Foi difícil ouvir Vitorino Silva no debate (ou falta dele) que o colocou frente a João Ferreira. Mas ainda mal tinha começado o debate quando o candidato de Rans lançou um alerta sobre a data das eleições presidenciais: “É tarde, mas ainda podemos ir a tempo” de mudar a data. Tino de Rans mostrou-se preocupado com a situação pandémica do país, com o aumento de casos e mortes nos últimos dias e enalteceu o caso dos idosos que, diz, estiveram “presos” nos últimos meses e podem ser agora colocados em perigo.

João Ferreira lembra que a possibilidade deste aumento de casos de contágio em janeiro já “era esperada” e que, ainda assim, ficaram medidas por tomar por parte do Governo. O comunista considera que o país tem de “prosseguir a vida”, ainda que seja necessário um “reforço de medidas de proteção da saúde”.

O eurodeputado aproveitou o momento para dizer que “não é aceitável que os privados escolham à la carte” quando mostram “indisponibilidade em lidar com o que é complicado” e com o que “não tem perspetiva de lucro”. A justificação não chega para o adversário. “As vidas não têm preço” e por isso, Vitorino Silva não tem dúvidas que “se o Estado não consegue salvar vidas” é preciso recorrer ao privado, mesmo que isso implique lucro, apontando-o como “uma coisa natural”. Contudo, uma ressalva de Tino: se é preciso mais gente, tem de se contratar.

O tema do Chega veio também dividir os candidatos. Tino de Rans começa por se afastar da ideia de extremos e compara a possibilidade de dar posse a um Governo do Chega com a carta de condução, explicando que há sinais de estrada e que estes têm de ser cumpridos. Se forem, não há como travar o partido de André Ventura. “O partido Chega tem o alvará, se passar os sinais, o Presidente da República é um polícia. Cumprindo e respeitando os sinais. Agora, se não respeitar os sinais claro que não toma posse. Tem é de respeitar os sinais”, realça o candidato a Belém.

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João Ferreira não se coloca ao lado das outras candidatas da esquerda quanto à ilegalização do partido, mas assegura que “tudo faria para não chegarmos à situação em que um partido dessa natureza tivesse influência governativa”. Como? Fazendo cumprir a Constituição.

O comunista, que não tem qualquer problema que o tratem como o ‘candidato da Constituição’, acredita que partidos como o de André Ventura “instrumentalizam o descontentamento da população”. E, já agora, um recado para Marcelo Rebelo de Sousa: nos Açores teria feito diferente e chamado o partido mais votado a formar Governo, mesmo sem maioria.

Na hora da despedida, Tino de Rans deixa um recado: “Era um grande erro se não tivesse estado nos debates. Era uma pena, foi a prova que ninguém deve ser deixado para trás. O povo também fala e também tem alguma coisa a dizer”, diz, deixando ainda um repto a João Ferreira para que aceite o debate no Porto Canal. Vitorino Silva queixou-se também de não ter sido, ao contrário dos outros candidatos, convidado para a reunião com os especialistas no Infarmed na próxima terça-feira.