Ponha um alerta na agenda: esta segunda-feira, às 18h37, Júpiter e Saturno vão sobrepor-se no céu e parecer que se fundiram numa super-estrela — a nova “Estrela de Belém”, como lhe têm chamado. Uma aproximação (chamada conjugação) tão grande entre estes dois gigantes gasosos não acontecia desde 1623 e será a maior vista da Terra desde 1226. Outra deste tipo, só em março de 2080.

Vão estar tão próximos no céu que se colocar um dedo mindinho à frente consegue tapar os dois planetas ao mesmo tempo ou, se estiver a observá-los com um telescópio, consegue ter os dois no mesmo campo de visão.

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“[Em 2000,] estes dois planetas estiveram muito perto, ao ponto que conseguíamos pôr um dedo mindinho entre os dois, que é mais ou menos um grau no céu. Desta vez, se pusermos um dedo mindinho, vamos conseguir tapar os dois planetas, o que quer dizer que é mesmo, mesmo, muito próximo”, disse Pedro Garcia, técnico de comunicação do Observatório Astronómico de Santana — Açores (OASA), à Lusa.

Mas antes de continuarmos, um ou dois esclarecimentos, nem Júpiter e Saturno são estrelas (são planetas), nem os dois planetas estão realmente mais próximos (mas parece que sim, quando olhamos para o céu como se fosse a cúpula de um planetário).

O que é claro é que não é um fenómeno que passe despercebido, especialmente por ser tão raro. Em evento tão fora do vulgar — e tão brilhante — que há quem acredite que foi uma conjunção deste tipo que, alegadamente, os reis magos terão usado como guia. No entanto, ainda não foi possível demonstrar que um fenómeno deste tipo tenha acontecido durante esse período da história da humanidade.

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Duas horas depois do pôr-do-sol para ver a “Estrela de Belém”

Vire-se para sudoeste à hora do pôr-do-sol, às 17h18, para observar o fenómeno. Durante duas horas e vinte minutos será possível ver Júpiter e Saturno, sobrepostos, um pouco acima da linha do horizonte — mas o ideal é que não tenha montanhas nem casas à frente. Se não conseguir ver ao vivo, pode sempre tentar seguir o evento através de um canal de astronomia (como este).

Se usarmos o Sol como ponto de referência, Júpiter está a uma distância de 778 milhões de quilómetros da nossa estrela e Saturno está a 1.429 milhões de quilómetros. Portanto, não, não se vão facto aproximar (um deles está duas vezes mais longe da Terra do que o outro), mas a ilusão vai ser essa e vai ser bem real.

O aspeto será o de um ponto super brilhante no céu, com um quinto da largura aparente da Lua (pelo menos, ao olho de quem os vê a partir da Terra). Não que os planetas emitam luz própria (isso é coisa de estrelas), mas refletem a luz do Sol, e como estão mais próximos do que qualquer outra estrela (tirando o Sol) parecem mais brilhantes do que os pequenos pontos cintilantes no céu (esses sim, estrelas).

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A viagem dos dois planetas

Júpiter e Saturno já estão visíveis no céu noturno há vários meses. Na sua trajetória em torno no Sol foram desenhando um percurso no céu noturno: primeiro Saturno estava acima e à esquerda de Júpiter, depois, a partir desta segunda-feira, Saturno vai ultrapassar ficando abaixo e à direita.

Ter os dois planetas gigantes alinhados não é nada de absolutamente raro, acontece de 20 em 20 anos, como refere o site do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL). “No entanto, tal como sucede nos eclipses, só em raras passagens acontece uma ocultação, pois os seus planos orbitais estão ligeiramente inclinados entre si e em relação à Terra.” E, este ano, é uma dessas raras ocasiões.

Porque é que este fenómeno deste ano é tão especial e tão raro? Embora não chegue a haver ocultação, vai ser a passagem mais próxima dos últimos 400 anos, refere o site do OAL.

Este ciclo de conjugações a cada 20 anos — 19,85 anos, para ser mais preciso — acontece porque Júpiter demora 11,86 anos terrestres a completar uma órbita em torno do Sol e Saturno demorar 29,4 anos e, a dada altura, parecem passar um pelo outro no céu.

Maior alinhamento de Júpiter e Saturno desde 1623 visível nos Açores