Dizer que a temporada do Arsenal começou mal já é um eufemismo. Dizer que Mikel Arteta já estaria para lá de despedido se não tivesse sido contratado como parte de um projeto a longo prazo é uma garantia. E dizer que em dezembro um dos big six ingleses já só pode pensar nas taças para salvar a temporada é, sinceramente, uma desilusão. Mas, e mesmo a carregar tudo isto às costas, o discurso de Arteta não amolece.

Na antevisão do jogo com o Manchester City, esta terça-feira e a contar para os quartos de final da Taça da Liga inglesa, o treinador espanhol foi muito duro nas palavras e garantiu que não existe espaço no clube para quem está “a atrasar” todos os outros. “Quando estás nesta situação, podes ser tentado a passar para o outro lado e a começar a dizer: ‘Oh, estamos a marcar autogolos, não conseguimos jogar com 10 jogadores, não temos adeptos e o árbitro tomou estas decisões’. Peço desculpa, mas não precisamos de ninguém assim”, atirou Arteta, acrescentando que quer jogadores “lutadores” e não “vítimas”.

“Há pessoas que são muito contagiosas e que conseguem transmitir um certo nível de energia. Há sempre uns de um lado, alguns do meio e outros que estão completamente de acordo. E depois tens de arrastar o máximo de pessoas que conseguires para o teu lado, para o lado lutador. E aqueles que não estão interessados ou que não conseguem, têm de ficar para trás porque estão a atrasar-te”, terminou Arteta, que apareceu na conferência de imprensa preparado com estatísticas muito específicas para sustentar que o Arsenal tem perdido jogos em que tinha uma percentagem muito baixa de sair derrotado e que, por vezes, os resultados negativos surgem por circunstâncias exteriores à exibição da equipa.

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Nada disto, porém, apagava o facto de o Arsenal ser atualmente o 15.º classificado da Premier League, de ter apenas quatro vitórias em 14 jornadas e de estar uns escassos quatro pontos acima da linha de água. Quatro pontos que, segundo o Daily Telegraph, já colocaram os responsáveis dos gunners a preparar o “cenário do apocalipse” que seria o Arsenal cair para o Championship. De acordo com o jornal inglês, o clube está a negociar com “vários jogadores” a possibilidade de incluir nos contratos uma cláusula que prevê um corte salarial automático de 25% no caso de despromoção. Cláusulas essas que são normais em clubes da Premier League mas nunca nos big six, pelo menos na era moderna.

Era com este “cenário do apocalipse” à perna que o Arsenal recebia esta terça-feira o Manchester City no Emirates, a contar para os quartos de final da Taça da Liga inglesa, num alívio bem recebido pelos gunners do terror que tem sido a Premier League. Depois da derrota contra o Everton no fim de semana, a equipa de Mikel Arteta defrontava um Manchester City que também tem sido pouco regular e que só ganhou um dos últimos três jogos para o campeonato. Ou seja, e apesar da dificuldade sempre inerente à equipa de Guardiola, um adversário que poderia abrir a porta a uma vitória importante do Arsenal numa fase em que todas as alegrias são urgentes.

Dentro do relvado e ainda sem Aubameyang, que está lesionado, o Arsenal começou a perder logo nos primeiros instantes, graças a um golo de Gabriel Jesus (3′). Lacazette ainda empatou na primeira parte, ao passar da meia-hora (31′), mas a entrada demolidora do Manchester City — que tinha os três portugueses, Rúben Dias, Bernardo Silva e João Cancelo, no onze inicial — no segundo tempo acabou com quaisquer esperanças dos gunners: Mahrez fez o segundo da equipa de Guardiola (54′), Phil Foden arrumou com a situação apenas cinco minutos depois (59′) e Laporte ainda aumentou a vantagem (73′).

No final, o Manchester City goleou o Arsenal no Emirates e afastou a equipa de Mikel Arteta da Taça da Liga inglesa, prosseguindo para as meias-finais e deixando o clube londrino com ainda menos um objetivo para uma temporada que já será, com toda a certeza, muito pobre. Arteta não quer vítimas neste Arsenal — mas continua a ser vítima da própria teoria otimista que teima em não acreditar que algo de muito grave se passa.