Foi o discurso mais longo da história das sete mensagens natalícias partilhadas por Felipe VI, e entre essas 1.697 palavras que Espanha escutou na véspera de Natal, centradas nos danos causados pela pandemia, houve espaço para 87 reservadas a outro tema e outro destinatário, com o eufemismo a dar o tom. Num ano marcado pelos escândalos envolvendo o nome do rei emérito, Juan Carlos, o monarca deixou claro que os princípios morais e éticos “obrigam a todos sem exceções” e “estão acima de qualquer consideração, mesmo das pessoais ou familiares”. Foi a primeira intervenção pública sobre a situação envolvendo Juan Carlos desde que o antigo soberano partiu de Espanha, a 3 de agosto, e se instalou em Abu Dhabi.

Ainda assim Felipe VI, que recordou também que já em 2014, quando subiu ao trono, se referira aos princípios éticos e morais que os cidadãos reclamam da conduta da família real espanhola, foi menos assertivo, lembra o El Pais, do que o próprio pai fora em 2011. Com a família então pressionada pelo envolvimento de Iñaki Urdangarin no caso Nóos, Juan Carlos foi mais perentório: “A justiça é igual é igual para todos”.

Recorde-se que no começo de novembro o Ministério Público espanhol decidiu abrir uma terceira investigação a alegada corrupção que envolve o antigo rei Juan Carlos, que um mês depois apresentou uma proposta para regularizar a sua situação fiscal, face ao uso indevido de cartões de crédito dos quais não é titular.

Escândalos de Juan Carlos. Como é que o rei da democracia caiu em desgraça?

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Sem grandes surpresas, o essencial da intervenção foi dedicado ao sofrimento provocado pela Covid-19, com o rei a convocar um “grande esforço nacional” para superar as consequências. “2020 foi um ano muito duro”, sublinhou, admitindo que o “desânimo e a desconfiança” se apoderem de muitos. O rei enfatizou no entanto que apesar da “situação grave” o futuro deve ser “encarado com determinação”.

Nem o vírus nem a crise económica nos vai quebrar“, afirmou, alertando que os jovens “não podem ser os perdedores desta situação”. “Espanha não pode perder uma geração”, acrescentou, defendendo ainda a Constituição como “fundamento da nossa convivência” e “garantia do nosso modo de entender a vida”.

Felipe VI garantiu ainda que a superação deste cenário anda de mãos dadas com a ciência — de referir que as primeiras vacinas serão administradas este domingo em Espanha — e apelou à “responsabilidade individual”, que “continua a ser imprescindível”.