Os trabalhadores da refinaria da Galp em Matosinhos, que deverá encerrar no início do próximo ano, reuniram-se esta tarde em plenário e aprovaram uma moção pela continuidade da Petrogal e pela permanência dos postos de trabalho. Está também prevista, como forma de luta contra o que dizem ser um “crime económico”, uma concentração para o dia 12 de janeiro, com saída do complexo industrial até aos Paços do concelho de Matosinhos. Ainda em janeiro, haverá uma ida a Lisboa.

“Vamos tomar todas as medidas institucionais para denunciar este crime económico que está a ser feito não só a nível regional como nacional. Depois da concentração de trabalhadores até aos Paços do concelho de Matosinhos há também uma concentração em Lisboa, em princípio na porta do primeiro-ministro, que até ao momento está calado e foi a primeira pessoa a saber desta decisão por parte da administração da Galp”, referiu aos jornalistas Telmo Silva,  dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energias e Atividades do Ambiente (Site-Norte).

Este dirigente sindical acusa o Governo de ser “cúmplice da administração da Galp” na decisão de encerrar a refinaria de Matosinhos, acrescentando que a posição da administração da empresa “está a levar à desindustrialização não só de uma região como do país” e que “está a olhar apenas pelos interesses económicos dos acionistas e não pelos interesses do povo português”.

O plenário desta tarde contou com a presença de Isabel Camarinha, secretária-geral da CGTP. Na moção aprovada e entregue à administração da refinaria, a comissão de trabalhadores considera “condenável” a forma como a decisão do encerramento da Petrogal foi tomada, “sem que tenham sido informadas as ORT ou os trabalhadores”, e salienta a importância da refinaria do Porto, como “um dos maiores polos industriais da região Norte” e que recentemente foi alvo de “avultados investimentos com vista à sua modernização”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Questionado sobre as soluções alternativas ao encerramento da refinaria, Telmo Silva garante: “Se se mantiver o complexo como está, com implementação de medidas de rentabilidade do complexo no caminho da neutralidade carbónica e adoção de equipamentos que promovam uma rentabilidade do aparelho refinador, indo no caminho da transição energética, é facilmente assegurada a permanência dos postos de trabalho“. O dirigente do Site-Norte disse ainda que o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, “até hoje não contactou qualquer organização representativa de trabalhadores no sentido de resolver o problema”, bem como a administração da empresa — que “nunca teve uma reunião com os trabalhadores focada neste problema”.

Facilmente conseguimos verificar que, mais uma vez, Portugal, com a parceria da administração da Galp, está a colocar-se na dianteira para a obtenção de fundos europeus, sacrificando a refinaria do Porto em troca da tal bazuca de que tanto falam, que não é para investir mas sim para destruir postos de trabalho e destruir a indústria portuguesa”, acusa ainda Telmo Silva.

Os sindicatos pedem ao Governo para acabar com o “silêncio” e “intervir imediatamente nesta situação”. “Alguém do Governo tem de vir colocar-se ao lado dos trabalhadores da Petrogal e não ao lado da administração da Galp”, sublinha.

A 21 de dezembro, a Galp anunciou o encerramento da atividade de refinação em Matosinhos a partir do próximo ano e a concentração das suas operações de refinação e desenvolvimentos futuros no complexo de Sines. O motivo deste fecho, referiu a empresa em comunicado, é a consequência de dois fatores combinados: a queda da procura provada pela pandemia e a aceleração para a transição energética, o que fará com que o consumo de produtos refinados não volte ao nível pré-Covid com a retoma económica.

Esta terça-feira, o responsável pela refinação da Galp falou durante a reunião da Câmara Municipal de Matosinhos e disse que a decisão quanto ao encerramento “está fechada” e é “irreversível”, garantindo ainda que  “não existe nenhum projeto de refinação de lítio para Matosinhos”, como foi noticiado. Quanto ao futuro dos mais de 400 postos de trabalho afetos à refinaria, a Galp diz que está a analisar caso a caso, de acordo com o perfil de cada trabalhador, e que “as pessoas serão ouvidas e todos serão tratados com o respeito e dignidade exigidos”.

Galp assegura que “não existe nenhum projeto de refinação de lítio para Matosinhos”