O advogado de um dos arguidos condenados no caso que envolveu o luso-chinês Tsz Lun Kok confirmou esta terça-feira à agência Lusa que as autoridades chinesas ameaçaram revogar a sua licença profissional, considerando-se alvo de “perseguição”.

Lu Siwei foi contratado pela família de um dos arguidos do grupo de ativistas de Hong Kong que foram detidos, no ano passado, quando tentavam fugir de lancha para Taiwan, e condenados, na semana passada, por um tribunal na cidade de Shenzhen, sul da China, a penas de prisão entre sete meses e três anos, por cruzamento ilegal da fronteira.

Lu confirmou à Lusa ter recebido uma carta do Departamento de Justiça da província de Sichuan, onde está registado. No documento, foi acusado de “publicar repetidamente linguagem inadequada na internet, prejudicando seriamente” a reputação da profissão e criando um “impacto nefasto” na sociedade. Ele considerou que a ameaça feita pelas autoridades constitui uma “repressão e perseguição inexplicáveis”.

Além de Lu Siwei, a imprensa de Hong Kong avançou que também Ren Quanniu, outro advogado contratado pelos familiares dos ativistas, está a ser sujeito a ameaças semelhantes. Ambos os advogados foram impedidos de representar os seus clientes. Em vez disso, os arguidos foram forçados a confiar em advogados nomeados pelo Governo. Os dois advogados assumiram no passado casos politicamente sensíveis.

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Lu Siwei foi formalmente repreendido, em 2019, após representar um defensor dos direitos humanos que criticou abertamente a liderança chinesa. Ren recentemente representou Zhang Zhan, uma jornalista independente condenada, na semana passada, a quatro anos de prisão por reportar sobre o surto do novo coronavírus na cidade de Wuhan, centro da China.

As autoridades chinesas intimidam frequentemente advogados envolvidos em casos delicados, através da ameaça de revogação das suas licenças profissionais. As ameaças de retirada da licença de advocacia são “obviamente uma vingança” pelo envolvimento no caso dos 12 ativistas de Hong Kong, defendeu a campanha #save12hkyouths (“salvem os 12 jovens de Hong Kong”).

A campanha acusa a China de usar os dois advogados como “um exemplo para ameaçar outros defensores dos direitos humanos” e conseguir que “mais ninguém se atreva a participar em casos sensíveis politicamente”.

Os 12 detidos, a maioria ligados aos protestos anti-governamentais do ano passado, em Hong Kong, estão detidos há cerca de quatro meses em Shenzhen, cidade chinesa adjacente à antiga colónia britânica, por “travessia ilegal” das águas continentais.

O grupo tinha iniciado a viagem com destino a Taiwan, onde se pensa que procuravam asilo, quando a lancha em que seguiam foi intercetada, em 23 de agosto, pela guarda costeira chinesa. A tentativa de fuga terá sido motivada pela imposição por Pequim de uma lei de segurança nacional em Hong Kong. Desde então, vários críticos do Governo fugiram de Hong Kong, muitos para a ilha de Taiwan.

Tsz Lun Kok, que tem nacionalidade portuguesa e chinesa, embora a China não reconheça a dupla nacionalidade, tinha já sido detido em 18 de novembro de 2019, em Hong Kong, e mais tarde libertado, durante o cerco da polícia à Universidade Politécnica daquele território, sendo acusado de motim, por ter participado alegadamente numa manobra para desviar as atenções das forças de segurança com o objetivo de permitir a fuga de estudantes refugiados no interior.