Não é propriamente uma caminhada que sem cábulas ou cadernos à frente fosse óbvia.E não é porque houve jogos (mais do que um) onde a equipa teve de começar a perder para acordar e ganhar, porque houve jogos onde houve tudo menos boas exibições, porque houve um nulo pelo meio num dos dérbis com menos pontos de interesse dos últimos anos. Óbvia ou não, é uma caminhada assinalável. A melhor até entre todas as equipas da Premier League: desde a derrota em Old Trafford onde o lugar de Ole Gunnar Solskjaer parecia estar em causa, o Manchester United somara seis vitórias e um empate consecutivos mesmo defrontando adversários complicados como Everton, City, Southampton e Leeds. Seguia-se o Leicester, a possibilidade de se isolar no segundo lugar da classificação e essa perspetiva de quase colar no Liverpool tendo ainda um jogo em atraso com o Burnley.

Um Big Mc(Tominay), a receita eficaz para uma Consoada feliz em Old Trafford

Figura do costume? Bruno Fernandes. É certo que McTominay teve o seu momento de glória na goleada frente ao conjunto de Marcelo Bielsa com dois golos nos três primeiros minutos da partida, assim como antes tinha surgido Rashford ou Martial a decidir. Todavia, seja mais ou menos protagonista, o português é sempre protagonista. Até em lances que ficam dias a fio a ser discutidos, nomeadamente o que teve com Matic no último encontro a contar para os quartos da Taça da Liga em que deu um empurrão no antigo médio do Benfica ou o que tivera antes com o Leeds no Campeonato para interromper os festejos de um dos golos para dar indicações e conselhos a Daniel James. E aquele que foi considerado o 21.º melhor de 2020 para o The Guardian teria de novo a palavra.

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“Há dois jogadores que considero insubstituíveis. O Bruno Fernandes é um deles, não podem jogar sem ele. É uma peça fundamental no puzzle. O outro é o Maguire. Sei que muita gente considera que não é o melhor defesa do mundo, não tem sido brilhante desde que foi contratado por 90 milhões de euros, mas tem enorme influência no coração da defesa. O Solskjaer não lhes poderá dar descanso nesta altura porque não se pode dar ao luxo de perder mais nenhum jogo”, resumira o antigo capitão Gary Neville na Sky Sports. “Estou aqui para ajudar a equipa a ser melhor. É claro que os meus números são bons mas é agora que preciso de melhorar. Vai ser cada vez mais difícil, dia a dia, jogo a jogo, porque os adversários vão me conhecendo cada vez melhor. Estou muito feliz com estes números e, obviamente, não é fácil chegar a este ponto com estes números, mas quero fazer melhor e melhor, mais e mais”, comentou o internacional português após o encontro frente ao Leeds.

Seguia-se então o Leicester, conjunto comandado por Brendan Rodgers habituado a fazer bons resultados frente às equipas mais fortes e que tinha vencido na última jornada o Tottenham, em Londres. Um Leicester que, além de ter uma defesa certinha, dá nas vistas com a qualidade que conseguiu juntar num meio-campo que abre depois espaço para os desequilibradores da equipa como Maddison ou Jamie Vardy brilharem na frente. Daí resultou um grande jogo a abrir este Boxing Day, com Bruno Fernandes a ser protagonista com um golo (leva 18 na Premier League desde que fez a estreia no início de fevereiro, frente ao Wolverhampton em Old Trafford), uma assistência (13.ª da época) e duas entradas que podiam também ter valido a expulsão por acumulação de amarelos. No entanto, nova exibição de gala do português acabou por não chegar para evitar o empate após duas vantagens.

Partindo como melhor equipa a jogar como visitante do Campeonato (seis vitórias noutros tantos encontros), o Manchester United não demorou em criar oportunidades para inaugurar o marcador num filme que seria repetido em mais ocasiões: Bruno Fernandes na assistência, Marcus Rashford na finalização. No primeiro capítulo, logo no segundo minuto, o cruzamento da esquerda do português teve um cabeceamento por cima do internacional inglês na área; no segundo, numa jogada que começou na esquerda e onde o médio esticou a perna para dar um ligeiro toque que isolou o avançado, o número 10 rematou colocado sem hipóteses para Kasper Schmeichel (23′). Pelo meio, Vardy ainda teve um lance de algum perigo na área dos red devils mas a maior posse e domínio territorial não tiveram grande resultado prático até à meia hora, altura em que Barnes arriscou a meia distância após perda de bola de Bruno Fernandes e marcou um grande golo sem hipóteses para De Gea (32′). Mas o português não ficou por aí, no bom e no mau, desviando de cabeça muito perto do poste após livre (36′).

No segundo tempo, e mesmo com o jogo já empatado, o Leicester manteve mais posse e domínio no meio-campo adversário mas a principal oportunidade até à fase das decisões voltou a pertencer ao Manchester United, com Kasper Schmeichel a evitar novo golo de Rashford antes de Martial marcar mas em posição irregular que seria sancionada. A entrada de Pogba para o lugar de Daniel James, reforçando o corredor central que deixou de ser dos foxes e colocando Bruno Fernandes mais numa ala com outro espaço para pensar o jogo ofensivo, deu uma outra solidez coletiva aos visitantes. A de Cavani, menos de 20 minutos depois, desbloqueou o que faltava na frente e o golo surgiu de forma natural: o uruguaio saiu da zona entre os centrais para receber a bola, Bruno Fernandes entrou por esse espaço e rematou cruzado na área após assistência do avançado (79′). Os red devils tinham tudo para se isolarem no segundo lugar mas mais uma falha defensiva foi aproveitada da melhor forma por Jamie Vardy, que rematou na área após cruzamento de Ayoze Pérez, viu a bola bater em Tuanzebe e fez o 2-2 (85′).