Em março, quando a pandemia de Covid-19 começava a mudar a vida de toda a gente, Ricardo Costa, enfermeiro na Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente (UCIP) do Hospital de Braga, não ficou indiferente à realidade “que até aos dias de hoje nos era desconhecida” e que, de repente, alterou rotinas que eram dadas como garantidas. A partir daí, decidiu aliar a enfermagem à paixão pela fotografia e começou a captar momentos vividos e sentidos pelos profissionais de saúde dos Cuidados Intensivos de Braga durante a pandemia.

Cerca de oito meses depois, o trabalho fotográfico de Ricardo Costa, de 27 anos, pode ser visto na exposição virtual “O que a Lente Não Capta, inaugurada na quarta-feira e disponível até ao final deste mês. No total, são 23 imagens que retratam momentos vividos na unidade onde se encontram os doentes que inspiram maiores cuidados. A iniciativa serve também para homenagear os profissionais de saúde, desde enfermeiros e médicos a assistentes operacionais.

Comecei a fotografar estes momentos na UCIP mais ou menos no início da pandemia. Inicialmente era só para mim, não tinha nenhum objetivo específico, foi de forma espontânea. Entretanto, foram surgindo algumas ideias e as pessoas começaram a perguntar-me se queria fazer alguma coisa com estas fotografias. Fiquei a matutar o assunto em casa, comecei a ver as imagens, a colocá-las lado a lado e pensei que poderia surgir aqui um trabalho não só para mim mas para toda a gente”, explica Ricardo Costa ao Observador.

Com a colaboração do Hospital de Braga, e tentando esquecer o cansaço do trabalho na linha da frente, o enfermeiro aproveitou os dias de folga e os finais de cada turno — “quando o serviço o permitia” — para fotografar tudo o que é vivido nos Cuidados Intensivos. O objetivo, sublinha, é sensibilizar as pessoas para o trabalho dos profissionais de saúde e, ao mesmo tempo, alertar para a importância das medidas de combate à Covid-19. “Não é tanto para as pessoas se meterem na pele dos enfermeiros, mas sim para agradecerem o trabalho ao longo deste ano, que tem sido bastante difícil. O objetivo é tentar perceber o que se passa nesta unidade, aquilo que se vivencia, os sentimentos que se passa”, refere.

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Desde cedo, os colegas “estiveram disponíveis para ajudar” e Ricardo Costa começou a captar vários momentos e cenários da UCIP, desde enfermeiros equipados dos pés à cabeça à parafernália de máquinas na sala e a momentos de apoio e ajuda aos doentes que ali se encontram. “Ainda não tinha conseguido retratar uma realidade assim, nem fotografar o meu próprio trabalho. No fundo, é o que a lente ainda não tinha captado, o que ainda não tinha sido demonstrado”, explica, acrescentando que optou por fotografias a preto e branco “porque tem mais impacto e torna mais real e eterno este momento”.

Juntamente com cada fotografia, há também testemunhos dos profissionais de saúde, em que se descreve os desafios da pandemia Covid-19, mas também as aprendizagens, os sentimentos e os momentos vividos de uma nova realidade que veio alterar a rotina de todos, incluindo de Ricardo.

Inicialmente foi bastante difícil. Ninguém sabia o que fazer nem como se comportar. Tive que me isolar da minha família. Neste momento já temos algumas regras, tentamos sempre estar de máscara, com o distanciamento correto, mas inicialmente foi bastante complicado. Havia medo, ninguém sabia como é que deveria reagir”, descreve o enfermeiro, que trabalha há quatro anos no Hospital de Braga.

A exposição serve também para celebrar o 26.º aniversário da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de Braga e pode ser visitada virtualmente aqui ou na conta de Instagram do projeto.