O ano de 2019 começou da pior forma para Rúben Amorim, então já na versão treinador: após o castigo de um ano aplicado pelo Conselho de Disciplina da Federação, que entretanto foi suspenso pelo Tribunal Arbitral do Desporto, teve de rescindir com o Casa Pia onde era técnico adjunto porque o clube lisboeta “deu por terminado o estágio” que tinha feito em Pina Manique com Carlos Fernandes e Adélio Cândido. Motivo? Como o antigo internacional estava ainda a tirar o nível I de treinador estava proibido de dar indicações a partir do banco, sendo assim punido com uma suspensão de um ano a que se juntou multas pesadíssimas para o Casa Pia como 14 mil euros, seis pontos deduzidos no Campeonato e cinco jogos à porta fechada. E ficou uns meses apenas pelos estudos.

E tu Tiago, ainda te lembras como estavas em março? (a crónica do Belenenses SAD-Sporting)

Tudo apontava para que fosse uma espécie de ano perdido em termos práticos até que um convite de António Salvador mudou o rumo da história e provavelmente da carreira de Rúben Amorim. Em setembro, entrou para a equipa B dos arsenalistas, que estava a disputar o Campeonato de Portugal, ganhou oito dos 11 jogos realizados. “Quando recebi o convite não pensei duas vezes. Conheço o clube, não conhecia estas instalações. Percebi pelo projeto que a ideia é formar homens e jogadores, colocando-os num patamar de equipa principal. Sou mais um para ajudar nesse processo”, disse então. Em dezembro, foi o escolhido para substituir Ricardo Sá Pinto no comando do conjunto principal, sendo alvo de muitas críticas por parte da Associação de Treinadores.

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“A ANTF vem publicamente manifestar o seu repúdio por mais este triste episódio, que mancha a classe dos dirigentes e desprestigia a imagem do futebol português. Uma vergonha! Pautamos a nossa atuação pela defesa da aplicação da lei e dos regulamentos, em nome da verdade desportiva e sempre na defesa dos interesses de todos os treinadores. Lamentamos, por isso, que apesar de termos dos melhores intérpretes e treinadores de futebol do mundo, continuemos a assistir a uma carência tão latente a nível do dirigismo clubístico. Sublinhamos que cada vez mais a melhoria do futebol passa pelo aumento das qualificações profissionais e estas pelo aumento do nível quantitativo e qualitativo da educação e formação profissional”, condenou através de comunicado.

Foi neste contexto que Rúben Amorim iniciou o ano de 2020. No Jamor, frente ao Belenenses SAD, logo com uma histórica goleada por 7-0. Até março, e apesar da eliminação frente ao Rangers na Liga Europa, o treinador ganhou dez dos 13 encontros dirigidos, nunca perdeu no plano interno, conseguiu bater os três “grandes” e conquistou a Taça da Liga frente ao FC Porto na Pedreira. Era o treinador do momento e o Sporting não teve dúvidas em pagar a cláusula de rescisão de dez milhões de euros que tinha, tornando-o um dos técnicos mais caros de sempre numa lista liderada por André Villas-Boas com Brendan Rodgers na segunda posição. “Em Braga o treinador estagiário bateu os recordes todos dos técnicos com IV Nível. Não me preocupo com isso, o que interessa é o próximo jogo. Respeito a opinião de todos mas foco-me no que posso controlar, que é o treino, o jogo seguinte, a observação do adversário, implementar a minha maneira de estar. Dois dias não dá para quase nada, portanto não tenho tempo para pensar na opinião dos outros”, disse na véspera do primeiro jogo pelos leões em Alvalade.

Esse triunfo caseiro frente ao Desp. Aves acabaria por ser o primeiro e último antes da paragem de todas as provas devido à pandemia. No regresso, e ao longo de dez jogos, ganhou apenas metade, terminou na quarta posição após andar várias rondas no terceiro posto mas foi conhecendo o que tinha em mãos, não só no plantel mas também na formação da qual aproveitou seis jovens para a primeira equipa. Agora, terminou o ano civil de novo no Jamor, a ganhar sem golear o Belenenses SAD, e à frente de um Sporting como não se via há duas décadas na frente do Campeonato ao virar a quadra do Natal/Ano Novo com 13 vitórias em 16 jogos realizados em 2020/21, tendo apenas dois empates na Liga (FC Porto e Famalicão) e uma derrota no playoff da Liga Europa (LASK Linz).

“Candidato ao título? É muito cedo e estes jogos dão-nos essa noção. Diante do primeiro classificado todos querem mostrar e garantir pontos. É sempre muito difícil. Mas somos sempre uma equipa solidária. Estrelinha de campeão? Para isso teríamos de ter jogos a sofrer muitas ocasiões e a vencer. Estamos a vencer porque somos melhores e solidários. Estamos sim a usar os 90 minutos para marcar, estamos a trabalhar muito bem mas há muito para melhorar”, comentou o técnico após o encontro, numa conferência de imprensa onde destacou ainda mais uma receção com muitos adeptos leoninos a esperarem a chegada da equipa ao Jamor: “Os atletas começam a ficar habituados, eles agradecem o apoio. Os sportinguistas estão connosco. É sempre bom chegar ao estádio e sentir isso. Daí a nossa força. Muitas vezes estamos a jogar mal mas temos sempre a mesma atitude”.

“O que fica são os três pontos. Foi complicado mas já sabíamos que ia ser assim. O Belenenses adaptou-se melhor ao relvado e nós tivemos dificuldades. Nesse aspeto, o Petit esteve melhor do que eu na preparação porque nós quisemos construir de trás. Mas não é desculpa, pois atuámos no mesmo relvado. Atrás, quando devíamos meter mais na frente e depois tentar uma segunda bola, tentávamos sair logo a jogar, pois estamos trabalhados assim. Devíamos ter feito ao contrário. E depois muitas vezes abusámos também no lançamento longo. Faltou se calhar o treinador preparar melhor o jogo para estas condições, mas os jogadores deram tudo. Já na segunda parte não demos tanto espaço para o Belenenses jogar”, comentou em relação ao triunfo frente aos azuis.