Há uma frase que pode resumir o debate entre Marisa Matias e André Ventura — e não foi dita por nenhum dos dois candidatos, mas pela jornalista e moderadora, Clara de Sousa. “Eu vou pedir para desligar os vossos microfones, mas não quero chegar a esse ponto… O tempo terminou, esgotou-se. Temos mesmo de ficar por aqui.”

Revelador. Previsivelmente, o debate começou sobre um tema que tem dominado toda a campanha: o Chega deve ser ilegalizado? Um Presidente da República deve dar posse a um Governo com o Chega? Ventura acusou Marisa de ser antidemocrática, a bloquista manteve-se irredutível: jamais daria posse a um Governo com o Chega. E o que faria se isso significasse o prolongamento de uma crise política? A bloquista não esclareceu. “Não tinha a insanidade antidemocrática de dizer que não daria posse ao Bloco de Esquerda”, devolveu Ventura.

A partir daqui, o debate entrou num vórtice de insultos e mais insultos. Não foi um concurso de gritaria como o debate entre João Ferreira e Ventura, mas não esteve muito longe. Marisa Matias apareceu no debate disposta a desmontar todas as alegadas incongruências de André Ventura, mas, antes de ir para o plano das ideias, apostou em trazer um caso — as buscas da PJ no gabinete do líder do Chega — para o debate. E o foco raramente saiu daí: foi um debate mais pessoal do que político, mais de insultos do que de argumentos, mais de casos do que de ideias.

Se a bloquista falava no passado de Ventura como advogado especializado em política fiscal enquanto diz defender os contribuintes, o líder do Chega falava em Ricardo Robles. Se Marisa falava do caso do assessor fantasma, Ventura devolvia com o caso das moradas falsas. Se Marisa acusava Ventura de ser um “cobarde, troca-tintas e um vigarista”, o líder do Chega dizia que o Bloco de Esquerda “andava a mentir aos portugueses” e devolvia o mimo de “vigarista”.

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Pelo meio, os dois falaram de Saúde (Marisa diz que o Chega quer destruir o SNS; Ventura diz que o BE tem cegueira ideológica) e de Educação (Marisa diz que o Chega quer vender escolas; Ventura diz que o BE quer uma educação trotskista). Mas sem grande profundidade: a acidez entre os dois e o nível de adjetivação já não permitiam mais.

Mesmo quando se centravam no plano das ideias — como é o caso da resposta à crise de refugiados –, descambava rapidamente. Ventura defendeu que o país não “pode aceitar qualquer pessoa que chegue num barco de Marrocos”; Marisa acusava o candidato do Chega de ser “um cobarde”, forte com os fracos e fraco com os fortes.

Estas e outras acusações dominaram todo o frente a frente. “De cada vez que se sente ameaçado, André Ventura vai buscar casos e casinhos e traz tudo para o lamaçal”, indignava-se Marisa Matias. “Os maiores vigaristas estão ali daquele lado. Não vinha debater com o Rato Mickey, Marisa Matias. Sabia que vinha debater comigo. Vinha preparado para acabar consigo”, jurava André Ventura. E foi neste tom que o debate se arrastou até ao fim. Aceso, sim. Esclarecedor? Nem por isso.