Os doentes internados com Covid-19 têm um risco maior de desenvolverem problemas noutros órgãos além dos pulmões e de morrer do que os doentes internados com gripe. As conclusões são de uma equipa da Universidade de Saint Louis (Estados Unidos) e foram publicadas na revista científica BMJ.

“A Covid-19 também foi associado ao aumento do uso de recursos de saúde, incluindo o uso de ventilador mecânico, admissão em terapia intensiva e tempo de internação hospitalar e quase cinco vezes o risco de morte”, escreveram os autores do artigo.

A lista compilada pela equipa que inclui um epidemiologista, um bioestatístico e dois médicos é extensa. Quando comparada com a gripe sazonal, a Covid-19 estava associada a maior risco de lesão renal aguda, choque séptico grave, embolia pulmonar, acidente vascular cerebral, arritmias e morte cardíaca súbita, uso de ventilador mecânico, admissão à terapia intensiva, e outros tantos problemas de saúde ou intervenções de emergência.

Mas uma das maiores surpresas foi que nove em cada 100 doentes com Covid-19 desenvolveu diabetes pela primeira vez durante o período em que estiveram doentes. “O açúcar no sangue disparou e eles precisaram de grandes doses de insulina. A diabetes é reversível ou exigirá tratamento a longo prazo? Será diabetes de tipo 1 ou tipo 2? Não sabemos, porque a Covid-19 mal existia há um ano”, disse Ziyad Al-Aly, coordenador do estudo e investigador na Universidade Washington, em Saint Louis.

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“Podemos chamar à Covid-19 uma doença respiratória o quanto quisermos, mas se olharmos para as consequências clínicas associadas, pode causar danos significativos no cérebro, fígado, coração, rins e sistemas de coagulação do sangue. É um vírus destrutivo”, disse Ziyad Al-Aly.

As diferenças na taxa de mortalidade, entre doentes internados com Covid-19 e gripe, foi ainda maior em pessoas com mais de 75 anos com doença renal crónica ou demência e entre negros obesos, diabéticos ou com doença renal crónica.

Os dados são do Departamento dos Assuntos de Veteranos norte-americano, o maior sistema integrado de prestação de cuidados de saúde do país e inclui 3.641 internados com Covid-19 entre 1 de fevereiro e 17 de junho e 12.676 internados com gripe entre 1 de janeiro de 2017 e 31 de dezembro de 2019. Entre os doentes analisados, morreram 676 com Covid-19 (18,5%) e 674 com gripe (5,3%).

Os Estados Unidos estão a entrar no período normal da época da gripe ao mesmo tempo que estão a reportar mais de 200 mil casos por dia de infeção com SARS-CoV-2 e, no dia 16 de dezembro, atingiram o maior número de mortes num dia: 3.538, segundo o Worldometer. Os investigadores esperam que os resultados deste trabalho possam ajudar a preparar melhor a resposta no combate à pandemia.