Luca de Meo, o CEO do Grupo Renault, vai apresentar uma nova estratégia para o conglomerado que dirige dentro de pouco menos de um mês. A revelação está marcada para o próximo dia 14 de Janeiro, altura em que ficaremos a conhecer quais os planos do gestor italiano para fortalecer as cinco marcas do grupo (Renault, Dacia, Renault Samsung Motors, Alpine e Lada) e prosseguir a sua expansão internacional, reforçando a posição do Grupo Renault que, em 2019, empregava mais de 180 mil pessoas e vendeu perto de 3,8 milhões de veículos em 134 países.

O ex-homem forte à frente da Seat está (oficialmente) aos comandos do Grupo Renault desde Julho, pelo que as novidades da estratégia que burilou têm vindo a ser trabalhadas nestes últimos seis meses, período ao longo do qual foram sendo fornecidas “pistas” sobre o que aí vem.

Para começar, sabe-se que de Meo quis rodear-se dos melhores e não hesitou em ir à concorrência caçar talentos. No design, foi buscar dois nomes de peso: o ex-Seat Alejandro Mesonero-Romanos, que foi o grande responsável pelo apelo mais desportivo que os modelos Cupra e Seat passaram a exibir, e Gilles Vidal, que deixou a direcção estilística da Peugeot para se juntar ao team da Renault. Depois, o marketing também teve direito a uma lufada de ar fresco, com a entrada de Arnaud Belloni, um nome muito conhecido na Citroën, ou não tivesse sido ele o director desta área durante vários anos. Na comunicação e em direcções-gerais também houve mexidas em que terá pesado o factor “proximidade”, pois o novo director de Comunicação do Grupo Renault é Christian Stein, o homem que desempenhava essa mesma função na Seat, marca que em França era capitaneada por Sébastien Guigues. Ora, este é o novo homem do leme da Renault Iberia.

Renault à caça de designers. Agora foi à Peugeot

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Quem tem acompanhado o percurso profissional de Luca de Meo sabe que o italiano não é de promover danças de cadeiras nem valsas de talentos, antes preferindo garantir que a orquestra com que trabalha está bem afinada. E a música que Luca de Meo pretende tocar deve fazer-se ouvir para os lados da PSA, pois o próprio CEO do Grupo Renault já deu a entender que pretende seguir a “receita” do português Carlos Tavares.

Isto significa que a Renault, apesar de já estar bem apetrechada com modelos como o Clio, o Captur e o Zoe, os dois primeiros com soluções híbridas que figuram entre as melhores do mercado, vai perseguir um caminho de maior sofisticação. “Gostaria de elevar um pouco a categoria de luxo da Renault, em linha com o que fez a PSA nos últimos cinco anos. Eles tornaram-se muito fortes no segmento C, onde temos tanto volume quanto margens e, quando olhamos para a lucratividade a uma escala global, a do segmento C é três vezes maior do que a do segmento B”, confessou à Automotive News Luca de Meo, não escondendo que, sob a sua batuta, as margens terão prioridade face ao volume.

Se dúvidas existissem quanto ao futuro ângulo de ataque de cada uma das marcas do Grupo Renault, o gestor dissipou-as com uma explicação muito objectiva: “A Dacia deve competir com a Citroën, enquanto a Renault se posiciona contra a Peugeot.”

Significa isto que a marca do losango vai procurar cerrar fileiras no estilo, daí as “novas contratações”, e no requinte a bordo, à semelhança do que a Peugeot tem procurado fazer, para alcançar o estatuto de construtor generalista mais premium. A Dacia, por seu lado, tem revelado um potencial de crescimento tremendo no Velho Continente, o que a chegada dos novos Sandero e Logan deverá impulsionar ainda mais. Porém, não se adivinha como será possível compatibilizar isso com uma concorrência directa com a Citroën. Luca de Meo vai adiantando que o caminho é fazer do construtor romeno uma “marca autónoma e não uma submarca da Renault”. Puxar a Renault para cima e abrir espaço para a afirmação da Dacia poderá significar que, a curto prazo, vão acabar os Dacia com emblema Renault em alguns mercados.

Alpine com prato cheio. Vai correr na F1 e Le Mans

Quanto à Alpine, o futuro passará por reforçar a sua imagem enquanto construtor desportivo do grupo, o que é incompatível com a existência de um único modelo no seu portefólio. A Renault Sport “desaparece” para a Alpine brilhar na categoria rainha do desporto automóvel, incrementando assim a apetência para os futuros lançamentos da marca, onde se inclui um SUV.