O início da temporada foi irregular. Mau. Péssimo nos momentos limite. Mas foi também esse caminho que acertou o passo da equipa, pela liderança dos elementos mais experientes. Na altura em que a equipa não podia falhar, até por estar a ser colocada em causa a continuidade de Zinedine Zidane como treinador, o Real Madrid não cedeu. E em versão tripla: ganhou em Sevilha num jogo de sofrimento, passou o B. Mönchengladbach com uma exibição europeia, venceu o dérbi com o Atlético num encontro onde puxou dos galões e foi melhor. Na hora da verdade, os pesos pesados apareceram. E foi isso também que deu outra tranquilidade à própria equipa, como se tinha visto no último jogo com o Athl. Bilbao que se podia ter complicado mas que acabou com mais um triunfo, o quarto seguido esta temporada e terceiro na Liga (um recorde). Também por isso, e em dia de nova jornada com o Eibar, as atenções centraram-se sobretudo na Assembleia Geral, que teve início na manhã deste domingo.

Pontapé na cadeira, ligadura para o chão, mãos na cara: o Atl. Madrid perdeu com o Real mas é da azia de Félix que se fala

Longe das reuniões magnas que se realizam na IFEMA, o Centro de Eventos e Congressos de Madrid, Florentino Pérez dirigiu-se aos associados à distância, falando num palanque colocado no campo utilizado pela equipa de basquetebol de Valdebebas através de videoconferência. E depois de um vídeo marcado pelo impacto da pandemia e pelas personalidades ligadas ao clube que morreram em 2020 (Lorenzo Sanz, Benito, Pérez García ou Antic, entre outros), destacando ainda as conquistas no futebol e no basquetebol, o presidente do Real Madrid fez um discurso muito pragmático em relação ao futuro a curto e médio prazo no período pós-pandemia que, no âmbito do clube, está também a ser marcado pelo forte investimento na remodelação do mítico Santiago Bernabéu.

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“Nada voltará a ser como antes. A pandemia deve fazer-nos mais competitivos. Temos que inovar, temos de ir à procura de novas fórmulas para manter o futebol atrativo. O Real esteve na fundação da FIFA, da Taça dos Clubes Campeões Europeus… O atual modelo necessita de um impulso. Todos pedem uma reforça do atual panorama competitivo mundial, há saturação dos adeptos que são quem mais sofrem e consequências para os jogadores, em forma de lesões. A reforma do futebol não pode esperar, é preciso mudar. Os grandes da Europa têm milhões de adeptos e não podemos virar as costas”, disse, apontando para uma Superliga europeia num modelo com algumas semelhanças ao que já existe na Liga dos Campeões do basquetebol, decidida depois em playoff.

Em paralelo, e mais numa perspetiva interna, Florentino enalteceu os feitos conseguidos e resumiu em números o impacto que a pandemia teve nas contas do clube. “Fizemos uma grande redução de custos perante a quebra nas receitas e queria agradecer aos jogadores da equipa A, B e executivos aceitarem baixar o ordenado. É um momento de austeridade mas também de solidariedade. Vamos seguir a mesma política, mesclando jovens extraordinários e com futuro com jogadores mais experientes, como temos feito. Aplicamos a equação Bernabéu, jovens e veteranos. Essa política funciona. Todos os clubes estão a sofrer e só a nossa estabilidade permitiu enfrentar esta situação que é marcada pela pandemia. Baixámos as receitas de 822 para 715 milhões. Reduzimos custos, iniciámos um plano de poupança de 8% e salvou-se o orçamento. Para 2020/21, esperamos 618 milhões de receitas e perdas de 98 milhões, o que também está influenciado pelas obras no estádio. Fizemos um empréstimo de 525 milhões a 30 anos com um período de carência de 30, a pagar a partir de junho de 2023 e que será liquidado com a receita que a remodelação vai gerar. Também no marketing descemos, claro”, especificou no arranque da reunião.

A reunião magna prosseguiu, com vários associados a fazerem a sua intervenção por vídeo, sendo que na maioria queriam sobretudo dar os parabéns pela capacidade de ajustar a gestão à realidade. Nas respostas, Florentino Pérez voltou a colocar o enfoque nos clubes grandes, agora não na perspetiva direta da Superliga Europeia mas sim do impacto desta crise. “Os clubes pequenos e médios cobrem a 100% ou quase os seus gastos com aquilo que recebem dos direitos televisivos, para os grandes isso só representa 25%, o resto são outras atividades como a bilhética ou o marketing desportivo. É por isso que algo tem de mudar. Os grandes clubes foram os mais prejudicados. Temos de proteger o futebol”, reforçou, assumindo que não queria entrar em mais detalhes sobre os planos em vista. Até lá, o Real Madrid continuará com a equação Bernabéu, jovens e veteranos. E com sucesso.

Bastaram 15 minutos para aquilo que poderia ser um jogo complicado tornar-se fácil e com muita influência dos pesos pesados para esse triunfo. Em particular, e como sempre, de Benzema, aquele jogador que o El Confidencial revelava esta semana que olha para Zidane como uma espécie de irmão mais velho – e que é por isso que tem um rendimento tão grande. Logo aos seis minutos, numa jogada iniciada por Modric com assistência de Rodrygo, o avançado francês inaugurou o marcador; pouco depois, os papéis inverteram-se e foi Benzema a assistir Modric para o 2-0 (13′); e a seguir voltaram a inverter-se mas Benzema não conseguiu marcar após passe de Modric. O Eibar era um mero espectador no meio da entrada arrasadora do Real Madrid, que quis decidir cedo e conseguiu, tendo reduzido com um grande golo de Kike Garcia (28′) que deixou tudo em aberto até ao final, quando Lucas Vázquez, após mais uma assistência de Benzema nos descontos, sentenciar o 3-1 aos 90+2′.