Há momentos de viragem ao longo de todas as temporadas, para o bem ou para o mal. Em Paços de Ferreira, esse tornou-se o ponto. “Essa derrota foi uma chapada jeitosa, sinceramente. Pelo menos para mim. Foi o pior jogo que orientei desde que estou no FC Porto. Houve muita coisa má e pior que aquele jogo acho difícil de acontecer. Estamos a trabalhar diariamente para a evolução dos jogadores e da equipa e estamos a preparar o jogo para cometermos menos erros. A presença na Final Four é um objetivo também, tal como ganhar a competição”, admitiu Sérgio Conceição, recordando aquela que foi a última derrota dos azuis e brancos esta temporada antes de uma série com oito vitórias e um único empate na receção ao Manchester City, que valeu a passagem aos oitavos.

O que mudou? Sobretudo, a dinâmica da equipa, que se divide depois em melhorias em vários aspetos como o setor defensivo, que em Paços de Ferreira sem Pepe esteve muito aquém do esperado, a construção de jogo, a largura que o conjunto consegue dar à parte ofensiva e a melhor integração dos reforços para a nova temporada. No entanto, e entre essa série de triunfos, os dois últimos encontros frente ao Tondela mostraram um outro lado dos dragões, com algumas falhas de concentração e erros nas transições que colocaram em perigo as vitórias para a Primeira Liga e para a Taça de Portugal. Seguia-se a Taça da Liga, também sem margem de erro, e um adversário capaz, com argumentos para discutir o resultado como fez na Luz com o Benfica para o Campeonato, mesmo atravessando uma fase de maior densidade competitiva que se sentiu na deslocação recente a Alvalade.

“Esperamos aquilo que o P. Ferreira tem feito nas diferentes competições. Têm uma identidade que conhecemos, tendo de mudar um ou outro jogador não vai mudar com certeza aquilo que é a dinâmica da equipa. Nunca sabemos o que o adversário prepara em termos estratégicos, temos de estar preparados mas principalmente estar focados na nossa equipa. É um adversário que já defrontámos esta época, num jogo em que cometemos muitos erros. Acho que vai ser um P. Ferreira competente como tem sido ao longo desta época, à exceção do jogo com o Sporting. É uma equipa difícil de contrariar: tem gente muito disponível no corredor central, um meio-campo muito ativo na conquista na bola e também quando tem a bola”, referiu o técnico azul e branco, abordando outros factores paralelos como a série de jogos seguidos e as ambições do clube na Taça da Liga.

“Ganhar faz parte do nosso trabalho e da nossa vida neste clube porque quando não se ganha, como aconteceu nesse jogo [em Paços de Ferreira], é anormal, tendo em conta a nossa capacidade, a nossa qualidade e o que é representar um clube como o FC Porto. Depois de um jogo mau, refletimos sobre o que não correu tão bem e olhámos para o ciclo de jogos que tínhamos pela frente, todos eles decisivos, tanto na Liga dos Campeões como na Allianz Cup, Taça de Portugal e campeonato. Não nos podíamos dar ao luxo de deixar mais pontos pelo caminho, porque corríamos o risco de ficar muito distantes do primeiro lugar (…) Cada jogo para nós é uma final, é o preço de representar um clube como o nosso, ganhador. Não podemos baixar a guarda porque corremos o risco de num momento desses sair da luta por uma dessas provas e não queremos”, destacou no lançamento do jogo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mesmo estando a atravessar uma fase particularmente cheia do calendário, esta receção ao P. Ferreira era mais um degrau até ao final do ano, sabendo o FC Porto que, antes e depois do Natal, ainda tem uma sempre complicada receção ao Nacional, uma deslocação a Guimarães (ambas para o Campeonato) e a Supertaça com o Benfica. No final, sobrou a vitória. E uma chapada. Não pelo resultado final, que permitiu aos dragões seguirem para a Final Four da Taça da Liga, não pela exibição, embora a primeira parte tenha sido fraca em termos ofensivos, mas pela lesão de Pepe. O capitão voltou esta noite, devolveu a estabilidade à equipa cá atrás, teve influência direta nas bolas parada ofensivas mas saiu lesionado na cara perante a apreensão do banco portista e abriu espaço para mais um final com os campeões nacionais a não conseguirem controlar o jogo a ponto de levarem uma bola no poste.

