É a maior homenagem que um civil pode receber nos Estados Unidos e foi agora parar ao pescoço de um luso-descendente. O congressista republicano Devin Nunes recebeu esta segunda-feira das mãos do presidente cessante Donald Trump a Medalha da Liberdade como reconhecimento do seu “talento incomparável, integridade inatacável e determinação inabalável”.

Segundo o porta-voz da Presidência norte-americana, Judd Deere, esta condecoração que foi entregue à porta fechada é concedida pelo líder dos EUA a cidadãos “que fizeram contribuições especialmente meritórias para a segurança ou os interesses nacionais dos Estados Unidos, para a paz mundial ou para atividades culturais ou outras iniciativas públicas ou privadas significativas”, conta o Diário de Notícias.

Nunes é descendente de imigrantes açorianos que se mudaram para a Califórnia e lá criaram um bem sucedido negócio de laticínios. Depois de vários anos a trabalhar nesse mesmo negócio familiar, Devin acabou por entrar na política e nos últimos tempo foi se tornando um dos republicanos mais próximos de Donald Trump, chegando até a liderar a Comissão dos Serviços Secretos da Câmara dos Representantes, isto durante o período em que se investigava a suposta interferência russa nas eleições presidenciais de 2016.

No comunicado oficial emitido pela Casa Branca lê-se que Devin Nunes, em 2017, “lançou uma investigação contra a administração Obama-Biden e a forma como geriram erradamente a eleição de 2016 — e começou com isso a desenterrar o crime do século”. Lê-se ainda que foi o seu trabalho “corajoso” que ajudou a “reprimir o complô que pretendia depor um presidente dos EUA em funções”. Este trabalho de Devin levou à demissão ou despromoção “de mais de uma dúzia de funcionários do FBI e do Departamento de Justiça norte-americano”.

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“O congressista Nunes perseguiu o embuste da interferência russa nas eleições, correndo um grande risco pessoal e nunca parou de defender a verdade”, sublinha ainda o comunicado da Casa Branca, afirmando que “Devin pagou um preço pela sua coragem”. “Os media difamaram-no e ativistas liberais abriram uma investigação ética frívola e injustificada, arrastando o seu nome na lama por oito longos meses. Duas dúzias de elementos da sua família receberam telefonemas ameaçadores — incluindo a sua avó de 98 anos”, lê-se.

Num tom menos elogioso o editorial do Los Angeles Times de cinco de janeiro, assinado em conjunto por todos os editores do jornal, diz que Devin Nunes nem sequer devia estar perto desta Medalha da Liberdade. “É mais do que irónico que o presidente Trump tenha decidido conceder a Medalha Presidencial da Liberdade a, entre todas as pessoas, um congressista da Califórnia que passou os últimos anos a atacar algumas das liberdades mais fundamentais dos Estados Unidos — a liberdade de expressão e liberdade de imprensa”, lê-se no início do artigo.

O conselho editorial do LA Times diz que não é grande surpresa que Donald Trump tenha gostado tanto de Nunes, isto porque o luso-descendente “abraçou o manual de Trump, atacando pessoas e organizações que se dignaram a criticá-lo e, desde então, apresentou mais de meia dúzia de ações judiciais frívolas para frustrar os seus críticos”, lê-se.

Em causa estão uma série de processos, como aquele que interpôs junto do Twitter, por este permitir que utilizadores gozassem com ele e o repreendessem através de uma conta humorística fictícia de uma vaca sua. Processou ainda o dono do jornal Fresno Bee por publicar histórias durante a campanha de 2018 sobre um polémico iate associado a uma vinícola em que Nunes tinha investido; processou o escritor Ryan Lizza e a gigante editorial Hearst Magazines por causa de um artigo que revelou que a quinta da família Nunes foi mudada para Iowa; e processou ainda a CNN e o Washington Post por terem publicado histórias sobre ele.