Na próxima semana, a partir de quarta-feira, há novo confinamento geral por quinze dias, para já — mas deverá ir além disso. O país vai voltar ao “fique em casa”, com mais uma renovação do estado de emergência mas, desta vez, mais pesado do que os que aconteceram nesta nova leva, que se iniciou em novembro. Será uma fase semelhante à que aconteceu em março e abril do ano passado, mas com escolas abertas. No entanto, com cerca de 10 mil casos diários há quatro dias consecutivos, o Governo pede aos portugueses que confinem já e não esperem pelo decreto da próxima semana.

O fim de semana já tem medidas mais apertadas, com a circulação entre concelhos proibida em todo o território nacional e o recolhimento obrigatório em todos os concelhos que tenham mais de 240 casos por cem mil habitantes, o que só deixa de fora 25 do total. Mas a reunião do Infarmed é só na terça-feira, dia em que será conhecido o novo decreto presidencial do estado de emergência que vai seguir rapidamente para o Parlamento que o aprovará na quarta-feira seguinte —  existe, pelo menos, consenso para isso. A seguir o Governo reúne-se e dita as novas medidas que entram em vigor de imediato. Um espaço para o qual a ministra da Presidência pede já aos portugueses que se protejam.

“Sabendo o número de casos com que estamos, cada um deve tomar medidas desde já. Não é preciso estarmos à espera do decreto para sabermos que devemos proteger-nos e reduzirmos ao máximo os nossos contactos”. A ministra Mariana Vieira da Silva falava no final de dois dias de reuniões dos partidos com o primeiro-ministro, ao final da manhã deste sábado, para anunciar que existe “um grande consenso face à necessidade de tomar novas medidas adicionais” e deixou um aviso para que as pessoas comecem o confinamento o quanto antes.

O que será feito, explicou sem detalhes a ministra, “será muito próximo do que aconteceu em março e abril. Não fecharemos nada que não tivesse sido fechado” nessa altura, disse, exemplificando com a agricultura, a indústria e a distribuição, que se mantiveram sempre em funcionamento. Quanto às lojas e o comércio, a ministra explica que essas decisões ainda estão a ser tomadas.

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Durante a manhã, alguns dos partidos que passaram por São Bento, foram, no entanto, dando sinal da sensação que tinham ficado das reuniões com o primeiro-ministro. O líder do Chega, por exemplo, saiu do encontro convencido que “em relação a restaurantes parece evidente que vão encerrar novamente”. “Sobre o pequeno comércio de rua não alimentar, há dúvidas”. André Ventura defende que se mantenham abertos os cafés e restaurantes.

André Silva, do PAN, foi questionado em concreto sobre o que acontecerá a espetáculos culturais e aos ginásio e disse que “nada está fechado neste momento, o que se perspetiva é que seja semelhante ao que se passou em março e abril, com algumas exceções como nesses setores”. Deixou, assim, a hipótese aberta mas André Ventura, por exemplo, ficou com outra ideia sobre a cultura. “Numa primeira fase voltarão a encerrar”, disse o deputado do Chega que disse, no entanto, que os dentistas, por exemplo, “vão manter-se em funcionamento”, porque a indicação é que “onde não havia protocolos para lidar com a pandemia e agora já há e estão estabilizados, esse sectores vão poder continuar a funcionar”.

Quando ainda há muitas incertezas sobre o que vai ser fechado, há uma certeza: as escolas estarão abertas. A líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, diz que defendeu, na reunião com António Costa e também com a ministra da Saúde, que as escolas continuem abertas “nomeadamente nos níveis de ensino dos mais jovens”, mas alertou para a importância da “comunidade escolar ter testes rápidos generalizados para casos onde há mais riscos”.

No final do segundo dia de reuniões, o primeiro-ministro tweetou para falar em “números preocupantes” — entretanto tinham sido conhecidos os das últimas 24 horas confirmando o que se temia — e afirmava ainda que “todos os esforços são poucos para controlar a pandemia”. Mas mais do que “consenso político” para avançar com nova carga pesa de medidas, António Costa quer também decidir com “base em conhecimento científico”, ou seja, vai querer mesmo esperar mais três dias, pela reunião de terça-feira com os especialistas em saúde pública e os epidemiologistas, no Infarmed.

Por São Bento, este sábado, passou uma preocupação comum: o atraso nos apoios prometidos a empresas e famílias. A explicação da ministra da Presidência do Conselho de Ministros está na “pressão a que os serviços públicos” estão sujeitos quando têm de processar estes apoios extraordinários ao mesmo tempo que processam todos os outros pagamentos que pelos quais são responsáveis.

Governo estuda confinamento por 15 dias com fecho dos restaurantes e reforço dos apoios sociais e às empresas

Este é o ponto em que Catarina Martins mais insiste, apontando  a existência de “apoios de março que ainda não foram pagos e empresas e famílias que já não têm reservas”. É por isso que pede, desta vez, “apoios mais robustos e céleres” e critica o Governo por “não ter usado as verbas disponíveis no Orçamento Suplementar para ajudar as famílias”.

Nos Verdes, esta também foi uma questão referida por Mariana Silva que explicou ter proposto ao Governo que retire peso à famílias no mês de janeiro — em que vão voltar a ficar em casa e com uma vaga de frio que faz adivinhar o disparar dos consumos de energia elétrica. Uma das medidas defendida pela deputada, que diz ter sido recebida com abertura por parte do Governo, foi que a fatura de eletricidade de janeiro deste ano seja igual à do mesmo mês do ano passado, quando ainda não havia confinamento. O restante seria, segundo a deputada, suportado pelo Estado.

E André Ventura apontou os mesmo problemas ao nível dos apoios à economia, apelando a que “sejam menos burocratizados. Se voltar a haver este confinamento, estas empresas e negócios vão precisar desesperadamente de apoios rápidos e de liquidez imediata e o Governo deve fazer melhor do que fez em março”, avisou em declarações aos jornalistas em São Bento.

Da esquerda veio também o apelo a que o SNS possa recorrer aos privados, mas o Governo veio dizer que isso já está possibilitado desde abril e que tem estado a ser usada “nos últimos meses, de forma muito abundante. Muitíssimas instituições privadas e sociais receberam doentes, mas por vezes estamos à procura de cuidados de saúde que não existem nessas instituições”, detalhou. Garante, no entanto, que o Governo “usará todos os recursos à sua disposição”, nas declarações ouvidas pelo Observador com recurso ao som disponibilizado pela Antena 1.