O Movimento por um Jardim Ferroviário na Boavista enviou esta sexta-feira uma carta aberta à Infraestruturas de Portugal (IP) e à Câmara Municipal do Porto (CMP) onde pede transparência na comunicação e uma discussão pública sobre o futuro da antiga estação ferroviária da Boavista, defendendo a sua preservação.

Em causa está a aprovação da autarquia, em outubro, ao Pedido de Informação Prévia (PIP) relativo ao projeto do El Corte Inglés, onde estão previstas, além de um grande armazém comercial, instalações de um hotel, um edifício para habitação, comércio e serviços. Até ao momento, a cadeia espanhola pagou à IP, proprietária do terreno, 18,7 milhões de euros.

“Esperamos que esta crescente manifestação pública de apoio à preservação da antiga estação ferroviária da Boavista, a juntar-se ao pedido do nosso Movimento cívico de que seja criado um espaço verde de tranquilidade nos terrenos da antiga estação, mereçam finalmente a atenção dos nossos decisores políticos, nomeadamente a IP e a CMP, e sejam encetados esforços para reverter o contrato-promessa assinado com a empresa El Corte Inglés, como aliás foi solicitado pela própria CMP – pedido esse que ainda não obteve qualquer resposta conhecida.”

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A carta aberta surge após um incêndio, ocorrido na passada sexta-feira, que consumiu parte do interior e da cobertura do edifício devoluto da antiga estação ferroviária da Boavista, inaugurada em 1875, e sobre o qual a IP já apresentou às autoridades uma queixa-crime contra desconhecidos.

“Lamentamos apenas que esta quebra de silêncio da IP se tenha feito tão tardiamente, e apenas em consequência de um acontecimento desta natureza, e não em resposta às várias tentativas de contacto por parte do movimento, no sentido de conhecer o seu posicionamento para a preservação deste edifício e informar os cidadãos sobre os contornos dos contratos celebrados, e sucessivamente renovados, com a empresa El Corte Inglés ao longo de quase 20 anos, em prejuízo da cidade, que condenaram as instalações e o terreno da antiga estação ao abandono e decadência reiterados”, refere o coletivo em comunicado.

O movimento cívico espera que sejam “encetados todos os esforços para a recuperação e reutilização desta antiga estação ferroviária” e que “rapidamente sejam criadas condições para a abertura destes terrenos públicos aos cidadãos”, indo, assim, ao encontro da petição pública criada e subscrita por mais de 9.630 mil pessoas.

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Na mesma carta, o movimento recorda que enviou há mais de seis meses um pedido formal de classificação da estação como imóvel de interesse municipal, seguindo a recomendação da Direção Geral de Património Cultural (DGPC), ao qual ainda não tiveram uma resposta por parte do município do Porto. “Não é assim verdade, ao contrário do que sugere o presidente da Câmara, que não seja reconhecido interesse patrimonial à antiga estação pela DGPC. Bem pelo contrário, esta entidade considerou que o edifício, não reunindo as condições para receber uma classificação de âmbito nacional, poderia ser merecedor de proteção municipal, e por isso recomendou que o processo fosse analisado nos serviços autárquicos.”

O coletivo considera ainda fundamental que tanto a IP como a CMP “tenham uma comunicação verdadeira e transparente” e defende que o projeto “não pode ser aprovado sem ser submetido previamente a um processo de discussão pública”. “Reclamamos, por isso, o respeito pelo direito à participação e auscultação cidadã no processo de tomada de decisão sobre o destino a dar a este património ferroviário da cidade e do país e aos terrenos públicos que lhe pertencem”, finaliza.