia”.

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Este “grande obstáculo” acaba de ser ultrapassado, “graças a uma solução tecnológica” desenvolvida por uma equipa de cientistas da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, em parceria com os médicos Carlos Robalo Cordeiro e Tiago Alfaro, do Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

“Basicamente, os cientistas desenvolveram um software que permite a ligação remota entre o estetoscópio colocado no doente e o médico, através de um telemóvel android, um estetoscópio eletrónico comercial e uns auriculares”, sintetiza a UC, referindo que “a ligação pode ser efetuada por cabo ou por sistema Bluetooth”.

Trata-se de “uma solução de engenharia muito simples, mas que resolve um grande problema operacional que os médicos enfrentam, permitindo restabelecer o uso de um instrumento essencial de diagnóstico e prognóstico”, afirmam os autores da solução, Henrique Madeira, João Santos e Paulo de Carvalho, do Centro de Informática e Sistemas da UC.

“Com a auscultação pulmonar ouvem-se e distinguem-se sons característicos de diversas situações clínicas broncopulmonares. Com esta solução, será possível obter essas úteis informações de modo remoto e permitir uma tomada de posição terapêutica sustentada”, salienta, por seu lado, o pneumologista Carlos Robalo Cordeiro.

A solução vai ser disponibilizada gratuitamente a toda a comunidade médica internacional.

Para isso, adianta a UC, “basta efetuar o download da aplicação SafeSteth na Google Play Store e adquirir um estetoscópio eletrónico Littmann, cujo valor comercial varia entre 200 e 300 euros.

Os investigadores vão também colocar o código fonte (software) em domínio público, para que outros cientistas possam contribuir para melhorar e/ou alargar as funcionalidades da solução agora desenvolvida.

Esta tecnologia foi criada no âmbito do projeto de investigação “Lung@ICU – Ferramentas avançadas para diagnóstico e prognóstico em pneumologia @ Cuidados Intensivos”, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, “centrado no desenvolvimento de um conjunto integrado de ferramentas de diagnóstico e prognóstico baseado em inteligência artificial, com base em auscultação remota de som torácico e tomografia por impedância elétrica”.

Este projeto tem como objetivo dar resposta a três grandes desafios enfrentados nos atuais ambientes hospitalares para combater doenças pandémicas: “dificuldades no diagnóstico e avaliação adequada dos pacientes com Covid-19, escassez de profissionais treinados em pneumologia e unidades de cuidados intensivos, e necessidade de ferramentas de apoio à decisão adequadas para o diagnóstico e prognóstico preciso da evolução da doença”, conclui a UC.