O orçamento para 2021 da Junta do Centro Histórico do Porto foi chumbado pela oposição que contesta, entre outras matérias, a venda de edificado para cobrir despesas correntes, acusando o autarca de falta de transparência nas contas. O documento apresentado pelo executivo das listas do Movimento do presidente da Câmara do Porto foi discutido na Assembleia de Freguesia de terça-feira, tendo sido chumbado com seis votos a favor e 12 contra do PSD, PS, CDU, Bloco de Esquerda (BE) e de um elemento da própria bancada do Movimento.

Em comunicado, o PSD indica que votou contra por não concordar com a venda de imóveis em valor superior a 700 mil euros para cobrir as despesas correntes e por não refletir uma boa gestão do executivo” mas, “pelo contrário, agravar o défice crónico que se vem arrastando nas contas”, levando ao atraso no pagamento de salários aos trabalhadores e à suspensão dos apoios sociais.

“O espírito de oposição responsável impõe que se chumbe a proposta de alienação de património imobiliário para tal receita ser gasta, discricionariamente, em ano de eleições autárquicas – a campanha eleitoral deve ser feita com fundos próprios dos partidos e não através de medidas populistas”, assinalam os sociais-democratas.

Pela bancada do PS, Fernando Oliveira salienta que face à ausência de resposta do executivo às questões levantadas, os socialistas não podiam “passar um cheque em branco”, viabilizando um orçamento que não defende os interesses da freguesia.

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Se viabilizássemos este plano e orçamento, isso sim seria uma irresponsabilidade dos partidos da oposição e uma insensibilidade para a população. Era passarmos um cheque em branco para o senhor presidente da junta, ainda por cima em ano de eleições, andar a fazer o que quer e lhe apetece com o dinheiro de todos nós”, disse.

Também Teresa Martins, do BE, se mostrou preocupada com a alienação de património para fazer face a despesas correntes, salientando que esta estratégia do executivo de “depauperar o património” das seis juntas que integram aquela união de freguesias, é “insustentável” a médio prazo. Acresce que o Plano e Orçamento para 2021 continua a perpetuar um conjunto de medidas “assistencialistas”, sem qualquer estratégia definida, inscritas em rubricas “vagas” onde se desconhece como e onde vai ser usado o dinheiro, disse.

Já Carlos Sá, da CDU, defende que a reprovação do documento era a conclusão lógica perante as sucessivas reprovações das contas da freguesia.

As contas de 2018 já tinham sido reprovadas, a revisão para incluir o saldo de gerência de 2019 também foi reprovada três vezes, agora optaram por meter tudo aquilo que queriam fazer neste orçamento de 2021, indo buscar financiamento com a venda de património. Foi a gota de água que fez com que todos os partidos tivessem dito não”, disse, criticando a política “do posso quero e mando” do presidente daquela união de freguesia, António Fonseca.

À Lusa, a eleita pelo Movimento Rui Moreira, Maria de Deus, sublinhou a falta de transparência do orçamento apresentado alicerçado este ano numa nova alienação de património, sobre o qual é “absolutamente contra”. Para Maria de Deus, para além de não exequível, o orçamento para 2021 carece de explicação, sendo que, no seu entender, as contas não batem certo.

Ouvido pela Lusa, António Fonseca lamentou o chumbo do orçamento, acusando a oposição de se mover por questões pessoais. O autarca explicou que a venda de património da junta nada tem a ver com a necessidade de fazer face a despesas correntes, prendendo-se apenas com a degradação do edificado, neste caso de dois imóveis cuja reabilitação custaria, no mínimo, 700/800 mil euros. Para o autarca, estas acusações servem apenas para confundir a opinião política, esquecendo o facto de que quando chegou à junta todos os edifícios estavam penhorados e havia uma dívida crónica que está a ser paga.