Na noite em que Sérgio Conceição se tornou o treinador do FC Porto com mais encontros no comando da equipa no Dragão, superando o registo máximo que pertencia a Jesualdo Ferreira (90-89), o técnico saiu com a sensação de dever cumprido mas mostrou-se incrédulo pelo azar que bateu à porta de Pepe, titular para começar a ganhar minutos de competição após a lesão que foi obrigado a sair perante muitas preocupações e com o técnico a dar duas palmadas de alento ao central e capitão que saiu diretamente para os balneários na noite do regresso.

O encontro começou com uma imagem “falsa” em relação ao que se passaria nos 45 minutos iniciais. Com a equipa do FC Porto apostada em entrar bem e criar cedo uma margem de conforto, Luis Díaz fez a diagonal da esquerda para a área, aproveitou um ressalto em Corona e rematou para grande defesa de Jordi com uma só mão no ar (4′). No entanto, esse seria um oásis no deserto que seria a primeira parte a nível de oportunidades e até remates que fossem enquadrados com a baliza, num jogo disputado em alguns períodos em velocidade cruzeiro onde os azuis e brancos estiveram sempre por cima e com mais posse mas sem conseguirem criar desequilíbrios na frente.

Ainda houve um cabeceamento de Toni Martínez por cima (26′) e um livre direto de Sérgio Oliveira perto da área que passou perto do poste (29′) mas os dragões chocaram com uma equipa do P. Ferreira bem organizada, a tapar todos os espaços no corredor central onde Corona andou na maioria do tempo a jogar no apoio a Toni Martínez e a beneficiar da falta de profundidade dos laterais portistas – Nanu quase por receio de ser depois apanhado fora de pé numa transição, Sarr por falta de rotinas jogando na esquerda. Foi nesse contexto que os castores, mesmo sem a capacidade de saída que apresentaram por exemplo na Capital do Móvel diante dos dragões, foram segurando o nulo, tendo um remate com perigo de João Amaral que saiu a rasar o poste de Diogo Costa (33′). Ao intervalo, Grujic foi ao balneário e voltou para treinar grandes penalidades, um cenário que era indesejado pelo FC Porto (até pelo histórico recente nos desempates). E a mexida feita por Sérgio Conceição mostrou isso mesmo.

Sem paciência para mais um jogo completamente ao lado de Felipe Anderson (é certo que à direita tem tendência para render menos pelas suas características mas a exibição foi demasiado pálida para um jogador que já brilhou na Premier League…), o técnico lançou Otávio, colocou Corona mais na direita e voltou a uma fórmula original que trouxe melhores resultados: após os minutos iniciais em que o P. Ferreira teve um pouco mais de bola e andou em zonas mais subidas do terreno, o FC Porto assumiu o controlo do jogo, ganhou largura pela direita com Nanu a subir muito de produção e profundidade pela esquerda com Luis Díaz mais aberto e ficou perto de marcar em três ocasiões, incluindo uma em que Toni Martínez, no seguimento de um lançamento lateral com desvio de cabeça ao primeiro poste de Diogo Leite, acertou na trave (64′). Não foi aí, foi pouco depois e também no seguimento de mais um lançamento de Corona, desta vez com Pepe a desviar e Sarr a aproveitar uma bola a pingar depois de Jordi não ter conseguido aliviar para fazer o primeiro golo no jogo e no FC Porto (73′).

Em vantagem, os dragões tinham chegado à sua zona de conforto antes de sofrerem um duro revés com a saída de Pepe, que chocou com Toni Martínez e teve de sair em visíveis dificuldades com uma lesão no lado esquerdo da cara. Entrou Wilson Manafá para a esquerda, Sarr passou para o meio, continuou Nanu a destacar-se na direita, desta vez com uma grande combinação com Corona para assistir Luis Díaz aumentar a vantagem (80′). Parecia que estava tudo resolvido mas um remate de meia distância de Adriano Castanheira (82′) veio expôr mais uma vez a tremideira defensiva do FC Porto, que sem Pepe perdeu consistência no eixo recuado e que, por não conseguir ter mais posse para deixar os minutos passarem, ainda viu Eustáquio acertar no poste de cabeça na área após cruzamento do Fernando Fonseca na direita, à semelhança do que tinha acontecido com o Tondela na Liga.