Foi há quase um mês mas podia ter sido ontem porque as recordações continuariam a ser poucas ou nenhumas. O primeiro dérbi de Manchester, onde nenhuma equipa podia perder mas também ninguém fez muito para ganhar, em Old Trafford mas a contar para a Premier League, acabou por ser um dos encontros mais dececionantes da época mas marcou em paralelo uma viragem para momentos em crescendo que fazem com que o United dependa apenas de si para subir à liderança isolada do Campeonato e o City possa ultrapassar o Liverpool caso vença os dois jogos em atraso. Eram esses momentos que voltavam agora a ser postos à prova, num encontro a eliminar e com bilhete para a final da Taça da Liga. E que, tal como em dezembro, voltavam a ter os mesmos protagonistas.

Entre United e City, só se estraga uma casa em Manchester (a crónica do jogo mais esperado que não valeu a espera)

Protagonista 1, Bruno Fernandes. Entre golos e assistências, o médio português está a ter uma influência ainda maior na produção da equipa na presente temporada, sendo já o quarto jogador do mundo com um maior valor estimado pelo Observatório do Futebol (CIES) com uma cotação de 151,1 milhões de euros apenas trás de Marcus Rashford, Erling Haaland e Alexander-Arnold. “O Bruno [Fernandes] ajuda toda a gente, dentro e fora do relvado. Antes dos jogos diz-me o que acha que devo fazer, para onde posso movimentar-me quando ele recebe a bola. E também faz isso com os outros jogadores”, destacou o lateral Wan-Bissaka à United Review. “Os jogadores adoram-no e ele tem uma certa personalidade. Falamos sempre sobre personalidade e como estamos a perdê-la no futebol mas já o vi a protestar com Lindelöf. Ele exige aos jogadores, é um vencedor e isso é contagioso”, salientou o antigo médio dos red devils Paul Ince, à Sky Sports. Só elogios para o internacional que chegou há um ano ao clube.

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Protagonista 2, Kevin de Bruyne. O médio que assumiu a braçadeira de capitão do Manchester City, que fez a 100.ª assistência em jogos pela equipa de Pep Guardiola e que continua a ser a grande referência na formação do técnico espanhol como se viu recentemente tem sido nos últimos dias notícia não por questões desportivas mas pela recusa em renovar contrato com o clube (embora termine em 2023) na primeira abordagem por ter sido confrontado com uma proposta a rondar os atuais 18 milhões de euros por temporada. Razão? De acordo com o The Times, o belga entende que, sendo considerado pelo clube o melhor da Liga, deve receber como tal; segundo o The Athletic, existe vontade de ganhar margem em termos orçamentais para poder oferecer a Messi um contrato parecido com o que tem na Catalunha. De números ou exibições, pouco ou nada. Até ao jogo, claro.

Bastaram apenas 15 minutos para haver mais motivos de interesse e emoção do que em todo o encontro a contar para a Premier League e com os dois médios em destaque: John Stones marcou na própria baliza após defesa de Zack Steffen a remate de Rashford mas com o avançado a rematar em posição irregular (2′); Gündogan fez também o golo na baliza de Henderson após assistência de Phil Foden (5′); Steffen, terceiro guarda-redes lançado depois das infeções de Ederson e Scott Carson, tirou com uma defesa extraordinária o golo a Bruno Fernandes num tiro de fora da área (9′); Kevin de Bruyne arriscou também a meia distância mas a bola bateu no poste (15′). Mesmo sem golos, até porque Foden marcaria após passe do belga mas o lance seria de novo invalidado (24′), Old Trafford recebia um grande jogo de futebol mas onde as decisões ficariam guardadas para a segunda parte.

Aí, a maior qualidade do Manchester City, com e sem bola, acabou por dar uma vitória quase natural aos visitantes, a melhor equipa em campo e com mais duas grandes exibições de João Cancelo e Rúben Dias. John Stones, com a barriga e na sequência de um livre lateral batido por Zinchenko, inaugurou o marcador e quebrou um jejum de 1.162 dias sem fazer qualquer golo (novembro de 2017) com apenas quatro minutos da segunda parte, antes de Fernandinho sentenciar o encontro com um remate colocado de fora da área (83′). E mais do que o apuramento para uma final onde irá voltar a defrontar José Mourinho, agora no Tottenham, Pep Guardiola saiu com uma certeza: quando o City joga o que sabe e como sabe, o United continua uns furos abaixo dos rivais.